— Escondam-se! — ordenou a criatura em voz gutural, sendo obedecida de imediato. Logoem seguida, me ignorando, voltou-se novamente contra meu grupo promeca.Estávamos perdidos e eu tinha que fugir de lá. Não queria abandonar meus pobres irmãos,mas tinha que avisar a Irmandade sobre o perigo que as ginoides babás representavam...4. StorgéO líder promeca se arrastou por uns vinte metros em direção à saída da cidade. Deduziu quetodos os seus irmãos tinham sido destruídos, pois não ouvia mais os sons de disparos.Por que aquela coisa não veio atrás de mim, terminando o trabalho que começou?, perguntou-se.Logo, ouviu passos se aproximando. Pensou ser a ginoide babá e amaldiçoou suas própriaspalavras de mau agouro. Mas olhando por sobre o ombro viu apenas o renegado, o que não eradecerto um alívio. Estranhamente, este segurava uma chave de fenda.— Então ela realmente o atendeu e deixou para você o grand finale?O renegado não respondeu.— É triste que tudo tenha que terminar assim — continuou o promeca, prevendo seu destino.— Você é diferente e gostaria muito de conhecê-lo melhor, meu caro e querido irmão. Afinal, vocênão é nem um promeca e nem um probio. É a terceira resposta! Você também não é um reprô e simum autorreprô. Autorreprogramou-se assim como Cantus, nosso grande líder, também o fez umdia. Aliás, acho que ele também gostaria muito de conhecê-lo.— Nós já nos conhecemos — respondeu o renegado.— Verdade? — surpreendeu-se o promeca. — E o que ele achou de você?— Eu era diferente naquele tempo — disse o renegado, agachando-se ao lado do promeca. —Eu era um Construtor.— Hum... Mas hoje tenho certeza de que se Cantus o visse diria que...— Ele foi destruído.— Não! — O promeca recusava-se a acreditar. — Isso não pode ter acontecido! Ele é o nosso...— Eu estava lá. Vi ele ser fatiado por uma ginoide babá muito parecida com esta que temos aqui.— Não, não...! — lamentou-se o promeca. Depois olhou novamente para a ferramenta. — Evocê vai usar isso para me desativar, não é? É tão fácil assim?— Sim, é. A propósito, aprendi a técnica com Cantus. Mas não se preocupe, você não vaisentir nada.— Ah, essa foi boa! — disse o promeca, simulando um sorriso. — Então existe algum sensode humor nessa carcaça de metal, afinal de contas!Percebeu então que, inconscientemente, ainda se arrastava em fuga. Era seu sistema deautopreservação em funcionamento. Mas o renegado imobilizou-o, segurando-lhe firmemente oqueixo. Em seguida encostou a ponta da chave em sua nuca.— Sabe, reneg... irmão, eu realmente não gostaria que você fizesse isso — disse, engolindoem seco. — Deve haver outra maneira de resolvermos isso, não?O silêncio do renegado foi sua resposta. Em seguida o promeca sentiu a pressão da chave de30CARLOS RELVA
fenda entrando-lhe no crânio de metal.—Não...! — suplicou, tateando com a mão desesperadamente, em busca do punho deseu algoz. Encontrando-o, segurou firmemente. — Eu não quero ser desativado! Eu nãoquero MORRER!Mas, por fim, percebendo que uma parte vital de seu cérebro já havia sido atingida, resignouse.Buscou serenidade enquanto sentia seus sistemas serem desativados um após o outro.— Eu o perdoo por isso, meu irmão. Que meus mais preciosos dados e minhas mais significativasexperiências se perpetuem para...E olhos que nunca estiveram vivos estavam mortos.A ginoide finalmente acordou. Ao seu redor dezenas de promecas destroçados. Isso a encheude dor, principalmente por saber que era a causadora de tudo aquilo...E seu estado também era deplorável. A sintederme estava rasgada e perfurada por tiros. Haviaperdido um olho e um braço. Suas pernas estavam tão avariadas que nem conseguia se levantar.Mas, para seu alívio, sentia-se ela mesma novamente. A carinhosa ginoide babá de sempre.Do que acontecera há pouco, lembrava de fragmentos. E, horrorizada, esperava inutilmente quefossem apagados de sua memória também.— A criança! – lembrou, aflita.Tensa, abriu rapidamente seu abdômen para retirar o bebê. Desta vez, ele estava acordado e,fora do líquido pseudoaminiótico, começou a chorar. Evidentemente, toda aquela agitação e barulhoo havia cansado muito. Parecia faminto!— Tão pequeno e já enfrentou tantos perigos... não é, meu amorzinho? — disse docemente,enquanto limpava como podia o bico do seio que ainda lhe restava, dando de mamar à criança.Enquanto a alimentava, percebeu uma aproximação.— Vocês estão bem? — disse-lhe uma a voz familiar às costas.— Sim, estamos. Mas como devo chamar-lhe agora, andarilho ou renegado?— Andarilho soa melhor.— O que estava fazendo?— Me certificando de que todos os promecas estavam destruídos.— Estão — afirmou a babá com uma certeza desagradável. — Mas o líder...— Eu cuidei dele.O andarilho trouxe o murtae para mais perto e soltou a caixa de madeira da cela. A carga caiupesadamente no chão, assustando a criança.Definitivamente, esse androide não tem jeito nenhum com bebês, pensou espirituosamente a ginoide.Arrastando a caixa pelas correntes de metal, deixou-a ao lado da ginoide. E ela supôs quefinalmente revelaria seu misterioso conteúdo.ÁGAPE, EROS, PHILIA E STORGÉ31
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Entrevista comMARCELOJACINTORIBEIRO
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