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2*10 O CEDRO VERMELHO
animaes. Alem d'isso, a enorme quantidade
de folhas seccas, que alastram o chão, permitte-lhes
distinguir melhor os ruídos.
Por mais de uma vez, na minha vida aventurosa,
recorri a esses meios selvagens com
optimos resultados. Quando residi na costa
de Paricátiba, entre Óbidos e Alemquer,
havia em casa uma preta de quinze ou dczeseis
annos, que tinha adquirido entre outros
vicios o costume de fugir para o mato.
Eu era caixeiro do senhor d'ella; e posso
aflirmar, que se não fossem as correcções
que se lhe davam, por ser useira e vezeira
em fugir, a minha escravidão seria peior do
que a sua. O trabalho que se lhe distribuía
não era violento, nem demasiado para a sua
idade; comia do mesmo que eu, vestia das
mesmas fazendas e tinha a vantagem de não
comprar o vestuário, que a mim me custava
bem caro, apesar de ser mui simples. Existe
porém uma raça de pretos, que, fugindo uma
vez, toma gosto á liberdade e não ha branduras
nem mimos capazes de lhe impedir
as reincidências. A escrava de que trato
pertencia a essa raça.
No sitio em que habita vamos, abundavam
os fructos silvestres; as casas da nossa
residencia eram cercadas de mangueiras,
laranjeiras e bananeiras, onde a preta podia,
durante a noite, prover-se para muitos dias.