Jean Piaget no século XXI - Faculdade de Filosofia e Ciências ...
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J E A N P I A G E T N O S É C U L O X X I<br />
esses conteúdos e, então, superá-los ou <strong>de</strong>scartá-los, não conseguirá apropriar-se<br />
<strong>de</strong>les; tor<strong>no</strong>u-se refém perpétuo <strong>de</strong>les. Daí uma orientação pedagógica fundamental:<br />
a repetição só <strong>de</strong>ve ser utilizada para conteúdos <strong>de</strong>vidamente compreendidos.<br />
Basta isso para virar <strong>de</strong> pernas para o ar a pedagogia predominante na escola atual.<br />
Lembrando, entretanto, que, para conteúdos <strong>de</strong>vidamente compreendidos, como já<br />
lembrava a Gestalt, é <strong>de</strong>snecessária muita repetição.<br />
Isso <strong>no</strong>s leva a olhar criticamente a escola, pois alu<strong>no</strong>s capazes freqüentemente<br />
não apren<strong>de</strong>m com <strong>no</strong>ssas aulas – motivo sufi ciente para revermos os procedimentos.<br />
<strong>Piaget</strong> lembra que os “bons alu<strong>no</strong>s” apren<strong>de</strong>m com mais facilida<strong>de</strong>, Física ou Química,<br />
por exemplo, não por terem mais inteligência, mas por conseguirem adaptar-se<br />
melhor ao tipo <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> ministrado.<br />
[...] os “maus alu<strong>no</strong>s” nessas matérias, que, entretanto são bem sucedidos em outras,<br />
estão na realida<strong>de</strong> perfeitamente aptos a dominar os assuntos que parecem não<br />
compreen<strong>de</strong>r, contanto que estes lhes cheguem através <strong>de</strong> outros caminhos: são as<br />
“lições” oferecidas que lhes escapam à compreensão, e não a matéria. (PIAGET,<br />
1973, p. 17).<br />
A docência escolar <strong>de</strong>verá, para fazer justiça ao conceito <strong>de</strong> aprendizagem que<br />
<strong>no</strong>s traz a Epistemologia Genética, superar tradicionais práticas fi xistas, reprodutivistas<br />
da pedagogia da repetição, ainda amplamente presentes na escola, na direção da<br />
ativida<strong>de</strong> criadora e inventiva própria da aprendizagem enquanto acontecimento que<br />
prolonga o <strong>de</strong>senvolvimento. Em lugar da pedagogia da transmissão, da reprodução<br />
ou da repetição, <strong>de</strong>verá apelar para a experiência ativa, construtiva e inventida do<br />
alu<strong>no</strong>; a atitu<strong>de</strong> investigativa, criativa e inventiva do sujeito da aprendizagem.<br />
Assim a escola po<strong>de</strong>rá justifi car seu discurso <strong>de</strong> cidadania plena porque instalará<br />
um processo em que educandos po<strong>de</strong>rão fazer perguntas, praticar escolhas, pensar com<br />
liberda<strong>de</strong>, refl etir com auto<strong>no</strong>mia e, sobretudo, inventar tendo por limite o horizonte.<br />
Numa palavra, on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rão viver seu processo <strong>de</strong> aprendizagem tal como o enten<strong>de</strong>m<br />
Inhel<strong>de</strong>r, Bovet e Sinclair: “Apren<strong>de</strong>r é proce<strong>de</strong>r a uma síntese in<strong>de</strong>fi nidamente<br />
re<strong>no</strong>vada entre a continuida<strong>de</strong> e a <strong>no</strong>vida<strong>de</strong>.” (INHELDER, BOVET, SINCLAIR.<br />
[1974], 1977. p. 263). Ou como o compreen<strong>de</strong> <strong>Piaget</strong> ([1959], 1974, p. 69):<br />
Não somente uma aprendizagem não parte jamais <strong>de</strong> zero, quer dizer que a formação<br />
<strong>de</strong> um <strong>no</strong>vo hábito consiste sempre numa diferenciação a partir <strong>de</strong> esquemas<br />
anteriores; mas ainda, se essa diferenciação é função <strong>de</strong> todo o passado <strong>de</strong>sses<br />
esquemas, isso signifi ca que o conhecimento adquirido por aprendizagem não é<br />
jamais nem puro registro, nem cópia, mas o resultado <strong>de</strong> uma organização na qual<br />
intervém em graus diversos o sistema total dos esquemas <strong>de</strong> que o sujeito dispõe.<br />
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