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Aprendizagem musical no canto coral - CEART

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(1991) a aprendizagem é mais significativa quando acontece na prática. É a própria prática – a<br />

oportunidade de fazer – ao lado do mais experiente que faz com que o iniciante aprenda.<br />

Estas interações entre os <strong>coral</strong>istas <strong>no</strong>s momentos de ensaio foram observadas <strong>no</strong><br />

decorrer do período em que estivemos em campo. Com o passar do tempo, <strong>no</strong>ssa atenção foi<br />

se direcionando para o relacionamento dos alu<strong>no</strong>s durante os momentos de ensaio do <strong>coral</strong>.<br />

O ensaio começou com um aquecimento, como de costume. O pianista ensi<strong>no</strong>u para<br />

os alu<strong>no</strong>s um Ca<strong>no</strong>n, com letra de aleluia em tonalidade me<strong>no</strong>r, com vários<br />

melismas. Ele ensinava cantando cada trecho e pedindo que os <strong>coral</strong>istas repetissem.<br />

Depois de cantarem umas duas vezes todo o Ca<strong>no</strong>n o grupo foi dividido em duas<br />

partes. De acordo com a disposição dos naipes na sala, sopra<strong>no</strong>s e baixos formavam<br />

o primeiro grupo, que era seguido por contraltos e te<strong>no</strong>res. Percebi que ambos os<br />

grupos apresentavam bastante dificuldade na realização da tarefa. Como não<br />

conseguissem fazer sozinhos, ao longo da música foram se unindo aos colegas.<br />

Percebi algumas duplas, que às vezes até ficavam de costas para a regência, e se<br />

aproximavam mais para se ouvirem melhor. Um ajudava o outro também mostrando<br />

com as mãos o contor<strong>no</strong> melódico da música. Em outros casos, várias pessoas de um<br />

mesmo naipe dirigiam o olhar para um determinado <strong>canto</strong>r. Este dava a impressão<br />

de ser a referência para os outros. Realmente, eles estavam mais seguros e tinham<br />

melhor domínio da melodia.<br />

[...]<br />

O regente trouxe para este ensaio uma <strong>no</strong>va música: “Eu te erguerei”. Primeiro ele<br />

distribuiu a partitura, depois pediu que os alu<strong>no</strong>s acompanhassem enquanto colocou<br />

uma gravação da música. Em seguida, com o auxílio do pianista, passou as vozes de<br />

cada naipe. A música parecia ser conhecida de vários dos alu<strong>no</strong>s. Enquanto passava<br />

as vozes, alguns alu<strong>no</strong>s me chamaram a atenção pela concentração. Mesmo que a<br />

linha melódica tocada <strong>no</strong> momento não fosse a sua, eles estavam com os olhos fixos<br />

na partitura, e às vezes repetiam a sua linha melódica enquanto outros naipes<br />

cantavam.<br />

Quando o regente pediu que todos cantassem, cada um a sua linha melódica, alguns<br />

alu<strong>no</strong>s <strong>no</strong>vamente se destacaram. De onde estava sentada, vi alguns que optaram por<br />

dividir a partitura, e iam cantando juntos, com os dedos indicando a localização da<br />

melodia na partitura. Outros, faziam gestos mostrando o ritmo ou as alturas. Embora<br />

estivessem cantando em um grupo de aproximadamente oitenta pessoas, alguns<br />

pareciam formar duplas, trios ou peque<strong>no</strong>s grupos. Não eram necessárias muitas<br />

palavras para que se entendessem. Apenas com os olhos e a expressão da face,<br />

compartilhavam suas dificuldades, comemoravam o acerto de determinada passagem<br />

ou reconheciam os erros. Tive então a convicção de que as interações entre eles não<br />

se restringiam aos momentos de descontração ou da sala de aula. Antes, eram elas as<br />

responsáveis por fazer dos momentos de ensaio, de apresentações e de convivência<br />

em geral, momentos de aprendizado <strong>musical</strong> (Observação, 19 de maio de 2010).<br />

Os últimos dias em campo reforçaram a importância das interações sociais <strong>no</strong>s<br />

momentos de ensaio como determinantes <strong>no</strong> aprendizado <strong>musical</strong>. Quanto mais tempo<br />

passávamos observando o cotidia<strong>no</strong> dos alu<strong>no</strong>s bem como as relações entre eles na<br />

comunidade de prática <strong>coral</strong>, mais estas interações ganhavam força e expressão. A impressão<br />

que ficava registrada como a mais forte dentre tudo o que tínhamos visto, ouvido e registrado,<br />

era de que, embora as experiências anteriores dos alu<strong>no</strong>s, bem como o ambiente <strong>musical</strong><br />

contribuíssem para que o IAESC fosse um lugar com muita música, as interações entre os<br />

alu<strong>no</strong>s era a forma como a prática <strong>musical</strong> era incentivada, criada e aprendida.<br />

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