Jean Piaget no século XXI - Faculdade de Filosofia e Ciências ...
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M O N T O Y A , A . O . D . et al. (ORG.)<br />
impõe suas restrições, nas quais o pensamento e a linguagem vêm se moldar. E se o<br />
pensamento está em interação constante com seus conteúdos, ele não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />
fazê-lo com a própria língua nas estruturas da qual ele se vê obrigado a penetrar. Se<br />
existe um vínculo dialético entre pensamento e linguagem, não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> haver<br />
um também entre pensamento e língua. Todos aqueles que tentam se expressar em<br />
uma língua estrangeira sabem disso muito bem. Isto dito, se a linguagem é o modo<br />
<strong>de</strong> expressão <strong>de</strong> um pensamento, parece evi<strong>de</strong>nte que este cria sua linguagem.<br />
Para sintetizar essas poucas refl exões que fi zemos <strong>no</strong> contexto da epistemologia<br />
e da psicologia genéticas, diremos que a partir do momento em que se manifesta na<br />
criança a distinção entre signifi cante e signifi cado, surge a fala, ou seja, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>no</strong>mear. E como a língua faz parte <strong>de</strong> seu ambiente, ela se apropria das palavras que<br />
<strong>de</strong>signam as coisas ou os objetos, palavras que fazem parte da língua ou sistema <strong>de</strong><br />
sig<strong>no</strong>s organizados com suas regras <strong>de</strong> composição e <strong>de</strong> transformações, externas a ele<br />
e à disposição <strong>no</strong> meio. Ao falar, a criança, segundo o nível alcançado pelas estruturas<br />
<strong>de</strong> sua ativida<strong>de</strong>, monta as palavras para comunicar-se com aqueles que estão a sua<br />
volta, expressar ou dizer suas representações imagéticas e <strong>de</strong>pois conceituais. Assim<br />
fazendo, ela cria e recria a linguagem porque diz algo que adquire sentido e veicula<br />
signifi cações, em outras palavras, conteúdos, que são criação sua. Seu pensamento<br />
se alimenta das representações e as coloca em relação através <strong>de</strong> transformações ou<br />
operações que, quando se equilibram entre elas, apresentam a particularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser<br />
reversíveis ou passíveis <strong>de</strong> se autotransformar para passar <strong>de</strong> um equilíbrio a outro,<br />
em um sistema <strong>de</strong> equilibrações-<strong>de</strong>sequilibrações sem fi m, em adaptação ao meio. O<br />
conteúdo ou os conteúdos do pensamento alimentam a linguagem que é sua expressão.<br />
Segundo a natureza <strong>de</strong>stes, a linguagem toma a coloração do pensamento que se nutre<br />
<strong>de</strong>la e se transforma, criando assim seus objetos <strong>no</strong> contexto das adaptações ao meio.<br />
Com isto, o pensamento em interação com seus conteúdos entra em um ciclo dialético<br />
adaptativo e autotransformador que enriquece uma e outro.<br />
Segundo a natureza do objeto sobre o qual inci<strong>de</strong> o pensamento, a linguagem<br />
assume um caráter particular e muitas vezes especializado. Nascem daí, <strong>no</strong> contexto<br />
da língua, linguagens tais como a religiosa, a fi losófi ca, a política, etc. Quanto mais<br />
se aprofunda a linguagem, graças às interações entre ela e o pensamento, mais ela se<br />
especializa e se especifi ca. Mas, além disso, ela solicita as estruturas da ativida<strong>de</strong> ou as<br />
operações mentais, e as leva a <strong>de</strong>senvolver ao máximo suas capacida<strong>de</strong>s. Em um ciclo<br />
sem fi m.<br />
Há, pois, não apenas uma gênese da linguagem pela maturação neurológica<br />
e o uso interativo com a língua, mas também uma gênese do pensamento em todas<br />
as suas formas. Ela nunca atingirá o equilíbrio que se dá pelo aprofundamento dos<br />
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