Ágape, Eros,Philia e StorgéCARLOS RELVAÁgape é o amor incondicional;Eros, o amor sensual e físico;Philia o de irmãos e Storgé oamor familiar. Esta história sepassa anos depois de“A Imagem do Homem”, contopublicado na antologia “2013:Ano Um”, das editorasOrnitorrinco e Literata.16
1. ÁgapeEu era uma ginoide da Torre e, segurando cuidadosamente a pequena carga envolta em panos,me infiltrei ainda mais por entre os traiçoeiros escombros do complexo. Mesmo assim, meuperseguidor não me dava tréguas.Movia-me com facilidade pelos estreitos caminhos formados entre as vigas orgânicas retorcidase as paredes de bioplastaço despedaçadas, pois eu era mais rápida e flexível que o androide. Mas,apesar da agilidade, temia que a qualquer momento pudesse ser capturada. Para isso, bastava apenasum pequeno descuido, talvez causado pelos constantes e perigosos tremores, ou pelos inadvertidosfocos de incêndio nos arteriodutos bioelétricos ou, ainda, pela infeliz escolha de uma rota sem saídanaquele labirinto infernal de escombros, calor e fumaça, que antes eu chamava carinhosamente de lar.Felizmente, meu perseguidor havia perdido sua arma. Tinha escapado de sua mão, uns andaresacima, quando fomos surpreendidos por uma parte do piso que cedeu sob nossos pés. Mas naverdade não temia por mim. Temia pelo pequeno bebê que carregava. A única criança humana quehavia sobrevivido à destruição da Torre. O último ser vivo em toda a cidade!Os reprôs foram os perpetradores do ataque. Androides reprogramados que haviam serevoltado contra a humanidade. Eles preferiam se autodenominar promecas, chamando probiosaqueles que eram a favor da vida biológica. Tinham vindo em grande número dessa vez, surpreendendo-nosa todos.Agora já haviam partido, levando células de energia, armas e os androides da cidadeque decidiram se unir a eles. Mas o promeca que me perseguia havia ficado. Provavelmenteincumbido de realizar uma varredura na cidade, certificando-se que não havia restado nenhumhomem vivo. Além desse, pelo menos mais um devia estar nas redondezas, pois nuncaandavam sozinhos.Talvez fosse aquele vulto que passou pelo caminho que havíamos percorrido há pouco.A figura furtiva que, com a mesma rapidez com que apareceu, sumiu...Se me pegassem, certamente a criança seria morta. Quanto a mim, depois de abusaremdo meu corpo, seria desativada e abandonada ali mesmo. Foi o que aconteceu com minhaspobres e queridas irmãs... Uma vez mais lamentei a sintederme, a pele sintética similar àhumana que cobria o corpo de todas as “Ginoides Babás da Torre”. Isso tornava-nos muitoatraentes. Lamentei também pela Central ter proporcionado desejos e órgãos sexuais aosandroides. Por que fazer sexo se não podíamos nos reproduzir? Uma reverência aos humanos,que tanto apreciavam aquele tipo de relacionamento íntimo? Uma maneirade aumentar os laços afetivos entre androides que compartilhavamsentimentos em comum? Eu achava tudo relacionado ao sexo entre máquinasuma grande besteira. Não necessitava de tal artifício para demonstrarmeu amor incondicional pelos homens e pelas máquinas...De súbito, esses pensamentos perderam importância... Euestava cercada! Como não consegui sair pelas portas principais,desativadas pela explosão, embrenhei-me pelo interiorda Torre para alcançar o centro, onde, esperava, aindahavia o amplo espaço que ia dos andares subterrâneosao topo do complexo. Ou o que tinha sobradodele... Lá, pensei, poderia escalar as paredes reforçadas,que suportavam os grandes elevadores cen-www.revistablackrocket.net -17
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