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Jean Piaget no século XXI - Faculdade de Filosofia e Ciências ...

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J E A N P I A G E T N O S É C U L O X X I<br />

MORAL E DIFERENÇA EM PIAGET<br />

139<br />

Nelson Pedro-Silva<br />

A fi m <strong>de</strong> evitar qualquer mal-entendido, <strong>de</strong>ixo claro <strong>de</strong> antemão que<br />

acredito <strong>no</strong> valor irredutível e sui generis da razão. (<strong>Jean</strong> <strong>Piaget</strong>)<br />

Cada vez mais tem sido recorrente o discurso <strong>de</strong> que <strong>de</strong>vemos respeitar as<br />

pessoas que apresentam condutas e valores diferentes dos <strong>no</strong>ssos, mesmo que isso<br />

implique provocar prejuízos a outrem. Os proponentes <strong>de</strong>sse enunciado argumentam<br />

que qualquer forma <strong>de</strong> interferência se traduziria na imposição <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssa cultura sobre<br />

a <strong>de</strong> povos e grupos dotados <strong>de</strong> um modo <strong>de</strong> vida próprios.<br />

Acredito que tal visão está amparada na popularização <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong><br />

interpretação <strong>de</strong> certos referenciais neonietzchia<strong>no</strong>s, que, segundo Rouanet (1987), está<br />

eivado <strong>de</strong> equívocos. Conforme o referido fi lósofo, tal posicionamento concebe a<br />

razão como o principal instrumento <strong>de</strong> repressão e faz a apologia do respeito às<br />

diferenças, a ponto <strong>de</strong> se cair num relativismo cultural extremado, em que tudo<br />

passa a ser válido, em <strong>no</strong>me do pretenso respeito a tais diferenças. Com isso, as<br />

preocupações se resumem em evi<strong>de</strong>nciá-las e supostamente aceitá-las; como se, <strong>de</strong>ssa<br />

maneira, estivessem a buscar a convivência.<br />

Acontece que, em <strong>no</strong>me <strong>de</strong>ssa aceitação, temos como corolário a ditadura do<br />

relativismo, segundo a qual nada é “[...]<strong>de</strong>fi nitivo e tem como seu maior valor o ego<br />

e os <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> cada um” (FAUSTO, 2005, p. A3). Apoiado em Berlin (1991), o<br />

mencionado historiador afi rma ainda que “ [...] o relativismo correspon<strong>de</strong> a uma<br />

doutrina segundo a qual o juízo <strong>de</strong> um homem ou <strong>de</strong> um grupo é algo que se encerra<br />

em si mesmo, sem nenhum correlato objetivo <strong>de</strong>terminante <strong>de</strong> sua valida<strong>de</strong> ou<br />

exatidão” (FAUSTO, 2005, p. A3).<br />

O problema é que, para se viver em socieda<strong>de</strong> – e o homem só o é por<br />

causa <strong>de</strong>la –, é necessário que <strong>no</strong>s submetamos a um conjunto <strong>de</strong> regras e valores

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