Aprendizagem musical no canto coral - CEART
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torna ainda mais extensa se enumerarmos a partir das situações observadas. Contudo, o foco<br />
de <strong>no</strong>ssa atenção não se dirige para “o quê” os alu<strong>no</strong>s aprendem <strong>no</strong> <strong>coral</strong>, mas “como”<br />
aprendem, tendo em vista o papel da interação social neste desenvolvimento.<br />
As atividades cotidianas envolvendo música bem como os momentos de ensaios do<br />
<strong>coral</strong> demonstraram uma constante interação entre os alu<strong>no</strong>s. Esta interação ultrapassava os<br />
limites das conversas paralelas sobre assuntos triviais ou das brincadeiras. Quando<br />
relacionadas à música, as ações estavam voltadas para o “fazer junto”, cantando ou tocando.<br />
Nestas situações, alu<strong>no</strong>s com distintos níveis de desenvolvimento musicais atuavam em<br />
conjunto. Este “fazer música” em grupo proporcionava a troca de experiências, onde, não<br />
necessariamente havia quem soubesse mais ou me<strong>no</strong>s, apenas saberes diferentes. E neste<br />
compartilhamento do que se sabe, acontecia o crescimento, a aprendizagem.<br />
Por outro lado, a interação social contribuiu também incentivando a prática <strong>musical</strong>.<br />
Alguns alu<strong>no</strong>s que chegaram com poucas experiências musicais ou que a princípio diziam não<br />
gostar de cantar decidiam participar do <strong>coral</strong> em busca de socialização, momentos de lazer,<br />
oportunidade de viajar. Embora o incentivo primário não fosse <strong>musical</strong>, a influência do grupo<br />
estimulou e desenvolveu <strong>no</strong> alu<strong>no</strong> o gosto pela prática <strong>musical</strong> <strong>coral</strong>, proporcionando-lhe<br />
oportunidades de aprender e desenvolver-se neste aspecto.<br />
Embora, ao longo da pesquisa, tenhamos encontrado respostas para a forma como a<br />
interação contribui para o desenvolvimento e a aprendizagem <strong>musical</strong> dentro do <strong>coral</strong> jovem,<br />
reconhecemos as limitações desta pesquisa. Consideramos a aprendizagem um processo<br />
complexo e de difícil entendimento. Não foi <strong>no</strong>ssa intenção explicar como acontece este<br />
processo e nem detectar <strong>no</strong>s alu<strong>no</strong>s as diferentes etapas de desenvolvimento <strong>musical</strong> em que<br />
estes possam se encontrar. Antes, <strong>no</strong>s concentramos principalmente <strong>no</strong> desenvolvimento dos<br />
processos de produção e percepção <strong>musical</strong>, deixando à parte outros processos igualmente<br />
importantes como a criação e a representação.<br />
Também estamos cientes da especificidade do contexto estudado, reconhecendo a<br />
dificuldade de generalização do que foi pesquisado. Embora o grupo apresente muitas das<br />
características da juventude em seu envolvimento <strong>musical</strong>, os fatores peculiares, como o fato<br />
de estarem em um ambiente de cunho confessional e em um sistema de internato, conferem ao<br />
contexto uma identidade muito peculiar. É possível que esta identidade lhes confira uma<br />
maior influência das interações sociais do que em outros contextos, uma vez que o círculo de<br />
relacionamentos é restrito aos alu<strong>no</strong>s e funcionários que vivem e trabalham ali.<br />
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