Na metade da descida deixou uma das garrafas vazias de água, para deixar mais óbvia suapresença na caverna. Então tirou a corda da mochila e a lançou em direção à face escarpada dosrochedos. Na terceira tentativa conseguiu laçar a ponta de uma rocha e, balançando-se sobre pedrasque poderiam reduzi-la a guisado, atingiu a parede que levaria ao outro ponto de defesa.Se tudo desse certo, os itianos pensariam que ela não os tinha avistado e que optara pelacaverna. Ela não os conhecia, mas sabia que eram avançados tecnologicamente, agressivos e inteligentes.Já eles apenas sabiam que os humanos até agora eram presas fáceis e, por isso, poderiamcometer o erro de a subestimar.Contava com isso. Se a subestimassem teria a vantagem da surpresa para pegá-los na areiafofa com a pistola. Carina-1469 marcava no céu a metade da sua primeira tarde como presa dosalienígenas. Lina começou a escalar as rochas.Ansiava por vingança.Carina-1469 sumira, sendo substituída por duas pequenas luas, uma avermelhada e outracom tons cinza-azulados. Era madrugada e Lina estava exausta e no limite de suas forças.Tinham deixado claro que estavam querendo capturá-la viva por algum motivo, já que depoisda primeira troca de tiros sua posição ficara revelada.Dois dos itianos foram pegos de surpresa enquanto se preparavam para invadir a caverna,pensando que a encontrariam lá. Jaziam inertes no caminho de areia, derrubados pelos tiros.Eram fisicamente espantosos!Totalmente humanoides, de conformação muito próxima aos seres humanos, porém bemmais altos. Usavam uniformes como uma espécie de macacão escuro integrado aos calçados eluvas, além de capuz. Também uma viseira sobre os olhos de forma que não se podia ver comoeram debaixo das roupas. A boa notícia é que morriam ao serem atingidos, da mesma maneira queos seres humanos. Pelas roupas e pelas atitudes, Lina soube que eram soldados.Com uma velocidade que denotava bastante treinamento, os alienígenas se recuperaram da surpresae se retiraram para um abrigo atrás de algumas pedras altas. Eram dois itianos, dos quatro queformavam a equipe. A partir da descoberta da posição de Lina, mantiveram-se cautelosamente cobertos,fazendo descargas cada vez que ela tentava de alguma maneira se afastar da sua posição. Estava presa.A carga da pistola de energia era suficiente apenas para um tiro agora e Lina imaginava que nãoteria como errar este tiro. Seria dirigido à própria cabeça quando ficasse óbvio que seria capturada.A água já fora consumida em sua totalidade e pouco restava para ela, exceto a esperança deque, mantendo-se viva, ainda pudesse escapar.O procedimento lógico dos inimigos seria o de um deles permanecer no local, impedindo-ade abandonar sua posição, enquanto o outro buscava a nave para alvejá-la com as armas de bordo.Sem dúvida a nave era capaz de destruir do ar todo o afloramento onde Lina se encontrava,reduzindo-a a picadinho, mesmo que fosse difícil manejar e atirar na atmosfera. Apesar disso, otempo havia passado e nada havia acontecido. Era chegada a hora de tentar algo na escuridão; elanão ficaria indefinidamente naquele local.66LEONARDO CARRION
Fazendo o mínimo barulho possível, já que desconhecia a capacidade auditiva ou os equipamentosdos inimigos, Lina arrastou-se como uma cobra pelo chão de pedregulhos afiados, ferindoas mãos sem largar sua arma. Sacudiu uma pedra chata para fora do afloramento, no que esperavaser uma crível representação de sua cabeça. Não houve nenhum tiro e, com as entranhas endurecidaspelo medo, colocou cautelosamente o rosto ao desabrigo, tentando ver a posição dos itianos.Achou que nada se movia no local de onde tinham partido os tiros. Os corpos dos alienígenasmortos ainda permaneciam no local onde foram abatidos, visíveis como sombras sobre a areiaclara. Considerou jogar-se do afloramento para baixo, como se a areia fofa fosse uma piscina.Tentaria usar as armas itianas caídas próximas aos corpos e, acaso a sorte estivesse ao seu lado,obter provisões de água que levavam os soldados mortos.A possibilidade de a queda de oito ou dez metros ser fatal, especialmente se caísse em umlocal onde a camada de areia fofa cobrisse escassamente as pedras pontiagudas da região não erarelevante, uma vez que permanecer naquele lugar era morte certa.Uma hora se passou sem que pudesse localizar qualquer dos atacantes e seus nervos começavama deixá-la cada vez em pior estado. Sem pensar mais, tomou impulso e lançou-se pela bordado afloramento rochoso em direção à areia abaixo.A queda pareceu se dar em câmera lenta. Lina se tornou consciente de tudo que sua visãoabarcava naquele segundo. A luminescência das luas estranhas do planeta, refletindo Carina-1469com sua cor acobreada, a paisagem árida de tons escurecidos do Deserto de Miralejos e, até mesmo,as marcas negras das descargas de energia das pistolas nas pedras, com seu cheiro de ozônio.Caiu sobre a areia como tinha aprendido durante a instrução militar, com as pernas fechadase pés cruzados, deixando-as prontas para se dobrarem e com o corpo criarem uma forma arredondada,chocando com o solo primeiro os pés, lateral da perna e coxa direita, passando o impactopelos quadris e pelas costas para a esquerda em direção ao ombro esquerdo, encostando o queixoao peito. Rolou alguns metros nesta posição ignorando a dor da batida e deixando a força dochoque ser amortecida pelo atrito até que parou, suficientemente inteira, atrás de um dos mortos.Não houve qualquer descarga dos soldados contra ela!Apressou-se em revistar os cadáveres, usando-os como escudos interpostos na direção emque acreditava se encontrassem os outros. Achou finalmente as pistolas de energia e cantis, quecontinham aproximadamente dois litros de líquido cada. Tinha quase certeza de que o conteúdodos cantis seria adequado para humanos também. A vida parecia sorrir-lhe!Sua posição, porém, era altamente vulnerável como tinha sido antes a dos itianos agora mortos.Foi arrastando-se de barriga para baixo em direção a algumas rochas que surgiam da areiaclara mais à frente e colocou-se de costas contra elas. Suspirou, mal acreditando que tivesse sidotão fácil. Os soldados deviam ter abandonado a posição! Incrível !Neste momento ouviu o barulho de um látego, e algo vindo da direita cruzou-lhe à frente emalta velocidade, apertando sua garganta e fazendo-a bater a cabeça contra as pedras. Inutilmentetentou retirar a corda que a sufocava com ambas as mãos, inutilmente. Estava perdida.EL DESERTO E MIRALEJOS67
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