Jean Piaget no século XXI - Faculdade de Filosofia e Ciências ...
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M O N T O Y A , A . O . D . et al. (ORG.)<br />
nenhuma percepção possível: a criança po<strong>de</strong> perceber a parte o todo B 1 ou as partes<br />
A 1 e A› 1 , mas não simultaneamente B 1 e A 1 ou B 1 e A› 1 . (PIAGET; SZEMINSKA,<br />
1975, p. 239).<br />
Tudo se passa como se a criança, pensando na parte, esquecesse o todo e viceversa.<br />
Ou melhor, a criança, quando pensa <strong>no</strong> todo, consegue bem se representar<br />
as partes ainda não dissociadas (pois, por exemplo, <strong>de</strong>senha corretamente o colar<br />
correspon<strong>de</strong>nte ao todo e distingue muito bem nesse todo uma vintena <strong>de</strong> contas<br />
castanhas e duas contas brancas), mas, quando procura dissociar uma das partes,<br />
não consegue mais se lembrar do todo ou levá-lo em consi<strong>de</strong>ração, limitando-se<br />
a comparar a parte <strong>de</strong> que se ocupa com a parte restante, ou seja, ao resíduo do<br />
todo primitivo. Assim, se pensa nas contas castanhas, a criança não as compara,<br />
com efeito, senão às contas brancas, e não mais ao conjunto das contas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira.<br />
(PIAGET; SZEMINSKA, 1975, p. 235).<br />
Apenas utilizando as transfi gurações, o sujeito epistêmico é capaz <strong>de</strong> comparar a<br />
parte A e o todo B, e, nesse sentido, as transfi gurações são necessárias para a constituição<br />
das operações relativas à classifi cação (como as operações união e <strong>de</strong> diferença).<br />
Em resumo, assim que a criança raciocina sobre uma das partes consi<strong>de</strong>rada por<br />
si mesma, a totalida<strong>de</strong> como tal se dissolve, transferindo suas qualida<strong>de</strong>s para a<br />
outra parte somente. Se chamarmos <strong>de</strong> B o todo, <strong>de</strong> A a parte consi<strong>de</strong>rada e da A›<br />
a outra parte, constatamos pois que a difi culda<strong>de</strong> das crianças <strong>de</strong>sta primeira fase<br />
em compreen<strong>de</strong>r a relação <strong>de</strong> inclusão ou <strong>de</strong> parte a totalida<strong>de</strong>, é na realida<strong>de</strong> uma<br />
difi culda<strong>de</strong> em conceber o todo como resultante <strong>de</strong> uma composição aditiva das<br />
partes: B = A + A› e A = B – A›. (PIAGET; SZEMINSKA, 1975, p. 236).<br />
Notemos então que, na citação acima, a “composição aditiva” refere-se a uma<br />
transfi guração executada <strong>de</strong> A para B (pelo o acréscimo + A›) e que sua inversa é uma<br />
transfi guração <strong>de</strong> B para A (pela subtração – A›).<br />
Em resumo, po<strong>de</strong>mos ver que o que falta à criança é a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />
ação mental, i.e., realizada endogenamente pelo sujeito epistêmico, que compare os<br />
elementos da percepção atual com outros imaginados, ou seja, falta-lhe a capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> passar <strong>de</strong> uma imagem mental (que represente a situação percebida, por exemplo,<br />
a parte A) a outra imagem mental (que represente uma outra possibilida<strong>de</strong>, como,<br />
por exemplo, o todo B) e comparar seus signifi cados entre si, <strong>no</strong> caso, A e B, sem que<br />
um exclua o outro, enten<strong>de</strong>ndo que se trata <strong>de</strong> duas coisas diferentes que são ligadas<br />
por essa própria ação endógena que os compara. Ou seja, falta-lhe a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
realizar transfi gurações como aqui <strong>de</strong>fi nida.<br />
CONCLUSÃO<br />
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