13.04.2013 Views

Jean Piaget no século XXI - Faculdade de Filosofia e Ciências ...

Jean Piaget no século XXI - Faculdade de Filosofia e Ciências ...

Jean Piaget no século XXI - Faculdade de Filosofia e Ciências ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

ADVERTÊNCIAS<br />

J E A N P I A G E T N O S É C U L O X X I<br />

A primeira <strong>de</strong>las concerne ao fato <strong>de</strong> que não vou dissertar sobre as diferenças<br />

entre <strong>Piaget</strong> e Vygotsky. Sobre esse assunto, remeto o leitor às obras <strong>de</strong> Oliveira<br />

(1997) e <strong>de</strong> Oliveira, Dantas, La Taille (1992), e a um importante texto <strong>de</strong> <strong>Piaget</strong><br />

([1962], 1979) sobre as observações críticas <strong>de</strong> Vygotsky acerca d’Le langage et la<br />

pensée chez l’enfant (PIAGET, [1923], 1956) e d’Le jugement et lê raisonnement chez l’enfant<br />

(PIAGET, [1926], 1956).<br />

Segunda: talvez <strong>Piaget</strong> tenha sido um dos pesquisadores que mais buscaram (se<br />

não o maior) – <strong>no</strong> seu processo <strong>de</strong> compreensão da lógica infantil – evi<strong>de</strong>nciar o quanto<br />

ela era diferente da do adulto. O que ele não fez foi contentar-se com isso, mas buscou<br />

ir além, investigando as leis responsáveis pelo seu <strong>de</strong>senvolvimento. Logo, <strong>Piaget</strong> não<br />

po<strong>de</strong> ser criticado quanto ao seu compromisso em evi<strong>de</strong>nciar a diferença.<br />

Terceira: não vou me <strong>de</strong>ter nas diferenças <strong>de</strong> gênero. Embora <strong>Piaget</strong> tenha dado<br />

margem à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que as mulheres são inferiores, do ponto <strong>de</strong> vista da codifi cação das<br />

regras dos jogos, La Taille (1994), sublinha que – ao abordar o tipo <strong>de</strong> relação necessária<br />

à construção da moral autô<strong>no</strong>ma – <strong>Piaget</strong> não advoga conselhos educativos diferentes.<br />

Pelo contrário, sua teoria mostra-se extremamente igualitária, aspecto que <strong>de</strong>squalifi ca<br />

o fato <strong>de</strong> Gilligan ([1982], 1993) ter consi<strong>de</strong>rado sua teoria sexista.<br />

Quarta. Sou professor <strong>de</strong> Psicologia e, portanto, é <strong>de</strong>sse lugar que refl etirei<br />

sobre o conceito <strong>de</strong> diferença. Julgo esse lembrete importante, porque penso que<br />

a discussão sobre tal faculda<strong>de</strong> intelectiva é mais afeita ao campo da fi losofi a e<br />

ao da antropologia. Se a tomo como objeto <strong>de</strong> interesse, é apenas por causa das<br />

conseqüências (a meu ver, da<strong>no</strong>sas) que tal apologia da diferença tem produzido<br />

<strong>no</strong> campo psi, como a <strong>de</strong> futuros psicólogos se negarem a intervir junto a pessoas<br />

que estão sofrendo ou consi<strong>de</strong>rar e valorizar os atos <strong>de</strong> seus pacientes, por mais<br />

con<strong>de</strong>náveis que sejam do ponto <strong>de</strong> vista moral, apenas amparados na <strong>no</strong>ção <strong>de</strong><br />

que são diferentes e, por conseguinte, <strong>de</strong>vem ser respeitados <strong>no</strong>s seus <strong>de</strong>sejos, sem<br />

qualquer refl exão acerca das conseqüências para si e para os outros.<br />

A quarta advertência se refere ao discurso que afi rma a incompatibilida<strong>de</strong> entre<br />

razão, ciência e diferença. Tal raciocínio ampara-se nas críticas feitas por Nietzsche<br />

(1999) – e, <strong>de</strong> certa forma, reforçadas por Foucault (1979) e Deleuze e Parnet (1977)<br />

– <strong>de</strong> que os gran<strong>de</strong>s sistemas interpretativos estariam comprometidos na raiz, pois<br />

eles não problematizam a relação sujeito/objeto e partem do conceito <strong>de</strong> razão, visto<br />

por eles como prejudicial à vida, na medida em que a aprisiona, a esquarteja e, por<br />

fi m, a <strong>no</strong>rmatiza.<br />

141

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!