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Jean Piaget no século XXI - Faculdade de Filosofia e Ciências ...

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J E A N P I A G E T N O S É C U L O X X I<br />

Sabemos que, <strong>no</strong> <strong>de</strong>curso do primeiro e <strong>no</strong> início do segundo a<strong>no</strong> <strong>de</strong> vida, a<br />

criança dispõe <strong>de</strong> seus sentidos e da sua motricida<strong>de</strong> graças aos quais ela se adapta ao<br />

seu meio, através das interações que ela estabelece com esse meio. Cada contato com<br />

os objetos e as pessoas recebe <strong>de</strong>la um signifi cado, que ela reconhece através <strong>de</strong> um<br />

contato perceptível todas as vezes que ela se encontra frente aos mesmos objetos ou na<br />

mesma situação frente às mesmas pessoas. Po<strong>de</strong> ser uma memória <strong>de</strong> reconhecimento<br />

com suas signifi cações emocionais, sociais (os interditos), fi siológicas (signifi cações<br />

<strong>de</strong> quente e frio, <strong>de</strong> queimadura, rugosida<strong>de</strong>, etc. etc.). A memória <strong>de</strong>sses contatos,<br />

inscrita <strong>no</strong>s seus esquemas <strong>de</strong> ação, (memória <strong>de</strong> reconhecimento) lhe é restituída na<br />

presença <strong>de</strong>sses contatos. Mas se a ativida<strong>de</strong> só po<strong>de</strong> se exercer na presença do objeto<br />

ou das pessoas em situação real, não há conduta relativa à ausência. Nem tampouco<br />

outra imitação a não ser a imitação imediata em presença do mo<strong>de</strong>lo. Eis porque <strong>no</strong>s<br />

parece justifi cado falar <strong>de</strong> “pensamento em ato”. Entretanto, logo que surge a imitação<br />

diferida, manifesta-se uma função <strong>no</strong>va (“a função simbólica”). Mais uma vez tratase<br />

daquela capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> distinguir, entre os sistemas <strong>de</strong> signifi cação anteriormente<br />

estabelecidos com o objeto, o signifi cante do signifi cado. Essa capacida<strong>de</strong> torna-se,<br />

com o exercício, cada vez maior <strong>no</strong> <strong>de</strong>senrolar do <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Anteriormente, como já dissemos, a ativida<strong>de</strong> perceptiva ligava, <strong>no</strong> primeiro<br />

período <strong>de</strong> sua vida, a criança à coisa, e o signifi cante não se distinguia do signifi cado.<br />

Esta era a razão pela qual os sistemas <strong>de</strong> signifi cações eram imediatamente restituídos<br />

à criança através da memória <strong>de</strong> reconhecimento. Com a função simbólica, a<br />

percepção se faz acompanhar, <strong>de</strong> certa modo, <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> imagens, <strong>de</strong> tal<br />

forma que, através <strong>de</strong>sse sistema, o sujeito, na ausência do objeto ou da coisa, po<strong>de</strong><br />

representá-lo e « vê-lo » mentalmente. Nesse momento a intuição duplica a ativida<strong>de</strong><br />

perceptiva e estabelece então, mentalmente, o contato com o «representante<br />

imagético» da coisa. A ativida<strong>de</strong> perceptiva liga o sujeito àquilo que lhe é exter<strong>no</strong>; a<br />

intuição, às imagens pessoais que ele interiorizou. Essa <strong>no</strong>va capacida<strong>de</strong> se superpõe<br />

à ativida<strong>de</strong> perceptiva e ten<strong>de</strong> a se <strong>de</strong>senvolver, por si mesma, como uma ativida<strong>de</strong><br />

que chamaremos <strong>de</strong> simbólica ou até mesmo <strong>de</strong> imaginária. Mas <strong>de</strong> forma geral a<br />

imagem, não po<strong>de</strong>ndo nutrir-se <strong>de</strong> si mesma, se alimenta sempre a partir do mundo<br />

da experiência. Na criança ela é pessoal, singular, única, mas colorida com emoções e<br />

sentimentos quase incomunicáveis em razão <strong>de</strong>sse caráter único. De qualquer forma,<br />

o símbolo na criança é individual e próximo do mundo exterior e da experiência<br />

concreta, mas ele adquire, com o exercício, capacida<strong>de</strong>s cada vez maiores.<br />

Com o aparecimento da «função simbólica» sobrevém uma <strong>no</strong>tável mudança<br />

nas condutas da criança, que irá utilizar, em suas ativida<strong>de</strong>s, o po<strong>de</strong>r das imagens<br />

que ela po<strong>de</strong> agora traduzir em atos <strong>no</strong>s seus jogos, nas suas evocações que irão, daí<br />

por diante, assumir a forma <strong>de</strong> jogo simbólico, <strong>de</strong> jogo <strong>de</strong> faz <strong>de</strong> conta, <strong>de</strong> mímica,<br />

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