O sol da resistênciaANA LÚCIA MEREGEEm um mundo onde o autoritarismoacabou com as liberdades individuais, umajovem descobre que sua mãe é muito maisque apenas uma cidadã inconformada.Ana Lúcia Merege é carioca, pesquisadorade mitologia e contos de fadas. Trabalhacom manuscritos e exposições na BibliotecaNacional. É autora de artigos e contospublicados em sites e coletâneas, do ensaio“Os contos de fadas” e dos romancesjuvenis O caçador, Pão e arte e O castelodas águias, primeiro livro de uma série defantasia publicada pela Editora Draco.Organizou as coletâneas Excalibur (Draco)e, com Ana Cristina Rodrigues, Bestiário eBestiário: outras criaturas (Ornitorrinco).Mais sobre a autora e seu trabalho emestantemagica.blogspot.com ou pelo Twitter@anamerege.88
“I’d rather be myself,” he said.“Myself and nasty. Not somebody else, however jolly.”Aldous Huxley, Brave new world“Querida mãe,Não existe outra maneira de começar esta carta. Lamento agora ter perdido todo esse tempo,mas, como você sempre disse, nunca é tarde demais para mudar de estrada. Acredito mesmo quenão seja, que possa haver uma saída para mim e para outros como eu. Graças a pessoas como você,nós ainda existimos. É o que me faz manter a esperança de dias melhores.O tom destas palavras pode dar a entender que me sinto triste. Na verdade, não me lembro deter sido tão feliz desde os seis anos de idade. Mais precisamente, até o dia daquela reunião com acoordenadora da escola, quando fomos informados de que a direção tinha decidido aderir ao MétodoSinapse. Os alunos “incapazes de acompanhar o aprendizado” tinham trinta dias para se adaptarou não poderiam renovar a matrícula para o ano seguinte. Lembro-me das expressões de surpresae revolta, de alguns pais tentando argumentar em meio ao protesto furioso da maioria, da sua mãoapertando a minha, talvez com mais força que de costume, quando deixamos a escola antes dohorário regular. Eu não fazia ideia de que aquela seria a última vez.Em casa, você tentou me explicar o que tinha acontecido, o que provavelmente iriaacontecer dali em diante, mas naquela idade eu não conseguia entender os detalhes. Só como passar dos anos fui compreender as implicações de sua escolha. Ou melhor, de suas váriasescolhas, começando por aquela que você fez assim que nasci e tive de ser levada aoCentro de Cadastramento do nosso bairro. Lá, juntamente com as vacinas contra duzentase catorze doenças e um chip contendo informações sobre outras tantas, ofereceram-lheuma nova tecnologia: um pequeno dispositivo a ser implantado, de forma indolor, sob omeu couro cabeludo. A finalidade era transmitir pulsos elétricos, também indolores, ao cérebrodos bebês, “fortalecendo assim as sinapses e assegurando um aprendizado rápido e omelhor aproveitamento do potencial de cada futuro cidadão”.Esse era o texto do folheto assinado pela Diretoria Federal de Saúde, o qual tambémcontinha um longo histórico acerca da empresa que fabricava o sensor. Chamava-se, justamente,Sinapse, e trabalhava havia muitas décadas no ramo da inteligência artificial,com aplicações nas áreas da educação e da medicina. Seus dispositivos tinhamsido aprovados pelas federações reguladoras de saúde da maioria dospaíses desenvolvidos, por isso não havia nada a temer. Pelo contrário: prevendouma improvável eventualidade, o implante dava direito à assistênciada Mens Sana, a empresa de saúde associada à Sinapse – equem não iria querer tantas vantagens para o seu bebê?Pois justamente você, uma educadora e agente cultural,você, minha mãe, não quis.Sua negativa foi vista com estranheza, mas nãocontestada. A tecnologia era recente; um implante,mesmo subcutâneo, mesmo feito por especialistas,dava um pouco de receio. Várias famílias recusa-www.revistablackrocket.net -89
- Page 1 and 2:
Dez. 2 0 1 35EdiçãoEspecialTRIPUL
- Page 3 and 4:
Editorial 5Revista de Ficção Cien
- Page 5 and 6:
EDITORIALHá quase seis anos, mais
- Page 7 and 8:
Para Lúcifer K, ou qualquer outro
- Page 9 and 10:
Lúcifer K se ajeitou o melhor que
- Page 11 and 12:
O cruzador negro de formas afiladas
- Page 13 and 14:
am diretamente para o portão de ca
- Page 15 and 16:
cargueiro Vésper. O cruzador aguar
- Page 17 and 18:
1. ÁgapeEu era uma ginoide da Torr
- Page 19 and 20:
— E você nunca mais sairá deste
- Page 21 and 22:
O bebê tinha sido gerado nas incub
- Page 23 and 24:
Não tenho certeza absoluta de que
- Page 25 and 26:
jovem. Até pensei em fazer dela o
- Page 27 and 28:
dito, hesitava em eliminar probios.
- Page 29 and 30:
— Ela é mais preciosa do que voc
- Page 31 and 32:
fenda entrando-lhe no crânio de me
- Page 33 and 34:
mente à vontade com sua nudez e pe
- Page 35 and 36:
Hospital Geral, Nova York23 de julh
- Page 37 and 38: — Que diabos vocês querem fazer
- Page 39 and 40: Base Militar do Exército Vermelho,
- Page 41 and 42: — Não sei do que você está fal
- Page 43 and 44: Os dois andavam pelo longo corredor
- Page 45 and 46: das mãos a faca arremessada por Fr
- Page 47 and 48: Fiquem de olhos abertose ouvidos at
- Page 49 and 50: Ela abriu lentamente os olhos quand
- Page 51 and 52: Forçando-se a se acalmar, voltou-s
- Page 53 and 54: Operação? Que operação?— A ga
- Page 55 and 56: Subitamente, uma forte dor de cabe
- Page 57 and 58: Ela voltou ao mundo da escuridão o
- Page 59 and 60: Num quarto de um pequeno hotel, uma
- Page 61 and 62: Para Lina Ben Thurayya, que era jov
- Page 63 and 64: menos evitaram que a nave se desfiz
- Page 65 and 66: Do lugar onde se encontrava, entre
- Page 67 and 68: Fazendo o mínimo barulho possível
- Page 69 and 70: Devo estar sendo levada para a nave
- Page 71 and 72: Ela se lembrou de Sanchez e de como
- Page 73 and 74: ancas no solo pareciam gotas de tin
- Page 75 and 76: linha reta. Os itianos deviam pensa
- Page 77 and 78: Começou o plantão e logo Tânia f
- Page 79 and 80: — Hein? — disse Gaspar, retirad
- Page 81 and 82: nas pelo toque. Ele poderia ter um
- Page 83 and 84: — Vou te levar de volta — ele f
- Page 85 and 86: Faltavam dois quarteirões, mas ela
- Page 87: www.fb.com/groups/219022784892106ww
- Page 91 and 92: meu quarto —, mas mesmo assim ent
- Page 93 and 94: o implante — que adoraria ter um,
- Page 95 and 96: instruções completas sobre onde i
- Page 97 and 98: 1— Bom dia, Tau 3! Mais um dia gl
- Page 99 and 100: centros de menores e sem tutela era
- Page 101 and 102: Seja lá quem fizera aquilo, fizera
- Page 103 and 104: Não somos terroristas, porra!, ela
- Page 105 and 106: — A pressão está aumentando. N
- Page 107 and 108: mes foi ao armário improvisado no
- Page 109 and 110: — Não... — Disfarçou e foi pa
- Page 111 and 112: — Sei... Segundo seus estudos ela
- Page 113 and 114: Com o coração apertado, ela já v
- Page 115 and 116: “Gentileza gera gente folgada”V
- Page 117 and 118: cer o inimigo? Ninguém me tira da
- Page 119 and 120: tre-lhe apenas aparências e simula
- Page 121 and 122: anteriores à chegada dos invasores
- Page 123 and 124: — Ora, não me digam que vocês n
- Page 125 and 126: O convite para um encontro diplomá
- Page 127 and 128: ENTÃO o editor te manda um e-mail
- Page 129 and 130: Entrevista comMARCELOJACINTORIBEIRO
- Page 131 and 132: Ex libris, de Anne Fadiman: uma col