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Adoniran Barbosa e a lírica do “pogréssio”<br />
obrigação, pois sem ele não haveria o progresso da cidade – e<br />
provavelmente ele também não relacionaria com mulheres.<br />
Santos (2015) discorre ainda a respeito da contraposição<br />
de terminologias empregadas por Adoniran. Ele chama atenção<br />
para a utilização de expressões como “conselho” e “sempre<br />
escuitei falar” que trazem uma ideia de preocupação por parte<br />
da mulher, que teria aconselhado o homem a ir trabalhar, e<br />
ainda no sentido do bom senso de que o próprio narrador<br />
reconhece que é preciso trabalhar, pois todos sempre já haviam<br />
lhe falado a respeito. A contraposição reside no fato do<br />
narrador também se colocar na posição de quem diferencia o<br />
“saber fazer” do “dever fazer” (SANTOS, 2015), onde ele sabe<br />
que é preciso trabalhar, pois tanto a mulher lhe aconselhou,<br />
como ele sabe, pelo senso comum, que é necessário trabalhar,<br />
mas aparentemente prefere ignorar, e busca inclusive ajuda<br />
divina, apelando para o fato que se Deus quiser e intervir, ele<br />
não terá que trabalhar. Porém, logo em seguida ele expressa sua<br />
convicção que Deus não irá interferir, “[...] Mas Deus não qué”, e<br />
o “dever fazer” fica para trás. A invocação da figura divina para<br />
que seu querer seja satisfeito funciona como uma “prece às<br />
avessas”, tendo então a ideia que já que não é possível que por<br />
parte dele próprio o trabalho seja evitado, cabe então torcer<br />
para que a figura divina também o queira.<br />
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