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Jean Piaget no século XXI - Faculdade de Filosofia e Ciências ...

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M O N T O Y A , A . O . D . et al. (ORG.)<br />

pelo currículo é composto <strong>de</strong> micro unida<strong>de</strong>s que são ensinadas, uma a uma, em<br />

pretensa or<strong>de</strong>m crescente <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong>. “Pretensa” porque a difi culda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

compreen<strong>de</strong>r um objeto resi<strong>de</strong> na complexida<strong>de</strong> do sujeito pelo me<strong>no</strong>s tanto quanto<br />

na complexida<strong>de</strong> do objeto. Essa divisão do conteúdo em unida<strong>de</strong>s mínimas, em<br />

or<strong>de</strong>m crescente <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong>, caracteriza a Instrução Programada, <strong>de</strong> Holland<br />

e Skinner (1972), que propõe o acréscimo do reforço a cada unida<strong>de</strong> abordada pelo<br />

alu<strong>no</strong>.<br />

Quero dizer com isso que conhecimento é tanto capacida<strong>de</strong> (estrutura<br />

ou forma) quanto conteúdo. E que, para encaminhar <strong>de</strong>vidamente o processo <strong>de</strong><br />

aprendizagem, <strong>de</strong>vem-se contemplar as duas dimensões, e não apenas uma, como o<br />

faz a escola na medida em que tenta dar conta do conteúdo sem prestar atenção nas<br />

estruturas ou capacida<strong>de</strong>s.<br />

Na prática escolar, raramente a concepção empirista vem pura, assentada sobre<br />

a tabula rasa. A concepção empirista funciona, na escola, como se a aprendizagem<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>sse totalmente do ensi<strong>no</strong>; como se a aprendizagem fosse função exclusiva do<br />

ensi<strong>no</strong>. Quando, em <strong>no</strong>ssas pesquisas (BECKER,1999), <strong>de</strong>sautorizamos, na dinâmica<br />

da entrevista, o mo<strong>de</strong>lo empirista, o professor mostra que ele admite uma espécie <strong>de</strong><br />

“núcleo fi xo herdado” (expressão usada <strong>no</strong> <strong>de</strong>bate <strong>Piaget</strong> e Chomsky, [PIATELLI-<br />

PALMARINI, 1979]), uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r que existe pelo me<strong>no</strong>s <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

nascimento e que não se modifi cou até agora nem se modifi cará <strong>no</strong> <strong>de</strong>correr da vida;<br />

não se modifi cará, portanto, em função <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas aprendizagens ou das construções<br />

manifestadas <strong>no</strong>s estádios do <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Porém, essa concepção do “núcleo fi xo inato” aparece, às vezes, como<br />

o segredo <strong>de</strong> toda aprendizagem. Teríamos, então, não um empirismo, mas um<br />

apriorismo <strong>no</strong> qual a estimulação, o exercício e a experiência adquirida per<strong>de</strong>riam<br />

quase totalmente seu signifi cado. Situam-se aqui as crenças <strong>no</strong> talento, <strong>no</strong> dom, na<br />

capacida<strong>de</strong> inteligente inata. Quem nasceu com talento sempre será talentoso; pior,<br />

terá obrigação <strong>de</strong> ser sempre talentoso. Quem nasceu sem ele será sempre <strong>de</strong>fi citário<br />

apesar do esforço eventualmente investido e das condições disponíveis. Dois<br />

professores universitários <strong>de</strong> matemática, entrevistados para uma pesquisa, assim se<br />

expressam a respeito:<br />

1) [...] o alu<strong>no</strong> <strong>de</strong> Ensi<strong>no</strong> Fundamental [...] se ele tem um gran<strong>de</strong> talento ele vai mais<br />

rápido que o <strong>no</strong>rmal. (BECKER, 2010, p. 140).<br />

2) Realmente fazer matemática é raciocinar logicamente, é tu conhecer alguns fatos,<br />

alguns resultados simples, bem estabelecidos e saber usar esses fatos com imaginação<br />

para construir outros. Isso aí é uma coisa... tem um pouco <strong>de</strong> tudo, é uma arte, é<br />

principalmente talento da pessoa <strong>de</strong> colocar essas coisas [...]. (BECKER, 2010, p. 60).<br />

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