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Revista_Black_Rocket_Ed5

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instruções completas sobre onde ir, quando ir e o que esperar se eu decidisse me unir ao Sol, aorganização que havia tirado você do país. Se aceitasse a ajuda deles, eu teria de me comprometercom a causa, o combate mundial a governos como o nosso e corporações como a Sinapse. Seriaperigoso, você ponderava; dificilmente haveria volta, mas, à exceção de Max, não havia muitopara o que eu quisesse ou pudesse retornar. A mensagem terminava com uma recomendação decuidado, um beijo e o seu apelido familiar, mas depois vinha um P. S., que eu mal consegui percebere ler antes de levar o papel à boca:Se puder, faça a diferença.Dobrei cuidadosamente o celofane do embrulho enquanto engolia o último bocado. Nãosabia o que pensar, ou melhor, não conseguia refletir como de costume, pois a verdade é que umaideia me ocorrera assim que li aquela frase e se fixara como uma garra em meu cérebro. Tenteiafastá-la, pesar outras possibilidades, mas ela se recusava a ir embora. Era como uma compulsão,cada vez mais forte, controlando minha mente e meus movimentos, e quando dei por mim já estavaobedecendo àquele impulso irresistível.Estava escrevendo.A maior parte dos rótulos que eu traduzia e enviava para as máquinas de impressão eraignorada pelas pessoas que adquiriam os produtos, mas naquela noite eu tinha algo especial: umapomada com hormônios que se destinavam a favorecer a fertilidade. Seria usada por mulheres quedesejavam ser mães, e eu sabia que a maioria delas leria as instruções para uso, por isso foi ali queinseri minha mensagem. Teve de ser bem resumida, mas contei sobre a droga no suplementovitamínico, afirmei que aquilo fazia parte de um plano muito mais amplo e alertei sobre o controleabusivo da Sinapse sobre nossa vida. Sem pausas que pudessem dar lugar ao arrependimento,mandei o texto para a impressora e saí no momento exato em que acabava o turno, deixando que amáquina da portaria escaneasse minha íris pela última vez.O que se seguiu foram os passos descritos no papel comestível. Peguei o metrô transurbanoe desci na última estação; de lá caminhei por meia hora a fim de chegar a uma loja de importadoschamada O Sol da Tailândia. Os donos idosos me reconheceram por meio de uma senha e melevaram para um cômodo nos fundos, onde fiquei até que, de madrugada, o velho me levou decarro até uma pequena pista de decolagem. Um antigo avião do exército me aguardava, pilotadopor um ex-militar de seus cinquenta anos, e agora faz três horas que estou voando rumo a um paísestrangeiro. Por segurança, ele não quer me dizer qual, mas respondeu corretamente às perguntasque você me disse para fazer, por isso estou tranquila. E mais que isso, como afirmei no início...Estou me sentindo feliz.Não sei ao certo o que me espera quando eu desembarcar. Tudo que sei é que não estaremosjuntas, ao menos não ainda. A organização concordou em me ajudar, mas me designou para umgrupo sediado em outro país, e meu contato com você será esporádico. Foi por isso que decidiescrever esta carta, que o piloto diz ter meios de fazer chegar às suas mãos. Através dela digo o quetalvez não possa dizer nos próximos tempos: que sempre me orgulhei de você ser quem é, por tudoo que disse e fez, e agora também posso me orgulhar daquilo que sou. E que darei o melhor demim, não apenas por meu filho, mas por todas as pessoas para as quais um pequeno ato de coragempode representar a diferença.O avião sobrevoa o oceano, um sol brilhante se infiltra pela janela. Em breve o ar da liberdadebeijará meu rosto.E assim, pela segunda vez, você me dará à luz.”O SOL DA RESISTÊNCIA95

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