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Jean Piaget no século XXI - Faculdade de Filosofia e Ciências ...

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J E A N P I A G E T N O S É C U L O X X I<br />

<strong>Piaget</strong> <strong>de</strong>screve o <strong>de</strong>senrolar da equilibração como probabilida<strong>de</strong> seqüencial;<br />

probabilida<strong>de</strong> que não é estabelecida a priori. Há uma seqüência <strong>de</strong> níveis que não<br />

são previamente estabelecidos; os estádios não são uma conseqüência inevitável do<br />

ge<strong>no</strong>ma. Os estádios po<strong>de</strong>m ou não acontecer. Eles têm um componente histórico<br />

essencial. Um <strong>no</strong>vo nível não é provável <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início; torna-se provável assim que<br />

um nível anterior tiver sido atingido. Nas provas <strong>de</strong> conservação, o mais provável, <strong>no</strong><br />

primeiro nível, é a criança pensar que a salsicha, comparada com a bola <strong>de</strong> plastilina,<br />

possua somente uma dimensão (“É mais comprida, logo há mais na salsicha”); ela se<br />

atém ao comprimento da salsicha, me<strong>no</strong>sprezando a largura da bola. Se a salsicha for<br />

alongada ainda mais, a criança po<strong>de</strong>rá dizer: “Não, agora está muito fi na, então tem<br />

me<strong>no</strong>s”; ela enxerga somente a largura da bola, mas não o comprimento da salsicha.<br />

Num terceiro nível, mais provável <strong>de</strong> acontecer do que <strong>no</strong> início, a criança oscilará<br />

entre a largura e o comprimento. Po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>scobrir então que largura e comprimento<br />

estão relacionados. Alongando, fi ca mais fi <strong>no</strong>; encurtando-se, fi ca mais grosso.<br />

Talvez seja essa a maior difi culda<strong>de</strong> para o comum dos leitores <strong>de</strong> <strong>Piaget</strong> <strong>de</strong><br />

compreen<strong>de</strong>r que o <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo não é inevitável, não segue uma direção<br />

inexorável. Cada passo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, simultaneamente, do sujeito e do meio. Se o sujeito<br />

não encarar o <strong>de</strong>safi o e esforçar-se para realizar uma acomodação (transformação<br />

nele mesmo) (PIAGET, [1936], 1978, Introdução), e o meio não oferecer condições<br />

objetivas para isso acontecer, o <strong>de</strong>senvolvimento não avançará, ou avançará aquém ou<br />

muito aquém das possibilida<strong>de</strong>s. A <strong>no</strong>ção <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo, em <strong>Piaget</strong>,<br />

tem um forte componente histórico e social. Ig<strong>no</strong>rar isso é <strong>de</strong>svirtuar o signifi cado<br />

essencial do conceito central da Epistemologia Genética: a interação.<br />

A criança começa a pensar em termos <strong>de</strong> transformação e não somente <strong>de</strong><br />

confi guração perceptiva ou Gestalt. Quando se faz a massa mais curta, ela fi ca mais<br />

grossa ou quando mais comprida, torna-se mais fi na; há, pois, me<strong>no</strong>s <strong>no</strong> comprimento<br />

e mais na largura. Portanto, na bola e na salsicha tem a mesma coisa. A criança<br />

chega, então, <strong>no</strong> quarto nível, pois compensou a diminuição <strong>de</strong> uma dimensão com o<br />

aumento da outra. “Em outras palavras, <strong>no</strong> curso <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>senvolvimentos encontrase<br />

sempre um processo <strong>de</strong> auto-regulação que chamo <strong>de</strong> equilibração e que me parece<br />

o fator fundamental na aquisição do conhecimento lógico-matemático.” (Id., p. 4).<br />

Como se vê, o <strong>de</strong>senvolvimento é diferente da aprendizagem. Ele acontece<br />

por força da ação do sujeito que conta com a maturação, proce<strong>de</strong> continuamente<br />

a assimilações e acomodações (equilibração), realizando experiências físicas e<br />

lógico-matemáticas, possibilitadas pelo meio social, que subsume o meio físico, e<br />

em intensa interação sujeito-meio. Talvez uma das diferenças mais marcantes entre<br />

<strong>de</strong>senvolvimento e aprendizagem seja o tempo <strong>de</strong> gênese. Uma <strong>no</strong>va aprendizagem<br />

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