— Oh, céus, como é bom vê-los! Sejam bem-vindos, bem-vindos! Vocês não fazem ideia decomo nós estamos felizes! Eu adoraria abraçá-los, mas não quero ser abusada, sem falar de umacontaminação acidental! Esse é o melhor dia da minha vida, da vida do mundo, da história doplaneta! Nós amamos vocês, amamos de verdade!O embaixador Katel inclinou sua enorme cabeça e, apesar da grande diferença entre as duasespécies, ficou clara a expressão de surpresa em seu rosto. Jackie não sabia se ele ouvira a parte da“contaminação” e decidira guardar essa carta para o futuro. O alienígena seguiu com o roteiro, avoz era baixa e contida, um fiapo de som traduzido pela máquina:— É um prazer termos nosso primeiro contato dessa maneira. Afirmo que sua espécie émuito cordial. Creio que seu governo central recebeu nosso ultimato. Você o representa?— Ah sim, nós recebemos! E nos rendemos, por favor! — O sorriso de Jackie não podia sermaior, ainda mais com a crescente expressão confusa dos alienígenas. O embaixador realmentenão sabia como proceder e acabou seguindo o manual de procedimentos sem perceber o que dizia:— Bem, em nome dos Katel, Soberana do Universo, aceito sua rendição. Ficamos satisfeitoscom o fim das hostilidades entre... — Nesse ponto calou-se, pois percebeu que não houvera hostilidadealguma e seguir o velho roteiro não era necessário. Piscou várias vezes e parou em silêncio,procurando achar as palavras corretas.Jackie não lhe deu um segundo de alívio e continuou o ataque.— Excelente, perfeito! Já podemos receber os suprimentos, a ajuda médica e as outras coisasque pedimos? O plano de evacuação para suas naves, podemos começar quando? Temos poucopara carregar, apenas nossa boca e barriga vazia. Mas não se preocupem; quando estiverem cheiase depois de um bom banho, vamos ser os melhores empregados de todos os tempos, você vão ver!Isso foi mais do que inesperado. Não apenas o embaixador mas também o grupo que o seguiaarregalou os olhos redondos o máximo que conseguiam, numa expressão tipicamente humana deespanto, o que ficou ainda mais claro pelo tom preocupado em sua voz, mesmo através do tradutor:— O que significa isso? Nossas mensagens foram claras, exigindo sua rendição, ou haveriaguerra entre nossos povos. Vocês se renderam, nós vencemos, nós ditamos o que vocês devemfazer, nós vencemos a guerra!Jackie quase, quase mesmo!, sentiu pena do pobre coitado à sua frente. Mas na guerra e noamor tudo é permitido, então continuou a encenação.— Sim, nós entendemos a situação e nos rendemos, com prazer! Inclusive vocês nem precisaramnos atacar, para que isso? Não temos exércitos nem naves nem mesmo armas, nós nos entregamos de bomgrado. Agora é a vez de vocês; como força superior e mais avançada, devem ajudar os derrotados, ou seja,devem nos dar comida, abrigo, roupas, ajuda médica, enfim, devem reconstruir o planeta inteiro!Demorou um longo minuto, exatos sessenta segundos, para que o embaixador conseguisse reagir.O Katel piscou os olhos várias vezes enquanto seus colegas logo atrás explodiram numa cacofonia desons, tão rápidos e confusos que a pobre máquina tradutora desistiu de funcionar. Um rápido gesto calouo grupo de invasores, e o embaixador se elevou, falando lentamente e muito, muito sério:— O quê?Jackie mordeu a língua quando nenhuma outra palavra veio após a pergunta desesperada.Revirou os olhos, colocou a melhor expressão aborrecida de seu arsenal no rosto e disse bemdevagar, como uma mãe falando com uma criança birrenta.122MARCELO JACINTO RIBEIRO
— Ora, não me digam que vocês não seguem o código de honra e as leis universais da conquista!Vamos lá: os Katels entraram no sistema solar e exigiram nossa rendição, certo? Certo. Rendemos-nos,certo? Certo. O planeta inteiro, 2 bilhões de pessoas famintas, sem roupas, doentes, completamenteindefesos. E o que acontece quando uma espécie superior invade e conquista uma inferior?Ela automaticamente, AUTOMATICAMENTE!, está obrigada por sua honra e moralidade a cuidarda espécie inferior! Esse é seu objetivo, não é? Afinal de contas todo mundo sabia que os alienígenasbonzinhos um dia iriam chegar e salvar o planeta. Pois bem, vocês chegaram, nos salvem! Agora!Atrás da pequena ruiva centenas de pessoas encardidas e vestindo farrapos agitaram a cabeça paracima e para baixo com veemência. Várias delas estenderam a mão, esperando ganhar... qualquer coisa.Dessa vez o silêncio foi muito maior. Os Katels não mais piscavam alucinadamente – um sinal degrande nervosismo segundo os brosianos – mas sim balançavam o corpo para frente e para trás, como seorassem. Talvez estivessem mesmo rezando para encontrar uma saída daquele buraco dos infernos.Mais uma vez o embaixador dirigiu a palavras para a pequena mulher, o aparelho tradutortransmitindo até mesmo o choque que sentia.— Não é assim que funciona, não é não! Nós invadimos sistemas inteiros para renovar nossosrecursos, para alimentar nosso povo, e não para salvar o seu! Isso é uma força de invasão eviemos tomar o que precisamos, não dar!Jaqueline o encarou em silêncio, mãos na cintura, expressão séria no rosto. Então começou arir bem baixo, devagar e com gosto. Os Katels inclinaram a cabeça para o lado como cãezinhoscuriosos, completamente confusos.— Sinto muito, meu bem, infelizmente você não pode tomar o que não existe... Décadas atrássofremos uma devastadora guerra biológica e metade do planeta morreu. O maldito vírus destruiutudo pelo caminho como um incêndio e ainda está por aqui, em todos os lugares, hibernando, evoltará à ativa quando menos se espera. Não podemos plantar nada, não podemos abater os animais,não podemos escavar o solo. Sobrevivemos com o que coletamos da natureza e de frutos domar, a única fonte de alimento animal que não foi contaminada. É um milagre estarmos vivos atéhoje, acredite em mim. Mas se vocês querem arriscar a sorte, fiquem à vontade. Tenho uma proposta:que tal usarem sua tecnologia superior para criar um antídoto, que tal? Para mim é o suficiente!Mas o Katel estava se lixando para a proposta humana. Abriu as mãos em leque e as empurrouna direção de Jackie:— O que você disse? Esse planeta está contaminado por um vírus?A pequena ruiva simulou confusão:— Sim, todos nós estamos contaminados, somos hospedeiros do vírus. Esqueceu que não oabracei quando chegou? Não vou contaminar o embaixador dos nossos salvadores, claro que não!Mas fique tranquilo que o último surto ocorreu anos atrás e a mortalidade ficou em vinte e cincopor cento, uma média baixa para o vírus. Sem falar que contamos com sua fisiologia alienígena, oque garante uma proteção natural para vocês, espero... Mas voltando ao assunto, quantas pessoassuas naves podem levar em cada viagem? Já temos uma lista de quem deve embarcar primeiro, osmais fracos e debilitados, e também sobreviventes do último surto, para que possam analisar ovírus e... Ei, aonde estão indo? Ainda não acabamos de conversar!Os Katels provaram que, além de grandes conquistadores especiais, também eram ótimos corredores.A um sinal do embaixador, o grupo se reuniu e em segundos estava de volta à nave, quedecolou mais rápido ainda. Se olharam para o planeta miserável durante a fuga desesperada, ninguémSE NÃO PODE VENCÊ-LOS...123
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