O animal começou a farejá-la, como um cão faria, salivando e grunhindo. Dava medo, masMarta tentava se manter serena e parada. Quem sabe assim a criatura desistisse. Mas antes que essepensamento pudesse se instalar de vez em sua mente, o primeiro ataque veio. A criatura a agarroue jogou-se por cima de seu corpo, grunhindo mais alto e querendo rasgar suas roupas, enquanto elagritava tentando se desvencilhar. Era doloroso demais para Delina assistir aquilo, mas seu algozparecia se deliciar.Nesse momento um dardo tranquilizante pousou certeiro no lombo do bicho, fazendo-o tombarimediatamente ainda mais pesado sobre sua vítima. Hans estranhou e olhou de onde viera a talmunição a tempo de ver um punho voando em sua direção. A origem era o braço do doutor Herwern,que depois de torturar seu antigo aluno — o mesmo que o traíra em busca de fama e fortuna,entregando sua localização — descobriu como encontrar as pessoas mais importantes de sua vida.Marta se contorceu e arrastou o corpo para fora do peso, mas acabou perdendo o equilíbrio ecaindo no chão, uma altura de pouco mais de um metro, mas suficiente para causar dor extrema porcausa de seu tamanho. Com muita dor, tentou se erguer, mas não conseguia mexer as pernas. Seuorganismo se adaptava e regenerava de uma forma absurda, mas a queda havia tirado algo do lugare só pararia de sentir dor quando tudo estivesse como deveria. Delina estava em choque haviaalgum tempo e o cientista tentava livrá-la das cordas quando tudo ocorreu. Não sabia se deixavasua assistente e ia ajudar a pequena, ou o contrário...Em seus segundos de hesitação, algo completamente inesperado aconteceu. Os gritos de dorde Marta tiraram Delina de seu torpor, permitindo-lhe ver uma cena que a acompanharia pela vidatoda. Como Marta não podia andar, a natureza encontrou um novo caminho. A uma velocidadeestonteante, asas cresciam no corpo da menina. Os dedos se alongavam, a pele esticava em umamembrana fina que permitia visualizar suas veias com perfeição, um processo doloroso e queparecia não ter fim.— O que usou para criá-la? — a mulher perguntou, pois realmente não sabia que animaistinham feito parte do processo.— Tudo aquilo que de alguma forma se encaixou... Em algum ponto do desespero e dasnoites sem dormir comecei a brincar de quebra-cabeça com todos os animais dos quais tinha materialgenético... E disso ela surgiu. Como uma espécie de evolução...— A união de todas as coisas do mundo trazendo a harmonia e a evolução... Isso chega a serpoético... — Delina estava devaneando.Precisava tirá-la dali, mas também não poderia sair enquanto não tivesse a certeza de queMarta estava bem, algo que notou não precisar de preocupação extra ao vê-la voando para juntodos dois.— Ei... Como você está? — O tom preocupado voltou à voz da mulher. — Por favor, me digaque não virou um anjo depois daquela queda, pois não sei se suportaria perder você...— Estou bem e acho que pareço mais um morcego... — disse, rindo um pouco. Ainda sesentia dolorida, mas não queria preocupá-los mais. — Temos de ir embora daqui o mais rápidopossível. Vamos...— Não tão depressa... — a voz trevosa de Hans soou. — Vocês acreditam mesmo que podemsimplesmente ir embora com minha riqueza? — Ele apontava uma arma de fogo para o casal. —Venha pra cá, sua vampirinha maldita, e ninguém vai se machucar... Muito.112TATIANA RUIZ
Com o coração apertado, ela já voava de volta, mesmo sob os protestos da mãe, que eramantida firme nos braços de Herwern para evitar fazer alguma bobagem. A garota estava já tãoperto que Hans quase conseguia pegá-la, quando um sem-fim de animais pulou sobre ele.— Mas... O quê? — Marta já não entendia mais nada.— Ele nos trancou, maltratou e queria que morrêssemos. Vimos a porta aberta e foi a chance— disse o macaco com sua voz rouca e pausada. Em nenhum momento passou pela cabeça deMarta que ficaria tão feliz ao vê-lo.— Vocês podem até fugir, mas isso jamais acabará ate que milhares de cópias suas em tamanhoreal humano estejam circulando por aí, Marta Cepo! — O homem gritava tentando se desvencilhardas quimeras. – Sempre haverá alguém atrás de vocês.Marta não queria admitir, mas o que ele disse fazia sentido. Os olhinhos se encheram de águae o queixo tremeu, mas não podia chorar. Tinha de ser forte. Lançou um olhar para os outros, quecompreenderam de imediato suas intenções. No fundo era o que todos queriam. Marta voltou-separa o casal humano que se abraçava, tentando evitar os horrores de ver dezenas de quimerasdevorando um homem vivo.— Melhor sair. Eles vão explodir o local pra que ninguém possa ter acesso à pesquisa. O serhumano ainda não está pronto para isso...Baixou a cabeça enquanto voava na direção da saída, guiando os dois. Assim que os viu forae a uma distância segura, deu meia-volta e se enfiou dentro da sala outra vez, ativando as travas desegurança. Delina foi quem primeiro notou, mas mesmo correndo não conseguiu chegar a tempona porta, dando com ela fechada.— O que você esta fazendo?— Me certificando de algumas coisas...— Saia já daí! Você mesma disse que precisávamos sair, pois eles vão explodir tudo e... —Delina se tocou de que Marta nunca disse que todos precisavam sair. — Sai daí! — começou agritar e bater na porta como louca. Herwern já estava atrás dela, mas vira nos olhos da pequena queela estava decidida e sabia que não havia mais nada a fazer além de chorar a dor da perda que viria.— Ele estava certo. Enquanto eu existir alguém me caçará, ate me encontrar... E não vãodescansar até descobrirem como criar outros. O mundo ainda não está preparado para seres comoeu. Como nós... — indicou os animais a seu redor. Seu microfone estava ligado ao sistema de somdo prédio, o que possibilitava que a ouvissem mesmo de fora da sala. — Cuidem um do outro epreocupem-se com o que realmente importa. Deixem que a vida siga seu próprio curso e lutempara salvar vidas, que é o que tanto gostam. Um dia a ciência e a humanidade estarão em pé deigualdade em evolução... E quando esse dia chegar vocês saberão o que fazer.Marta abriu um sorriso. Os roedores já haviam iniciado o trabalho com os cabos em busca deum curto-circuito e não demorou muito para o local ser dominado por chamas e fumaça. Herwernpuxou Delina para longe, fugindo da explosão que levou tudo pelos ares. Ali, naquele túmulo deescombros, foram descobertos mais tarde inúmeros corpos. Todos carbonizados. Aberrações dosmais variados tipos. Mas nenhum coincidia com a descrição da pequenina... Nenhum sinal de quetivesse existido ou deixado de existir. Sua história virou lenda, passada de geração em geraçãoatravés dos tempos, mostrando que não é necessário ser grande para fazer grandes coisas.A PEQUENA MARTA CEPO113
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