Jean Piaget no século XXI - Faculdade de Filosofia e Ciências ...
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A NOÇÃO DE FUNÇÃO<br />
J E A N P I A G E T N O S É C U L O X X I<br />
A <strong>no</strong>ção <strong>de</strong> função expressa essencialmente uma <strong>de</strong>pendência. Trata-se <strong>de</strong><br />
uma <strong>de</strong>pendência entre proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> objetos ou entre elementos ou caracteres<br />
inerentes às ações ou construções do sujeito.<br />
Essa i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência interroga sobre as origens da função. A sua origem<br />
seria física ou operatória? Ou, melhor, a origem da função <strong>de</strong>rivaria das ações do<br />
sujeito? No entanto, haveria uma predominância causal ou uma predominância<br />
operatória?<br />
Ao mesmo tempo, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência opõe as funções simples às relações.<br />
Po<strong>de</strong>mos dizer que, se dois objetos concretos po<strong>de</strong>m estar em relação um com o<br />
outro – por exemplo, um po<strong>de</strong> estar à direita ou à esquerda do outro –, um objeto<br />
não po<strong>de</strong> ser função <strong>de</strong> um outro.<br />
A função existe quando uma proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> um objeto está ligada a uma<br />
proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> outro.<br />
Quais são, pois, as origens da função?<br />
Os fatos mostram que cada uma das fontes (física, operatória, <strong>de</strong>rivação a<br />
partir da ação do sujeito) po<strong>de</strong> se encontrar em tal ou qual função estudada.<br />
A função po<strong>de</strong> ser uma simples lei física, obtida a partir da observação <strong>de</strong><br />
fatos. A função po<strong>de</strong> se enten<strong>de</strong>r como uma ligação causal. Ela po<strong>de</strong> ser física ou<br />
espacial, ela po<strong>de</strong> ser operatória. Na verda<strong>de</strong>, esses diferentes tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência<br />
(física, causal, espacial, operatória) po<strong>de</strong>m ter uma forma funcional, e o problema é<br />
<strong>de</strong> ver o que tem em comum essas origens múltiplas. <strong>Piaget</strong> afi rma que, como espaço,<br />
a função tem um papel <strong>de</strong> mediador entre operações <strong>de</strong>dutivas e causais. A função<br />
é o instrumento do estabelecimento <strong>de</strong> leis físicas e também <strong>de</strong> estruturas lógicoalgébricas.<br />
Numa covariação funcional física, por exemplo, um objeto A puxa um<br />
objeto B e segue o movimento <strong>de</strong> B, <strong>de</strong> sorte que a ligação entre os termos é real, sob<br />
a forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência e não só <strong>de</strong> comparação.<br />
Em relação às funções lógico-matemáticas, existe uma <strong>de</strong>pendência e<br />
covariação, mas estas resultam <strong>de</strong> variações <strong>de</strong>vidas às manipulações operatórias do<br />
sujeito. Por exemplo, em presença <strong>de</strong> dois conjuntos <strong>de</strong> bolinhas, E1 e E2, o aumento<br />
<strong>de</strong> elementos <strong>de</strong> E2, através do <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> uma bolinha <strong>de</strong> E1 para E2 pelo<br />
sujeito, é função <strong>de</strong> diminuição <strong>de</strong> elementos <strong>de</strong> E1 (ver Figura 1). Po<strong>de</strong>mos, assim,<br />
tratar <strong>de</strong> uma função lógico-matemática, porque os aumentos e as diminuições se<br />
<strong>de</strong>vem à ações e/ou operações do sujeito.<br />
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