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MUHM - Museu de História da Medicina

Um acervo vivo que faz ponte entre o ontem e o hoje.

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A medicina missioneira entre a ciência europeia e os saberes nativos<br />

obras relaciona<strong>da</strong>s a medicina e assim as categorizamos, consi<strong>de</strong>rando<br />

apenas o título, já que não tivemos acesso à maioria<br />

dos livros: <strong>Medicina</strong>, 31; Farmácia/ Botânica, 18; Moral, 13;<br />

Cirurgia, 8; Astrologia/ Astronomia, 5; Química, 4; Enfermaria,<br />

1. Na botica, os manuais médicos foram inventariados,<br />

consi<strong>de</strong>rando seu estilo, mas sem fazer referência ao nome do<br />

autor ou ao título <strong>da</strong> obra. São 75 livros, assim organizados:<br />

Prim. a m. te 14 libros <strong>de</strong> folio, y uno enquarto ma. or<br />

<strong>de</strong> var. s farmacospeas que tasaron a ocho pesos<br />

ca<strong>da</strong> uno… D120 Yt; 15 libros en folio medicinales<br />

<strong>de</strong> varios autores que tasaron a 8 p.s ca<strong>da</strong> uno…<br />

D120 Yt; 15 libro <strong>de</strong> quarto ma.or <strong>de</strong> cirujia, y <strong>Medicina</strong><br />

<strong>de</strong> distintos autores q.e tasaron à tres pesos….<br />

D045. Yt.; 30 libros <strong>de</strong> aquarto ma.r y mas<br />

chicos en lengua Alemana <strong>de</strong> varios autores, que<br />

no se entien<strong>de</strong>n los que no se tasaron, por falta <strong>de</strong><br />

Ynteligencia…. D Fólio 4599r. Suma ant. r ...; Yt. un<br />

libro manuscrito <strong>de</strong> quentas particulares q.e llevava<br />

el P.e (padre) Boticario con algunas foxas escritas<br />

[…] (AHUNC, 1772, caja 10, legajo 2).<br />

Po<strong>de</strong>mos observar três categorias bem evi<strong>de</strong>ncia<strong>da</strong>s:<br />

<strong>Medicina</strong>, Farmácia/ Botânica e Cirurgia. Chama a atenção o<br />

gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> obras em língua alemã, o que se explica<br />

também pela gran<strong>de</strong> presença <strong>de</strong> jesuítas <strong>da</strong> Europa Centro-Oriental<br />

nas missões <strong>da</strong> América Meridional durante esse período,<br />

sendo que os já citados Peschke e Asperger se enquadram<br />

nesse grupo <strong>de</strong> missionários.<br />

Comparativamente, o Colégio do Rio <strong>de</strong> Janeiro possui<br />

um número inexpressivo <strong>de</strong> obras, sendo que apenas dois autores<br />

sabi<strong>da</strong>mente ligados aos ofícios médicos foram relacionados:<br />

o espanhol Rybeira e o português Curvo Semmedo,<br />

um dos mais conhecidos médicos portugueses do século XVII,<br />

autor <strong>da</strong> Polianthea medicinal. O reconhecimento a estes autores<br />

po<strong>de</strong> ser mensurado pelo fato <strong>de</strong> ambos também terem<br />

tido seus tratados arrolados na biblioteca <strong>de</strong> Córdoba. Outras<br />

obras utilizam o termo medicina, porém liga<strong>da</strong>s a questões<br />

morais. A título <strong>de</strong> exemplo, <strong>de</strong>stacamos aqui a Polianthea<br />

eucaristica, o Proptuario moral e a <strong>Medicina</strong> <strong>de</strong>l alma.<br />

Na botica do Colégio do Rio <strong>de</strong> Janeiro, consi<strong>de</strong>ramos<br />

apenas os livros que faziam referência ao título ou tema, pois<br />

muitos, como em Córdoba, contavam apenas com o sobrenome<br />

do autor. Pu<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar 40 livros, organizados em quatro<br />

categorias, como seguem: Farmácia/Botica, 22; <strong>Medicina</strong>,<br />

9; Química, 5; Cirurgia, 4. Percebe-se aqui uma nova categoria<br />

<strong>de</strong> obras liga<strong>da</strong>s à química, sobre o que falaremos na sequência<br />

do trabalho. Também foram i<strong>de</strong>ntificados textos sobre a<br />

vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> santos, preparação para a eterni<strong>da</strong><strong>de</strong>, agricultura etc.<br />

A diferença <strong>de</strong> proporção entre os Colégios <strong>de</strong> Córdoba<br />

e do Rio <strong>de</strong> Janeiro é difícil <strong>de</strong> ser explica<strong>da</strong>. Po<strong>de</strong>-se inferir<br />

uma diferença na forma <strong>de</strong> organização entre os jesuítas <strong>de</strong><br />

um e outro local ou mesmo pensar que, durante a realização<br />

do inventário, as obras medicinais do Colégio do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

tenham sido transferi<strong>da</strong>s para a botica, já que este espaço<br />

geralmente ficava anexo ao prédio do Colégio e <strong>da</strong> residência<br />

dos jesuítas. 12<br />

Porém, a situação mu<strong>da</strong> completamente quando analisamos<br />

os inventários realizados nos pueblos. Ao contrário <strong>de</strong><br />

Córdoba e do Rio <strong>de</strong> Janeiro, que apesar <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s concernentes<br />

ao período já eram dois gran<strong>de</strong>s centros, as missões<br />

estavam localiza<strong>da</strong>s em regiões muitas vezes afasta<strong>da</strong>s e <strong>de</strong><br />

difícil acesso. No ano <strong>de</strong> 1767, a missão <strong>de</strong> Apóstoles contava<br />

com pouco mais <strong>de</strong> 150 livros em sua biblioteca, porém,<br />

apenas uma obra está diretamente relaciona<strong>da</strong> à medicina:<br />

Obras médico-quirúrgicas <strong>de</strong> Ma<strong>da</strong>me Fouquet. Na missão <strong>de</strong><br />

Mártires, foram relaciona<strong>da</strong>s 149 obras, sendo quatro liga<strong>da</strong>s<br />

à área <strong>da</strong> medicina: Florilegio medicinal, Oto verius medicus,<br />

Chirurgica guidones e Jaquet, Remédios em francês.<br />

A <strong>de</strong>sproporção já era espera<strong>da</strong>, mas o que se observa<br />

é que não havia nenhum manual básico que pu<strong>de</strong>sse guiar os<br />

jesuítas e quaisquer outros agentes ligados à área que necessitassem<br />

<strong>de</strong> um auxílio teórico, para além <strong>da</strong> prática. O já citado<br />

Pedro Montenegro tem atribuí<strong>da</strong> a si a possível autoria ou<br />

12 A indistinção entre um e outro espaço po<strong>de</strong> ser observa<strong>da</strong> quando as Cartas Ânuas<br />

faziam alguma referência aos períodos <strong>de</strong> “peste”: “Vamos hablar ahora <strong>de</strong>l año<br />

<strong>de</strong> 1718, el cual ha sido por su mitad muy triste para los habitantes <strong>de</strong> la ciu<strong>da</strong>d y<br />

<strong>de</strong> sus alre<strong>de</strong>dores, por los estragos <strong>de</strong> la peste. En este tiempo critico acudieron<br />

los nuestros a los afligidos en todo que podían […] y en to<strong>da</strong>s partes, a<strong>de</strong>ntro y<br />

fuera <strong>de</strong> la ciu<strong>da</strong>d, no haciendo distinción entre españoles, indios y morenos. El<br />

colegio proporcionó a los contagiados generosamente to<strong>da</strong> clase <strong>de</strong> medicamentos”<br />

(C.A. 1714-20, [1928], p. 11).<br />

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