13.04.2013 Views

Jean Piaget no século XXI - Faculdade de Filosofia e Ciências ...

Jean Piaget no século XXI - Faculdade de Filosofia e Ciências ...

Jean Piaget no século XXI - Faculdade de Filosofia e Ciências ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

J E A N P I A G E T N O S É C U L O X X I<br />

Entretanto, a compreensão <strong>de</strong> que a aprendizagem se resolve administrando<br />

estímulos, que remonta a um mo<strong>de</strong>lo epistemológico empirista, e como tal se<br />

fundaria na hipótese da tabula rasa, é parcialmente <strong>de</strong>smentida quando analisamos<br />

as convicções epistemológicas docentes (BECKER, 2009), nas quais elas aparecem<br />

predominantes. Os professores que manifestam, nas suas falas, convicções empiristas<br />

acreditam que existe um “núcleo fi xo inato”, uma espécie <strong>de</strong> software básico ou HD<br />

(Hard Disc, disco rijo) – numa metáfora mais antiga, um almoxarifado, um arquivo<br />

morto – on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>positam os conhecimentos. Um HD teria maior capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

memória, <strong>de</strong> retenção <strong>de</strong> informações, enquanto outro, uma capacida<strong>de</strong> me<strong>no</strong>r e, <strong>no</strong><br />

limite, quase nula. Seria esta a explicação da docência para aprendizagens precárias ou<br />

para não aprendizagens. Os professores acham que o ensi<strong>no</strong> não é responsável por<br />

isso. O docente expressa-se assim: fi z <strong>de</strong> tudo, ensinei várias vezes, passei exercícios,<br />

man<strong>de</strong>i eles repetir... e eles não apren<strong>de</strong>ram; fi z tudo que estava a meu alcance, nada<br />

mais me resta a fazer. Como eles forneceram os estímulos, que achavam ser sufi cientes<br />

para produzir a aprendizagem esperada, não sabem mais o que fazer quando ela não<br />

acontece. Sua concepção epistemológica é incapaz <strong>de</strong> vislumbrar um <strong>no</strong>vo horizonte<br />

pedagógico. <strong>Piaget</strong> ([1959], 1974, p. 42) alerta:<br />

[...] as respostas nada mais serão do que a atualização dos esquemas conferindo suas<br />

signifi cações aos estímulos: nós <strong>no</strong>s encontraremos assim [a uma] distância <strong>no</strong>tável da<br />

interpretação empirista, pois, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo da relação entre o estímulo e a resposta,<br />

o conhecimento adquirido por aprendizagem não po<strong>de</strong>rá mais ser consi<strong>de</strong>rado como<br />

<strong>de</strong>vido a uma ação com um único sentido do objeto sobre o sujeito, mas como uma<br />

interação <strong>no</strong> seio da qual o sujeito introduz adjunções [conexões] específi cas.<br />

Para ilustrar isso, apresento a resposta <strong>de</strong> um professor universitário à pergunta:<br />

“Tu achas que o alu<strong>no</strong> apren<strong>de</strong> melhor exercitando algoritmos ou resolvendo<br />

problemas?”. Afi rma ele:<br />

[...] há três maneiras <strong>de</strong> se apren<strong>de</strong>r matemática, cada uma melhor do que a outra.<br />

Uma, seria fazer exercícios, muitos exercícios, tentar resolver problemas. A segunda<br />

maneira, melhor ainda, seria fazer bastantes exercícios, bem mais; e a terceira<br />

maneira, que seria bem melhor ainda, se matar <strong>de</strong> fazer exercícios, fazer muito<br />

exercício, até se estrebuchar <strong>no</strong> chão (BECKER, 2010, p. 311).<br />

Os docentes acreditam que o ensi<strong>no</strong> escolar tem que se a<strong>de</strong>quar a essa<br />

diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s. Como? Excluindo. O professor ensina para os alu<strong>no</strong>s<br />

que conseguem apren<strong>de</strong>r, <strong>de</strong>ixando que os <strong>de</strong>mais venham atrás na medida <strong>de</strong> suas<br />

frágeis competências. Assim o professor valorizaria sua docência não <strong>de</strong>sperdiçando<br />

seu saber com quem não conseguirá dar retor<strong>no</strong>. Sob esse ponto <strong>de</strong> vista, a evasão,<br />

o fracasso, a não aprendizagem seriam eventos inevitáveis; seria o ônus inevitável<br />

<strong>de</strong>ssa “mania” <strong>de</strong> querer ensinar para todo mundo. Um professor universitário <strong>de</strong><br />

213

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!