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Jean Piaget no século XXI - Faculdade de Filosofia e Ciências ...

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M O N T O Y A , A . O . D . et al. (ORG.)<br />

Assim, respeitar para <strong>Piaget</strong> implica necessariamente a coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> pontos<br />

<strong>de</strong> vista. Diante disso, indago: como fazê-lo, sem a presença do respeito mútuo?<br />

Se “aceitarmos” as diferenças, será que estaremos oferecendo condições para que<br />

relações baseadas <strong>no</strong> respeito mútuo ocorram?<br />

<strong>Piaget</strong> nutria tanto respeito às diferenças e as via como algo positivo que, ao<br />

fazer consi<strong>de</strong>rações críticas sobre o fato <strong>de</strong> Durkheim <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a unida<strong>de</strong> dos fatos<br />

morais e dos sociais, ressalta que a moral da in<strong>de</strong>pendência ou da auto<strong>no</strong>mia só é<br />

possível <strong>de</strong> ser construída a partir da “solidarieda<strong>de</strong> das crianças entre si” (PIAGET<br />

([1932], 1994, p. 254). Ora, para que isso aconteça, é condição necessária o respeito à<br />

circunstância <strong>de</strong> tais seres serem diferentes e terem um modo <strong>de</strong> agir próprio, pois é<br />

<strong>de</strong>le que nasce a verda<strong>de</strong>ira cooperação.<br />

Dessa forma, para <strong>Piaget</strong>, respeitar as diferenças não é sinônimo, apenas, <strong>de</strong><br />

aceitá-las. Respeitar as diferenças pe<strong>de</strong> a coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> vista. E coor<strong>de</strong>nar<br />

signifi ca conjugar, concatenar, interligar, isto é, dispor os elementos numa seqüência<br />

lógica. Nesse sentido, a coor<strong>de</strong>nação solicita a interpretação ou a assimilação e a<br />

coor<strong>de</strong>nação recíproca.<br />

Essa coor<strong>de</strong>nação é necessária, porque sem ela não seria possível a convivência,<br />

sobretudo em socieda<strong>de</strong>s complexas, já que elas solicitam regras <strong>de</strong> controle mútuo<br />

(PIAGET ([1932], 1994, p. 258). Indagamos: como esse processo seria possível,<br />

se assumíssemos a idéia <strong>de</strong> respeito às diferenças, compreendida aqui como a sua<br />

aceitação, pura e simplesmente?<br />

Ainda mais: a <strong>no</strong>ção <strong>de</strong> “aceitação” da diferença, em si, ao impossibilitar o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento individual e social, leva à morte da moral, porque, <strong>no</strong> processo<br />

formativo dos sujeitos como seres morais, o respeito unilateral é condição necessária,<br />

embora insufi ciente. Ao aceitar as diferenças como sinônimo <strong>de</strong> respeito, os sujeitos<br />

provavelmente permanecerão numa condição <strong>de</strong> a<strong>no</strong>mia, porque sequer po<strong>de</strong>rão<br />

fazer uso da coação como meio para a internalização <strong>de</strong> regras e valores.<br />

Po<strong>de</strong> parecer que estou “carregando nas tintas”. Entretanto, em <strong>no</strong>me <strong>de</strong>sse<br />

suposto respeito (que, na verda<strong>de</strong>, é aceitação), pais e educadores estão <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong><br />

educar seus fi lhos e alu<strong>no</strong>s, a ponto <strong>de</strong> se ter a impressão – se não a certeza – <strong>de</strong> que<br />

estamos em franco processo <strong>de</strong> involução social.<br />

PIAGET E A DIFERENÇA<br />

Delineadas tais consi<strong>de</strong>rações, é possível <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>r do pensamento <strong>de</strong> <strong>Piaget</strong><br />

a maneira como ele concebe a diferença e sua relação com a moral.<br />

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