se abriu e uma mulher entrou, carregando um frasco de soro. Usava um uniforme branco de enfermeira,era alta e loira, com frios olhos verdes e um sorriso cruel no rosto. A moça no leito dohospital ficou intimidada com a recém-chegada, mas mesmo assim tentou chamar a atenção delapiscando várias vezes.A enfermeira trocou o soro e parou ao lado da cama. Olhou pensativamente para a pacienteenquanto arrumava o travesseiro do leito.— Então você recuperou a consciência, Senhorita Misteriosa — disse numa voz rouca, comum suave sotaque europeu que fez a moça no leito pensar se já a conhecia.Senhorita Misteriosa?— Vou avisar o doutor, mas não creio que vai fazer diferença para você.Por quê?— O acidente te deixou completamente paralisada — a enfermeira informou insensivelmente,sem olhar para a paciente. — Exceto pelos olhos, é claro — acrescentou, como se fosse umdetalhe sem importância.O QUÊ?— Você está completamente incomunicável, sofre do que os médicos chamam de “Síndromedo Aprisionamento” — a enfermeira recitou. — Pena que você não tivesse identificação no momentodo acidente, porque não podemos contatar sua família. — Ela deu de ombros. — Mas talvezisso seja melhor, não é? Assim eles não precisam se preocupar em cuidar de um vegetal — aenfermeira concluiu e se virou para sair do quarto.Que raio de enfermeira é você, sua miserável?, a paciente silenciosa gritou em sua mente.Uma sensação de poder estranhamente familiar surgiu em seu cérebro, como se um gerador derepente fosse ligado na potência máxima e sua energia fosse transmitida num único relâmpago.A enfermeira caiu no chão, como se tivesse sido derrubada com um golpe na cabeça. Algunsminutos depois, a sádica de branco se levantou e olhou para a mulher amnésica, um brilho mortalnos olhos.— Ponto para você, querida — ela disse, com um gesto de atenção. — Mas lembre-se, quemcontrola a agulha controla sua dor. — E então saiu, fechando a porta com um estrondo.O cérebro da paciente estava a mil. Ela tinha feito aquilo? Tinha derrubado a enfermeira?Mas como? Teria alguma coisa a ver com aquela sensação estranhamente familiar, segundos antes?Mentalmente sacudiu a cabeça, já que fisicamente seu corpo não respondia. Antes de tudo,tinha que sair daquele quarto e descobrir quem era de verdade. Por horas, tentou mover nem quefosse seu dedo mindinho, mas não conseguiu nenhum resultado, exceto o suor percorrendo seucorpo cansado.Voltou então para o problema de sua identidade: quem era ela?Fechou os olhos e começou a inspirar e expirar de forma ritmada, para ver se conseguia seconcentrar e recuperar a memória. Horas se passaram sem qualquer resultado. Era como se algoestivesse mantendo suas memórias longe do alcance dela!A frustração cresceu a cada tentativa malsucedida. De repente a sensação voltou ao cérebrodela e o vidro de remédio caiu ao chão.50JOSHUA FALKEN
Forçando-se a se acalmar, voltou-se ao acontecido. Seria muita coincidência que os doiseventos, a sensação familiar e o movimento repentino de algo, não estivessem relacionados. A nãoser que sua mente tivesse movimentado os objetos. Mas isso seria... telecinese.Telecinese? Sou... telecinética?Por alguma razão que não podia explicar, a ideia não lhe pareceu absurda. Assustadorasim, mas não absurda.— Sim, você é telecinética, além possuir outros poderes — uma voz subitamente disse.Forçando os olhos na direção da voz, viu algo que só podia descrever como um fantasma delamesma. A mulher tinha o mesmo rosto e olhos e usava uma longa capa preta, de couro, com umdesenho no colarinho que ela não conseguiu identificar. Parecia que ela tremulava, como se fossea imagem de uma TV mal regulada.Você é... eu?A mulher concordou com a cabeça.Então quem sou eu? O que aconteceu?Sua versão fantasma a olhou tristemente.— Desculpe-me... mas minhas respostas são limitadas. Você precisa se lembrar por si mesma.DIGA-ME QUEM SOU!— Sinto muito, mas não posso. Mas você precisa sair deste quarto, ou não sobreviverá.Mas como?— Você já tem a chave para escapar do Homem da Areia — sua fantasma afirmou, antes dedesaparecer.Homem da Areia?De repente, como se a expressão fosse um gatilho, uma lembrança surgiu.Ela se viu terminando um relatório no micro, rezando para que ele não travasse, quandouma mão tocou seu ombro. Virando-se, viu uma moça de cabelos pretos curtos e olhos azuis inteligentes...num uniforme de policial?— Você já terminou o relatório sobre a batida naquele cassino clandestino? — era uma dasvozes da conversa que tinha ouvido antes.Batida? Sou uma policial? Quem é você?— Só falta uma ultima revisão — respondeu para a recém-chegada, fosse quem fosse. Eracomo se não estivesse se lembrando mas enxergando através dos olhos de alguém. — Dentro deuma hora, estará pronto.— Pode parar com esse trabalho por um momento? O Samuel chamou você para umareunião com o Rogério.Samuel? Rogério?A SÍNDROME DO APRISIONAMENTO E A FÊNIX51
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Não somos terroristas, porra!, ela
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Entrevista comMARCELOJACINTORIBEIRO
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