porque não poderia, e nem desejava, competir com minha Projetista preferida. Por essa razãotambém, coloquei sua coleção de CDs para tocar. Ela tinha um gosto musical muito maissofisticado que o meu.Duas taças de cristal, um vinho tinto e eu aguardávamos pacientemente sua chegada. Pelajanela panorâmica da sala de estar, me distraí por algum tempo vendo a bela vista noturna docentro da cidade. A Torre estava lá. Em constante atividade. Ela nunca parava...— Oh, o que é isso...? Amor! — exclamou Paula, quando finalmente chegou.Ela correu para os meus braços e nos beijamos. Aquilo foi bom demais...! Depois, tomamoso vinho nos entreolhando. Não podíamos sentir o sabor ou o aroma, muito menos sofrer os efeitosalcoólicos da bebida. Podíamos apenas analisar a composição. Mesmo assim, nós nos divertíamosao incluir vinho em nossos “rituais amorosos”.— E então, como foi o trabalho na fronteira? — perguntou-me docemente.— O de sempre — respondi. — Simples, mas demorado. E o seu, como foi?— Hoje? Maravilhoso! Estamos desenhando novas instalações para o setor sul e nos reunimospara ouvir a Música. Foi a mais bela música de todas!— Foi, é? Você e outros Projetistas? Não eram somente ginoides desta vez, ou eram? —perguntei, simulando descontentamento.— Que ciúme é esse? — ela disse sorrindo. Ela gostava desses joguinhos amorosos e, erabem verdade, eu também... — Era uma reunião, não uma orgia!— Mas Sônia estava lá, não? — continuei provocando.— Só porque ela tem um companheiro humano não quer dizer que seja promíscua!— Mas aquilo não é... certo — escapou-me. Lamentei em seguida essa demonstração de preconceito.Paula e Sônia eram grandes amigas e eu poderia estar pondo toda aquela noite romântica a perder,simplesmente com um comentário infeliz. Tinha que encontrar um jeito de contornar a situação.Mas partiu dela a saída elegante.— Por que não para com essa baboseira e me mostra logo até onde essas velas podemnos levar?— O que são aquelas coisas na Torre...?! — perguntou Paula, que já havia se levantado eestava em frente à janela. Seu belo corpo de metal iluminado pela luz da cidade me hipnotizou, aponto de ignorar a preocupação em sua voz. Mas quando me aproximei dela, avistando também osrobôs que escalavam as paredes do complexo, percebi a possível ameaça.— Promecas!— Promecas? O que é isso? — ela perguntou.— Um exército de androides que quer acabar com a vida biológica.— Isso é apenas uma lenda — ela afirmou. — Além do mais aquilo lá fora são robôs, não androides.— Sim, mas esses robôs de transporte não são daqui. Veja, estão adaptados para o deserto.22CARLOS RELVA
Não tenho certeza absoluta de que sejam os promecas, mas na fronteira alguns forasteiros contaramque era assim que destruíam as torres centrais. Nas mochilas dos robôs podem haver explosivos.— Então vamos avisar a segurança! — exclamou Paula, ainda mais preocupada.— Faça isso — pedi a ela, enquanto vestia novamente o macacão negro de Construtor.— E aonde você vai? — perguntou-me.— Vou tentar impedi-los.— Sozinho?!— Pelo menos tentarei atrasá-los.Eu não tinha armas, apenas ferramentas. Procurei algo que pudesse atacá-los, ou, pelo menos,me defender. Lembrei-me da pistola de pregos. Era fácil de transportar e tinha força suficientepara atravessar a pele de metal de um androide.— Tome cuidado — recomendou Paula quando eu já me encontrava na porta.— Aconteça o que acontecer, não saia do apartamento. — Foi tudo o que pude dizer.Era madrugada e as ruas estavam vazias. Enquanto corria em direção da Torre, avistei maisrobôs escalando o complexo. Também notei alguns androides montando guarda. Era a primeiravez que via promecas!Como conseguiram chegar tão facilmente ao centro da cidade? Por que não foram detectadospelos monitores?— Pare! — gritou um deles quando me viu. Estava armado e parecia perigoso.Sem dizer nada, disparei seguidamente, crivando-lhe de pregos. Imediatamente o promecatombou inerte, destruído ou gravemente avariado. Agora tinha certeza de que minha arma improvisadaera eficaz.Eu nunca havia destruído um irmão antes e a sensação não era nada agradável. Mesmo assim,apressei-me em abater os outros promecas. Felizmente, eu tinha mais destreza e familiaridade como uso do meu instrumento de trabalho do que meus inimigos com suas armas de fogo. Facilmentevenci todos, enquanto que estes não conseguiram me atingir em nenhum ponto vital. Nós, Construtores,éramos muito resistentes.Então iniciei a tortuosa subida pela Torre, mesmo sabendo que só conseguiria deter, e issocom muita sorte, o último grupo de robôs. Deduzi que a primeira leva já havia se infiltrado nocomplexo e se estivessem realmente munidos de explosivos, logo os acionariam.Mas será que ninguém viria me ajudar?Ainda usando minha pistola de pregos, pois desistira da ideia de usar as armas dos promecasabatidos, derrubei um robô de transporte. Ele precipitou-se por uns três mil metros, antes de atingiro chão. No impacto sua carga explodiu, certificando-me da ameaça que representavam. Isso foimotivação suficiente para que eu agisse mais rápido, atacando os outros robôs. Com tiros certeiros,derrubei um a um.ÁGAPE, EROS, PHILIA E STORGÉ23
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