Jean Piaget no século XXI - Faculdade de Filosofia e Ciências ...
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J E A N P I A G E T N O S É C U L O X X I<br />
viva <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os organismos mais simples até os mais complexos. A or<strong>de</strong>m, por exemplo,<br />
constatável <strong>no</strong> nível sensório motor, visível nas relações que o ser huma<strong>no</strong> estabelece<br />
entre meios e fi ns ou em qualquer outro ato da inteligência prática, é precedida por<br />
um conjunto <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m, em jogo <strong>no</strong>s mecanismos nervosos e fi siológicos<br />
em geral, <strong>de</strong> natureza hereditária. Um refl exo supõe um <strong>de</strong>senvolvimento or<strong>de</strong>nado<br />
<strong>de</strong> estímulos e reações motoras. Uma regulação hormonal comporta uma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />
sucessão. O <strong>de</strong>senvolvimento ontogenético supõe uma or<strong>de</strong>m <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> que o<br />
próprio epigenótipo regula essa or<strong>de</strong>m por uma seqüência <strong>de</strong> regulações <strong>de</strong>vidas ao<br />
mesmo tempo ao genótipo e às interações múltiplas que ocorrem <strong>de</strong> acordo com o<br />
que Waddington chama <strong>de</strong> controle temporal: assim, nas etapas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da<br />
larva, nas metamorfoses da crisálida e <strong>no</strong> estado adulto da borboleta, há, <strong>no</strong> momento<br />
oportu<strong>no</strong>, a intervenção <strong>de</strong> partes diferentes do ge<strong>no</strong>ma que impõe uma espécie <strong>de</strong><br />
ritmo or<strong>de</strong>nado. O próprio código do ADN obe<strong>de</strong>ce a uma <strong>de</strong>terminada seqüência, ou<br />
seja, a uma or<strong>de</strong>m. Assim, as estruturas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m aparecem, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, inerentes<br />
como já dissemos, a toda organização viva e ao seu funcionamento. Esses exemplos<br />
são uma pequena mostra dos isomorfi smos entre todas as organizações vitais inclusive<br />
as cognitivas. As or<strong>de</strong>nações cognitivas são realizadas <strong>no</strong> mundo físico a partir dos<br />
esquemas motores (esquemas <strong>de</strong> ação), por intermédio do funcionamento cerebral<br />
e todo funcionamento endóge<strong>no</strong>. Segundo <strong>Piaget</strong>, essas trocas com o meio afetam<br />
as sinapses neuronais que por sua vez abrem <strong>no</strong>vas possibilida<strong>de</strong>s da criança ver o<br />
mundo. Essa <strong>no</strong>va visão não permitirá uma assimilação imediata, será necessário um<br />
<strong>de</strong>sequilíbrio inicial para que após isso, as <strong>no</strong>vas assimilações se realizem, completando<br />
<strong>de</strong>ssa maneira a adaptação ao meio. Assim, o meio proporciona as assimilações<br />
endógenas para que essas possam permitir “na volta” <strong>no</strong>vas assimilações exógenas.<br />
Trata-se do mesmo processo tanto na evolução ontogenética quanto na evolução<br />
fi logenética que é por ele explicada em termos do DNA e RNA, muito antes que esses<br />
conhecimentos tivessem sido construídos, “ofi cialmente”, pela Biologia.<br />
Na fi logênese, os “caracteres adquiridos” acontecem por assimilação genética,<br />
ou seja, por uma reorganização do ge<strong>no</strong>ma em resposta às perturbações do meio (ou,<br />
stress do meio como diria Waddington). Reorganização por seleção é verda<strong>de</strong>, mas<br />
que <strong>no</strong> sentido da teoria da epigênese, abraçada por <strong>Piaget</strong>, signifi ca uma modifi cação<br />
do funcionamento dos genes, obtida por uma escolha que se exerce exclusivamente<br />
sobre os fenótipos, enquanto estes constituem precisamente respostas do ge<strong>no</strong>ma às<br />
ações do meio.<br />
<strong>Piaget</strong> passa então sua longa vida em busca da <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong>ssas hipóteses<br />
que têm sido muito mal compreendidas por alguns <strong>de</strong>ntre aqueles que se intitulam<br />
“piagetia<strong>no</strong>s”, apesar <strong>de</strong> não dominarem os rudimentos da Lógica, nem sequer uma,<br />
das várias Teorias do Conhecimento dos <strong>no</strong>ssos 2000 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> Filosofi a e muito me<strong>no</strong>s<br />
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