Do outro lado da elegante mesa de carvalho, o homem magro de cabelos grisalhos examinoucuidadosa e demoradamente a desgastada cabeça de estátua de mármore com a ajuda de uma lupade joalheiro. Quando se deu por satisfeito, pousou a preciosa antiguidade em uma almofadinha develudo e sorriu para Alana, antes de apertar um botão do interfone sobre a mesa. Segundos depoisdois homens com cara de poucos amigos entraram e se posicionaram atrás da cadeira em que Alanaestava sentada.— Muito bem, senhorita, creio que esteja em sérios apuros. Não sou quem pensa, mas umagente federal. O homem que procura está preso por tráfico de antiguidades, o que será tambémseu destino, temo dizer.Presa e levada para um escritório vazio no mesmo prédio, Alana foi deixada numa sala comapenas uma mesa e duas cadeiras por mais de uma hora. Finalmente a porta se abriu e o mesmoagente que a prendera entrou com uma pasta de papel marrom nas mãos. Sentou-se do outro ladoda mesa, pousou a pasta sobre a mesa e cruzou as mãos sobre ela.— Antes que diga qualquer coisa, é preciso que saiba que temos conhecimento de que asenhorita e seu amigo Augustus Fritz procuraram recentemente um russo chamado Nikolai Petrovicha fim de fazerem uma visita clandestina à União Soviética, e que para pagar tal viagem que asenhorita está tentando levantar uma pequena fortuna vendendo aquela antiguidade inestimável nomercado negro. Algo lamentável para uma arqueóloga tão respeitada, devo dizer.— Então você também sabe que meu pai está à beira da morte. Estou fazendo tudo issoapenas para tentar salvá-lo.— E como exatamente a senhorita pretende salvá-lo indo clandestinamente para uma zona deguerra nos confins da União Soviética? Que eu saiba não há nenhum centro de pesquisas médicasem Seberneskaya.Um silêncio sepulcral invadiu a sala de interrogatório, tão denso que quase podia ser sentidono ar, já que Alana não tinha a mínima ideia do que responder.— Veja bem, não temos interesse na senhorita. Sabemos que nunca fez nada ilegal. QueremosAugustus Fritz, uma pessoa mais perigosa e com um passado mais nebuloso do que poderiaimaginar. Numa prisão federal, a senhorita não poderá ajudar seu pai, mas, se colaborar conosco,não apenas poderá fazer isso como também se livrará de acusações muito sérias. Vou dizer o queprecisará fazer; se concordar, poderá sair daqui imediatamente com o dinheiro de que precisa; senão, irá direto para uma prisão federal.Nova York1 o de agosto de 1957Alana pagou metade do valor exigido por Nikolai com o dinheiro que lhe fora entregue peloagente federal, sem que Fritz suspeitasse de nada. Deveriam embarcar em um voo comercial parao Nepal, de onde seriam levados para a remota província russa em um voo clandestino organizadopela quadrilha de Nikolai.Enquanto se arrumavam em suas poltronas para a longa viagem, Alana passou os olhos pelosoutros passageiros tentando inutilmente descobrir quais seriam os agentes federais que os seguiam,como lhe foi deixado bem claro que aconteceria. Odiou-se por não poder contar para Fritz oque acontecera, mas não poderia se arriscar. Não gostava daquilo, mas não havia outra forma detentar salvar seu pai.38CHARLES DIAS
Base Militar do Exército Vermelho, Seberneskaya3 de agosto de 1957O velho bombardeiro precariamente convertido em aeronave de passageiros pousou asperamentena pista da base militar soviética. Quando finalmente parou e desligou os motores, as vintee poucas pessoas começaram a juntar sua bagagem para sair, a maioria trabalhadores civis voltandoda folga mensal.Era de manhã e, apesar do céu azul sem nuvens e do deserto que se estendia em todas asdireções, o vento era gelado. Assim que desceram, um jipe estacionou próximo do avião e imediatamenteAlana e Frritz reconheceram o motorista de cabelo cor de cenoura.— Fizeram boa viagem, camaradas?— Não esperava que você mesmo nos guiasse, Nikolai.— Resolvi vir pessoalmente para usar o restante do pagamento que ainda me devem paraacertar algumas velhas dívidas… e aproveitar o passeio, claro. A não ser que você tenha algumproblema com isso, velho amigo.— Como chegou aqui antes de nós? — perguntou Alana, irritada com a longa e desconfortávelviagem desde o Nepal.— Privilégios de viajar de primeira classe minha cara — respondeu Nikolai, piscando umolho cinicamente.Então um caminhão de combustível estacionado não muito longe explodiu numa enormebola de chamas, dando sinal para que uma tempestade de tiros chovesse sobre a base militar.Imediatamente uma estridente sirene de alarme começou a tocar, enquanto explosões de morteiropipocavam por todos os lados e enchiam o ar de fogo, fumaça e um cheiro enjoativo de pólvoraqueimada.— Malditos rebeldes, tinham de atacar logo agora?! Subam rápido, estão mirando os aviões.Antes que pudessem reagir, um dos projéteis atingiu o avião que os tinha trazido. A onda dechoque da explosão os jogou ao chão. Uma chuva de fragmentos caiu sobre eles. Tiveram de serágeis para subir no jipe enquanto Nikolai manobrava para desviar de um grande pedaço de fuselagemque impedia a passagem. O russo pisou fundo no acelerador, buscando refúgio longe daqueleinferno de explosões e chamas e desviando de soldados que corriam para todos os lados com armasem punho.— Nikolai, você terá de esperar para receber o que lhe devemos. Não temos culpa de nossabagagem ter sido destruída naquele ataque! — avisou Fritz quando pararam em um lugar segurodistante da base russa.— Inacreditável que vocês tenham deixado o dinheiro na bagagem! Isso foi uma das coisasmais idiotas que poderiam ter feito — resmungou o russo, enquanto andava de um lado para outrochutando as pedras que encontrava pelo caminho.— A culpa é sua. Foi você que pediu o restante do pagamento em notas de pequeno valor. Senão fosse isso não teríamos de trazer um pacote de dinheiro que não cabia em bolso algum! —disparou Alana.O russo estava furioso com o que tinha acontecido, mas sabia que não poderia simplesmentedeixar Fritz e Alana no meio do deserto, principalmente porque no fundo gostava daquele homemalegre e divertido.ALANA BLACK E OS DIAMANTES NEGROS39
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