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Adoniran Barbosa e a lírica do “pogréssio”<br />
compôs alguns versos carinhosos a respeito do fato – que nunca<br />
foram musicados.<br />
Pincharam a estação no chão (1966)<br />
Agora não preciso mais de condução / Moro e<br />
trabalho aqui mesmo no meu bairro / Jaçanã / Mas<br />
sofri uma grande decepção quando disseram / Vá<br />
lá embaixo ver, tão derrubando a nossa estação /<br />
Fui lá ver se era verdade / E era / Quando cheguei<br />
lá vi que tudo estava no chão / Chorei feito bobo,<br />
senti um calo na oreia / Peguei um tijolo e um<br />
pedaço de teia / Pra guardar de recordação.<br />
Concordando com Medeiros (2011), fica evidente a relação<br />
do narrador com o espaço construído. São traçados laços<br />
afetivos com a estação e nota-se a dor da perda, a ponto dele<br />
duvidar se a notícia que lhe dão é verdadeira, e ele mesmo<br />
precisa ir até o local conferir. Ele ainda faz questão de guardar<br />
um pedaço físico dos restos do edifício, como quem guarda<br />
lembranças de um ente querido. Nota-se também que em<br />
nenhum momento é mencionado o fato da demolição ser<br />
realizada em prol do progresso, e traçando um paralelo como<br />
momentos fúnebres de famílias, é de se esperar que não sejam<br />
feitos planos para o futuro tão logo quanto se dão os enterros,<br />
ou seja, não era de esperar que o progresso tão aclamado por<br />
uns fosse citado nesse momento de despedida do passado.<br />
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