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MUHM - Museu de História da Medicina

Um acervo vivo que faz ponte entre o ontem e o hoje.

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<strong>Medicina</strong> e cari<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

social e escravos”, provavelmente porque estes acabaram confundindo-se<br />

nas <strong>de</strong>spesas do governo com as epi<strong>de</strong>mias.<br />

Fora dos períodos epidêmicos, porém, o governo provincial<br />

atuou em três frentes no sentido <strong>de</strong> ter um maior controle<br />

sobre o conhecimento <strong>da</strong>s especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> região e,<br />

assim, centralizar suas opções administrativas em questões <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong>. A primeira <strong>de</strong>stas frentes se ligou à <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> quais<br />

seriam os recursos em saú<strong>de</strong> <strong>da</strong> região sul do Império. Para<br />

isso, o governo provincial do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul se interessou<br />

em mapear elementos naturais e benéficos com a intenção <strong>de</strong><br />

incrementar a sua utilização. Assim, foram promovi<strong>da</strong>s investigações<br />

sobre a presença e o uso <strong>de</strong> ervas e águas medicinais<br />

na região. A segun<strong>da</strong> frente <strong>de</strong> atuação foi o registro que os<br />

médicos, cirurgiões, licenciados e boticários passaram a <strong>de</strong>ver<br />

fazer junto às Câmaras Municipais para po<strong>de</strong>rem exercer a<br />

profissão. 3 Por fim, a terceira frente realizou-se na forma <strong>de</strong><br />

incentivos, contratos e dotações para a atuação <strong>da</strong> Santa Casa<br />

<strong>de</strong> Misericórdia.<br />

Após as epi<strong>de</strong>mias <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1850, a atenção às<br />

questões <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> no Império como um todo aumentou. Assim<br />

como na Europa e na América do Norte, recru<strong>de</strong>sceu no<br />

Brasil uma série <strong>de</strong> ações que se <strong>de</strong>sdobraram na criação <strong>da</strong><br />

Junta Central <strong>de</strong> Higiene, em 1850, e, nas províncias, nas Comissões<br />

<strong>de</strong> Higiene Pública, em 1854. Percebe-se, igualmente,<br />

um incremento nos Relatórios dos Presi<strong>de</strong>ntes <strong>da</strong> província <strong>da</strong>s<br />

<strong>de</strong>scrições dos recursos em saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> que dispunha a população<br />

<strong>da</strong> região. Nestes, é possível notar uma tentativa <strong>de</strong> “cartografar”<br />

os auxílios <strong>de</strong> que se po<strong>de</strong>ria utilizar a população nos<br />

momentos <strong>de</strong> enfermi<strong>da</strong><strong>de</strong>, os chamados Socorros Públicos.<br />

As Santas Casas e outras iniciativas <strong>de</strong> beneficência figuravam<br />

aí como protagonistas. Estas foram <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s pelo Conselheiro<br />

José Antônio Pimenta Bueno (1850) como “instituições filhas<br />

<strong>da</strong> civilização, e alta morali<strong>da</strong><strong>de</strong>, que honram a Província <strong>de</strong><br />

São Pedro do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul”. 4<br />

Tais socorros, to<strong>da</strong>via, não po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>scritos anacronicamente<br />

como se fossem mo<strong>de</strong>rnos serviços <strong>de</strong> atendimento<br />

médico à população. Estes eram compostos <strong>de</strong> um conjunto<br />

<strong>de</strong> instituições e representantes tão diferentes entre si que<br />

3 Ver, por exemplo, a lista compila<strong>da</strong> <strong>da</strong> Câmara Municipal pela Comissão <strong>de</strong> Higiene<br />

Pública no Anexo 2. AHRS – CG: M 25 (1854).<br />

4 AHRS – RPPRS: A7.03 – Conselheiro José Antônio Pimenta Bueno (1850).<br />

nem mesmo é possível compreendê-los como se partilhassem<br />

<strong>de</strong> uma mesma lógica <strong>de</strong> atenção às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Ao contrário do que se verificou em outras províncias<br />

(BELTRÃO, 2004), a documentação relativa ao Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

Sul não permite separar em linhas claras as diferenças entre<br />

Socorros Públicos e Saú<strong>de</strong> Pública. Os socorros eram os estabelecimentos<br />

e outras formas <strong>de</strong> assistência que alcançavam<br />

os <strong>de</strong>svalidos <strong>da</strong> província e, em sua maioria, eram realizados<br />

por intermédio <strong>de</strong> estabelecimentos <strong>de</strong>nominados beneficência,<br />

cari<strong>da</strong><strong>de</strong> ou pios. Durante as epi<strong>de</strong>mias, estes estabelecimentos<br />

ain<strong>da</strong> po<strong>de</strong>riam ser acrescidos por enfermarias civis<br />

<strong>de</strong>svincula<strong>da</strong>s <strong>de</strong> hospitais ou ain<strong>da</strong> ambulâncias monta<strong>da</strong>s<br />

pelo governo – que po<strong>de</strong>riam ser <strong>de</strong>scritas como espaços<br />

on<strong>de</strong> eram colocados leitos e on<strong>de</strong> ficavam um ou mais responsáveis<br />

pelo cui<strong>da</strong>do dos doentes.<br />

Um traço importante que se po<strong>de</strong> notar nesta época é<br />

a maior preocupação em aumentar os incentivos para que se<br />

ampliasse o número dos estabelecimentos <strong>de</strong> amparo aos enfermos<br />

pobres no interior <strong>da</strong> província. A esta intenção, que<br />

po<strong>de</strong> ser nota<strong>da</strong> na documentação <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o fim <strong>da</strong> Farroupilha,<br />

conjugavam-se pelo menos duas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s: o socorro<br />

facilitado <strong>da</strong>s populações interioranas em períodos <strong>de</strong> crise e<br />

o alívio <strong>da</strong> afluência <strong>de</strong> doentes (em especial, os “alienados”)<br />

vindos do interior e que, no processo <strong>de</strong> busca <strong>da</strong> saú<strong>de</strong>, acabavam<br />

indo para a Santa Casa <strong>de</strong> Misericórdia <strong>de</strong> Porto Alegre.<br />

Por outro lado, opunha-se a isto a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se conseguir<br />

doações suficientes para que fosse possível construir outros<br />

hospitais, sustentados pela cari<strong>da</strong><strong>de</strong> pública, em regiões com<br />

uma concentração populacional menor que as <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s do<br />

litoral. E, como vimos, havia uma clara resistência dos dirigentes<br />

em conceber estas instituições como tendo origem somente<br />

na Fazen<strong>da</strong> Pública. Dessa forma, em 1850, existiam na<br />

província <strong>de</strong> São Pedro somente três hospitais ligados a Casas<br />

<strong>de</strong> Cari<strong>da</strong><strong>de</strong>: o <strong>de</strong> Porto Alegre, a Santa Casa <strong>de</strong> Rio Gran<strong>de</strong> e<br />

a <strong>de</strong> Pelotas. Em Rio Pardo, nesta mesma época, estava<br />

[...] em construção (um hospital), mas tem contado<br />

com pouquíssimas esmolas, correndo a maior parte<br />

<strong>da</strong>s <strong>de</strong>spesas por conta dos cofres públicos e que<br />

uma penosa circunstância, que ain<strong>da</strong> acresce, é <strong>de</strong><br />

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