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MUHM - Museu de História da Medicina

Um acervo vivo que faz ponte entre o ontem e o hoje.

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A CONTRIBUIÇÃO DOS MÉDICOS ITALIANOS PARA A MEDICINA DO RIO GRANDE DO SUL<br />

Exército, o mais alto na hierarquia dos oficiais médicos (AR-<br />

QUIVO HISTÓRICO DO RIO GRANDE DO SUL, s.d.). Na déca<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong> 1840, foram batiza<strong>da</strong>s duas crianças filhas do médico<br />

milanês Francisco Friziani. O assentamento foi feito no livro<br />

<strong>de</strong> batismos <strong>da</strong> Paróquia Nossa Senhora <strong>da</strong> Mãe <strong>de</strong> Deus <strong>de</strong><br />

Porto Alegre (CONSTANTINO, 1991).<br />

Uma <strong>da</strong>s características marcantes do grupo foi a intensa<br />

mobili<strong>da</strong><strong>de</strong> geográfica que incluiu países <strong>da</strong> África e <strong>da</strong> América<br />

do Sul, especialmente aqueles <strong>da</strong> região do Prata e <strong>de</strong> outros<br />

estados brasileiros. Foi marcante a passagem pelos hospitais italianos<br />

<strong>de</strong> Buenos Aires, Montevidéu e São Paulo. O Rio Gran<strong>de</strong><br />

do Sul se beneficiou <strong>da</strong> sua posição na geografia do continente<br />

para recebê-los, com o porto <strong>de</strong> Rio Gran<strong>de</strong> se constituindo<br />

na principal entra<strong>da</strong>. To<strong>da</strong>via, a fronteira facilmente permeável<br />

com Uruguai e Argentina também observou gran<strong>de</strong> trânsito. Os<br />

médicos se espalharam pelas diferentes regiões, procuraram novas<br />

fronteiras que estavam sendo <strong>de</strong>sbrava<strong>da</strong>s e aten<strong>de</strong>ram às<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s prementes <strong>da</strong> presença <strong>de</strong> médicos. Muitos <strong>de</strong>les<br />

sofreram os constrangimentos <strong>da</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptação e os<br />

efeitos do corporativismo local. A dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> inserção po<strong>de</strong><br />

ser <strong>de</strong>preendi<strong>da</strong> pela frequente mobili<strong>da</strong><strong>de</strong> geográfica em busca<br />

<strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s que, por outro lado, também era apanágio<br />

dos brasileiros. A integração ocorreu progressivamente. Com o<br />

tempo, foram aceitos e reconhecidos pelos seus pares nacionais<br />

e pela clientela conquista<strong>da</strong>.<br />

Médicos escreveram relatos <strong>de</strong> viagem, relatórios oficiais<br />

e memórias que informaram sobre as suas experiências no Brasil.<br />

Cita-se o livro <strong>de</strong> memórias intitulado Argentina, Paraguay,<br />

Brasile: ricordi e impressioni e consigli (1906), escrito por Ricardo<br />

D’Elia sobre a vivência <strong>de</strong> 18 anos nestes países e que teve<br />

como objetivo propagan<strong>de</strong>ar as condições para o estabelecimento<br />

no Novo Mundo. Luigi Car<strong>de</strong>lli redigiu ao Ministério do<br />

Exterior italiano o relatório “Fra gli emigrati nel Brasile: tre ani<br />

di esperienza medica (1907-1910)”, informando sobre as condições<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>da</strong> população e suas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s em colônias<br />

<strong>de</strong> imigrantes situa<strong>da</strong>s em São Paulo e no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul.<br />

Giovanni Palombini ficou conhecido pelas palestras que proferiu<br />

no Brasil e na Itália, que procuraram estimular a imigração<br />

para o país. Escreveu um relato <strong>de</strong> viagem sobre sua itinerância<br />

no sul do país, colecionou materiais que foram expostos<br />

em exposições internacionais na Bélgica e na Itália, representando<br />

o Brasil, e se correspon<strong>de</strong>u com o Touring Club Italiano.<br />

As informações circulavam rapi<strong>da</strong>mente. Os médicos partiram<br />

<strong>da</strong> Itália e/ou <strong>de</strong> países vizinhos <strong>de</strong> posse do conhecimento<br />

prévio sobre as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho que po<strong>de</strong>riam encontrar<br />

no sul do país. Uma parcela significativa era composta por<br />

jovens, com poucos anos <strong>de</strong> formados ou recém-saídos <strong>da</strong>s facul<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />

Muitos vieram acompanhados pela família nuclear. Há<br />

indícios <strong>de</strong> que investimentos foram direcionados à preparação<br />

<strong>de</strong> uma futura emigração e que esta fazia parte <strong>de</strong> um plano<br />

pessoal ou familiar. Além <strong>de</strong>stes aspectos, uma característica na<br />

composição familiar foi a formação farmacêutica dos irmãos mais<br />

jovens. Ricardo D’Elia, Michele <strong>de</strong> Patta, Giovanni Palombini e Biaggio<br />

Rocco tinham irmãos farmacêuticos. Aliás, era comum os<br />

médicos aten<strong>de</strong>rem em consultórios situados em farmácias.<br />

Mas as características <strong>da</strong> legislação vigente para o exercício<br />

<strong>da</strong> medicina, incluindo a não necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> revali<strong>da</strong>ção do<br />

diploma médico, foi <strong>de</strong>terminante para o estabelecimento dos<br />

médicos estrangeiros no estado (SCHWARTSMANN, 2008).<br />

A Constituição Estadual <strong>de</strong> 1891 permitia que os médicos se<br />

radicassem no estado sem a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> revali<strong>da</strong>ção do<br />

diploma perante uma facul<strong>da</strong><strong>de</strong> nacional. Esta requeria tempo<br />

e era custosa. Ain<strong>da</strong> que houvesse obrigatorie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> registro<br />

na Diretoria <strong>de</strong> Higiene e Saú<strong>de</strong> para o exercício <strong>da</strong> profissão,<br />

este compromisso nem sempre era concretizado. Muitos fizeram<br />

o registro tardiamente, no início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1930, o<br />

que revelou não haver um controle rígido.<br />

Na ocasião, em torno <strong>de</strong> 50 médicos se registraram,<br />

sendo que vários possuíam mais <strong>de</strong> 10 anos <strong>de</strong> exercício. Da<br />

mesma forma, a maioria não revalidou seu diploma perante<br />

a Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Medicina</strong> <strong>de</strong> Porto Alegre. Consi<strong>de</strong>ra-se que<br />

no período entre os anos <strong>de</strong> 1900 e 1939, 66 médicos estrangeiros<br />

revali<strong>da</strong>ram seus diplomas, sendo que 24 eram italianos.<br />

Esta conduta significava o reconhecimento formal <strong>da</strong><br />

competência e habilitação, a diferenciação dos outros médicos<br />

estrangeiros que não proce<strong>de</strong>ram à equivalência, além <strong>de</strong> ser<br />

um fator <strong>de</strong> acolhimento pela comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> científica local.<br />

Porto Alegre foi local <strong>de</strong> irradiação dos médicos italianos,<br />

por ser a capital do estado e o centro <strong>de</strong> difusão <strong>de</strong> informações.<br />

Porém, uma parcela logrou estabelecer-se e adquirir clientela,<br />

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