— Ele entrou mestre. É um galpão abandonado, mas por minha experiência posso dizer quehá mais do que apenas o prédio. Ali dentro deve existir um potente sistema de segurança e talvezum subterrâneo, já que a construção não é grande o suficiente para tudo o que ele precisa fazer.— Ele não pode ter mais de um local? — perguntou a voz metálica ao telefone.— Não, senhor. Um homem como ele gosta de praticidade, ter tudo sempre à mão. Não arriscariaprecisar de algo no meio da noite e ter de ir a outro canto buscar. Não... — abriu um sorriso malicioso —, Herwern é inteligente. Sabia que quanto menor o local mais difícil de acreditar que é o certo. É por issoque acho que talvez esse seja um daqueles abrigos nucleares que as pessoas costumavam construirantigamente, enormes no subsolo e com uma pequena casa por cima. Devemos invadir?— Não! Deem mais alguns dias. Vamos deixá-lo acreditar que está livre.A risada de ambos se reuniu enquanto a limusine negra se afastava da rua suja e do portãoenferrujado. O homem de terno desligou o aparelho telefônico, ainda sorrindo. Mal poderia esperaraté ver a cara do velho professor quando estivesse roubando tudo dele.— Arquivo de gravação de Marta Cepo. (Eu ainda não acredito que permiti que fosse colocadoesse nome nela.) Doutor! Estou tentando gravar aqui! — Delina se irritou com a interrupção,que ficou como fundo de seu diário de pesquisas. O homem riu, fazendo-a relaxar. — Continuando.Décimo quinto dia. Marta tem aparência de uma jovem adolescente e seu tamanho é de...Fique em pé, meu bem. Isso, por favor... Ah... Dezesseis centímetros. (E meio! Eu vi.) O.K., Dezesseiscentímetros E MEIO... Feliz agora? – Marta sorria e chacoalhava afirmativamente a cabeça. Aquelemeio centímetro poderia fazer uma diferença gigantesca no fim das contas. Ou assim sua menteadolescente preferia pensar. – Agora será que posso gravar sem ser interrompida? Obrigada. Osexames mostram que suas funções estão perfeitas, seu corpo está se adequando bem às mudançasclimáticas e até o momento tem envelhecido o equivalente a um ano por dia. Ainda não sabemosquando e nem se isso vai parar ou mudar. Só o que sabemos é que o protótipo — a pequena fezuma careta ante esse nome — sente imensas... COSQUINHAAAAAAAS!!!!E desligou o gravador, virando-se para onde estava a garota, fazendo cócegas com a ponta dosdedos. Marta ria e o cientista sorria observando a cena. Era bom ter a sensação de uma família, no fimdas contas. Era uma sensação reconfortante e, tinha de admitir, jamais acreditou que a sentiria um dia.Uma semana se passara desde a última vez que falou com seu empregador, que estava muitoquieto, não tinha procurado por ele e nem tentado segui-lo. Sem dúvida, ele tinha mais cientistastrabalhando em seu projetinho sujo. Talvez o avanço deles tivesse sido mais significativo... Recebiachamadas todas as segundas, quartas e sextas e tinha de encontrar com eles terças, quintas esábados para entrega de materiais e resultados, mas havia já oito dias que não sabia nada dosengravatados. Suspirou aliviado. Talvez realmente não precisassem mais dele. Não seria o culpadoda destruição do mundo, afinal. Permitiu-se, pela primeira vez em quinze longos dias, curtir afamília recém-descoberta. Notou o brilho no olhar da assistente com sua aproximação. Ela erabastante bonita e dedicada. Quando a conheceu era só uma garotinha desajeitada e agora a viacomo uma mulher da ciência. Sentia orgulho de ter participado desse amadurecimento.— Tem algo no meu rosto? — Delina perguntou se limpando, e foi nesse momento que elepercebeu que a estava olhando demais.108TATIANA RUIZ
— Não... — Disfarçou e foi para longe. Não tinha nenhuma janela que desse para a rua, outeria visto o carro preto parado na esquina e deduzido o que os aguardava.— Tudo pronto chefe.— Ótimo. Agora entre lá!Livre-se de tudo que não tiver importância.— E o professor?— Quero apenas os animais, os papéis da pesquisa e a assistente. Todo o resto que não temimportância é seu para fazer o que quiser.A chamada foi desligada pouco tempo depois. Com um sinal, todos os outros carros entraramem formação ao redor do prédio, que era afastado o suficiente para ninguém estranhar o ocorrido enem ouvir os gritos. O homem desceu da limusine e ergueu um dos braços. Estava satisfeito com orumo dos fatos. O braço foi abaixando e os comparsas organizando as armas. A ordem já tinha sidodada, agora só faltava a execução.O estrondo na porta assustou os que comiam tranquilamente em um piquenique improvisadono meio do laboratório, fazendo-os pular.— Mas o que é isso? Este lugar é propriedade privada! — O doutor Herwern protestou, maslevou uma cacetada na cabeça, ficando caído.Delina gritou, mas antes que pudesse fugir levou também uma pancada, desmaiando. Marta,como era pequena, foi capturada logo e jogada dentro de um saco. Os homens vasculharam tudo àprocura de um alçapão ou algo que revelasse uma entrada secreta, coisa que foi logo encontrada.Em poucos minutos o laboratório e o subsolo estavam vazios e os furgões partindo lotados.Quando abriu os olhos, a jovem percebeu que não estava em sua casa. Não fazia ideia de quelugar era aquele.— Ah, a princesinha acordou. — A voz era grave e falhada, como se o esforço em falar fossemuito grande. Marta procurou quem falava e se deparou com um macaco. Pelo menos parecia um, sóque bem menos peludo. — Como vai, vossa alteza? — A ironia em seu tom era quase esmagadora.— Quem é você? Onde estamos? — Sentia-se sufocada. Olhou ao redor com maior atenção.Estava em um quarto sujo e cheirando a mofo, repleto de animais de pequeno e médio porte, cadaum com sua peculiaridade. — E por que está me chamando assim?“Você era a única que podia estar na superfície...”, gesticulou outro macaco. Tinha as patastraseiras atrofiadas e presas a uma espécie de carrinho, que o ajudava a se locomover. “Nós todosficávamos escondidos, onde não pudéssemos reclamar nem nos rebelar, sendo picados e sedados,analisados e tendo todo tipo de fórmula e produto testados em nós... Mas com você eram apenas osexames laboratoriais de rotina... Você é mais como eles que nós.”, continuou. O desprezo transbordavade suas feiçõesA PEQUENA MARTA CEPO109
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Dez. 2 0 1 35EdiçãoEspecialTRIPUL
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