MUHM - Museu de História da Medicina

MÉDICOS ALEMÃES, HÚNGAROS E AUSTRÍACOS NO RIO GRANDE DO SUL
que ainda permaneciam em território brasileiro e fortalecer as
fronteiras no sul do Brasil através da colonização. O imperador
ordenou a busca de mercenários que se propusessem a
guerrear nos estados do centro e norte do país e colonos que
quisessem cultivar a terra, criar gado, formar suas famílias e
procriar seus descendentes nas terras desabitadas do sul do
país, e que também se dispusessem a colaborar na defesa de
suas fronteiras.
O encarregado da missão foi o major Jorge Antônio von
Shaeffer, de origem alemã, familiarizado com o idioma, pois
o alvo eram as cidades-estados da Alemanha – reinados, principados
e ducados que falavam essencialmente a mesma língua
– de onde seriam recrutados os colonos e os mercenários.
O major – designado “agente de afazeres políticos do Brasil”
– publicou nos jornais das cidades alemãs visitadas anúncios
de recrutamento de colonos oferecendo viagem ao Brasil com
passagens pagas, auxílio financeiro, terras, suprimentos, ferramentas,
sementes, gado, isenção de impostos, estradas de
acesso às glebas e liberdade de culto, promessas estas parcamente
cumpridas. Foi buscar os mercenários entre a soldadesca
desempregada com o fim das Guerras Napoleônicas,
especialmente nas prisões alemãs.
Assim, a partir de 25 de julho de 1824, data que marca o
início da imigração alemã no Rio Grande do Sul, chegaram os
barcos com as primeiras levas de colonos alemães, mais precisamente
às margens do Rio dos Sinos, junto à Imperial Feitoria
do Linho-Cânhamo, já desativada à época, onde fundaram
o núcleo da Colônia Alemã de São Leopoldo. A travessia do
Atlântico, em condições de alimentação e higiene precárias,
era feita em veleiros de três mastros com pouco além de 30
metros de comprimento e durava cerca de 100 dias. Do Rio de
Janeiro a Porto Alegre vinham em barcos veleiros costeiros os
bergantins e sumacas e, daí em diante, em minúsculos barcos
de uma vela só (Figura 1).
Figura 1. Quadro de Ernst Zeuner que retrata a chegada da
primeira leva de imigrantes alemães em 25 de julho de 1824,
às margens do Rio dos Sinos. Sobre o cavalo branco, José
Feliciano F. Pinheiro, o Visconde de São Leopoldo, governador
da Província de São Pedro.
Acervo do Museu Histórico Visconde de São Leopoldo, o museu municipal da
imigração alemã, com sede na cidade de São Leopoldo, RS
Entre os colonos, vieram os primeiros médicos formados
nas universidades europeias, evidenciando-se, entre eles, João
Daniel Hillebrand (1795-1880), o pioneiro, nascido em Hamburgo,
Alemanha, e formado pela Universidade de Goettingen,
em 1823. Além de sua atuação como médico, foi vice-inspetor
e mais tarde diretor geral da Colônia de São Leopoldo,
juiz municipal e de órfãos, coronel da Guarda Nacional comandada
pelo então Conde de Caxias – mais tarde, Duque
de Caxias – e presidente da Câmara Municipal. Destacou-se
no atendimento aos pacientes atacados pelo cólera-morbo em
1855. Organizou as listas completas dos imigrantes que chegavam
à Colônia, constituindo o primeiro censo demográfico
da região, a chamada “Lista de Hillebrand” (figuras 2 e 3).
O monumento do centenário da imigração alemã em
São Leopoldo destaca quatro personalidades esculpidas em
suas faces: o imperador D. Pedro I, a imperatriz Leopoldina, o
visconde de São Leopoldo e João Daniel Hillebrand (Figura 4).
A história dos primórdios de São Leopoldo se mescla com a
biografia do pioneiro Doktor Hillebrand.
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