— Sim! — respondi, levantando-me e indo na sua direção. Agradecida, senti uma grandevontade de abraçar meu benfeitor fortemente, mas contive o sentimento. Não sabia como ele interpretariaessa demonstração de afeto.— Então vamos sair daqui — disse.— Nunca pensei que um androide pudesse ser tão facilmente abatido! Onde aprendeu aquilo?— perguntei, apontando para a ferramenta ainda fincada no crânio do promeca.Não respondeu. Não parecia de muitas palavras. Mesmo assim, arrisquei outra pergunta:— Você não é um promeca, é?— Sou apenas um andarilho.Andarilhos estavam se tornando comuns, infelizmente. Eram probios sobreviventes dosataques, que vagavam pelo deserto pois não conseguiam se adaptar à vida em outros lugares.Os androides eram intrinsecamente ligados à sua cidade de origem. Logo, eu sentiria isso napele também.— Onde está o humano? — disse o andarilho. A pergunta me trouxe um breve desconforto.Seu timbre de voz era muito semelhante ao do promeca abatido.— Quando sairmos da Torre, eu lhe mostrarei — respondi, me divertindo em saber quetambém podia ser econômica nas palavras.Voltamos pelo mesmo caminho. As portas principais ainda estavam emperradas e não haviaesperanças de que funcionassem novamente. Mas o andarilho me conduziu à saída por uma rachadurana parede, apenas grande o suficiente para um androide passar por vez. Não a tinha vistoantes, quando fugia desesperadamente do promeca.Era minha primeira vez fora da Torre, e pude observar a verdadeira extensão dos danoscausados pelos promecas. A cidade estava completamente em ruínas! Fogo e fumaça eram vistospor toda parte. As amplas alamedas, antes um primor de harmonia, agora eram um campo decorpos humanos carbonizados e probios destruídos.— Espere — disse ao andarilho. — Um momento, por favor...Já sentia total confiança no androide para o que faria a seguir. Apesar do temperamentoretraído e sisudo do andarilho, já tinha me afeiçoado a ele. Era um defeito das amáveis e generosasginoides babás, eu sabia. Mas como evitaria isso se ele tinha me livrado do perigo não uma, masduas vezes?Com as mãos levantei a sintederme que cobria meu abdômen e este se abriu. O movimentonão surpreendeu o andarilho, o que me desapontou um pouco. Os habitantes da cidade alimentavamuma aura de mistério em relação a nós, mas este androide parecia imune a isso. Será que ele jáhavia estado próximo de uma das minhas irmãs antes?Por fim, do abdômen aberto, tirei cuidadosamente o menino. Sua pele negra estava cobertapor um líquido viscoso e transparente. Era muito pequeno, com apenas algumas semanas de vida.Apesar de toda a agitação por que passara, estava bem e dormia tranquilamente.20CARLOS RELVA
O bebê tinha sido gerado nas incubadoras da Torre. Apesar dos humanos já se reproduziremde forma natural há tempos, a Central não media esforços para perpetuar a espécie humana portodo o planeta e de todas as formas possíveis...Só não contava com o surgimento dos promecas!Enquanto nos afastávamos, pude observar melhor os estragos na Torre. Menos da metade docomplexo ainda se mantinha em pé e os três gigantescos domos negros, que ficavam na partesuperior, presos por braços a um eixo central, haviam tombado até a base da parede circular daTorre. Os domos não se soltaram do eixo, mas o primeiro, a Ecosfera Terrestre, estava destruído,pois recebera todo o impacto da queda. O segundo domo, o Memorial do Conhecimento Humano,parecia intacto, mas seu braço estava rachado e curvado. O terceiro, cuja função desconhecíamos,estava do outro lado da Central, escondido da minha vista.Os domos e a Torre eram muito antigos... Antecediam o surgimento dos androides e dos homens.Havia outros espalhados pelo planeta. Cada um era responsável pelo surgimento de umacidade. Os domos, eu sabia através dos Registros, não haviam sido construídos naquele mundo.Vinham das estrelas! Por um tempo, em órbita, assistiram o trabalho dos nanorrobôs responsáveispela construção das torres e pela semeadura das primeiras algas e microalgas. Estas, incumbidas deiniciar a terraformação e geração de bioenergia.Mais alguns passos e alcançamos o murtae. Nunca havia visto um pessoalmente, mas ospelos longos, lisos e vistosos mostravam que o animal era muito bem tratado. Mesmo assim,isso não o impedia de ter uma aparência horrível! A espécie surgiu após a terraformação eassemelhava-se a uma grande ratazana de longas orelhas. Era usado como montaria e transportede cargas.— Para onde iremos? — perguntei.— Vou deixá-los em 11.5. Provavelmente é o lugar mais seguro.Philia? Eu não tinha tanta certeza de sua segurança. Não era uma cidade muito distante epoderia estar no caminho dos promecas... Mas por que o andarilho mentiria para mim?— E o que tem aí dentro? — não me conteve de curiosidade, perguntando sobre a caixa demadeira fortemente presa à cela do animal. — Ferramentas?— Se necessário, logo você saberá...2. ErosEu era um Construtor de Eros e estava morrendo de saudades de minha companheira.Meu grupo e eu fomos incumbidos de consertar o gerador de bioenergia de uma construçãonos limites da cidade. O serviço levou duas semanas e trabalhamos abaixo da superfície, nas fundaçõesda cidade.Mas quando retornei ao lar, Paula não estava. Provavelmente prolongara o expediente emmais uma das intermináveis reuniões de Projetistas. Odiava aquelas reuniões, mas esta foi bemoportuna, pois deu-me tempo de preparar algo especial para ela.Da entrada do apartamento à porta do quarto, passando pelos degraus da escada, decoreitodo o caminho com delicadas velas ornamentais. Era uma ideia simples, mas causava o efeitoromântico que eu procurava. Minha intenção, claro, não era impressioná-la esteticamente, atéÁGAPE, EROS, PHILIA E STORGÉ21
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