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dissertação parcial r1 11042018 formatacao igor rev02

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Adoniran Barbosa e a lírica do “pogréssio”<br />

compôs alguns versos carinhosos a respeito do fato – que nunca<br />

foram musicados.<br />

Pincharam a estação no chão (1966)<br />

Agora não preciso mais de condução / Moro e<br />

trabalho aqui mesmo no meu bairro / Jaçanã / Mas<br />

sofri uma grande decepção quando disseram / Vá<br />

lá embaixo ver, tão derrubando a nossa estação /<br />

Fui lá ver se era verdade / E era / Quando cheguei<br />

lá vi que tudo estava no chão / Chorei feito bobo,<br />

senti um calo na oreia / Peguei um tijolo e um<br />

pedaço de teia / Pra guardar de recordação.<br />

Concordando com Medeiros (2011), fica evidente a relação<br />

do narrador com o espaço construído. São traçados laços<br />

afetivos com a estação e nota-se a dor da perda, a ponto dele<br />

duvidar se a notícia que lhe dão é verdadeira, e ele mesmo<br />

precisa ir até o local conferir. Ele ainda faz questão de guardar<br />

um pedaço físico dos restos do edifício, como quem guarda<br />

lembranças de um ente querido. Nota-se também que em<br />

nenhum momento é mencionado o fato da demolição ser<br />

realizada em prol do progresso, e traçando um paralelo como<br />

momentos fúnebres de famílias, é de se esperar que não sejam<br />

feitos planos para o futuro tão logo quanto se dão os enterros,<br />

ou seja, não era de esperar que o progresso tão aclamado por<br />

uns fosse citado nesse momento de despedida do passado.<br />

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