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MUHM - Museu de História da Medicina

Um acervo vivo que faz ponte entre o ontem e o hoje.

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<strong>Medicina</strong> militar no rio gran<strong>de</strong> do sul<br />

uma feri<strong>da</strong> quando po<strong>de</strong> e lançar sobre ela um pouco <strong>de</strong> iodofórmio,<br />

se tiver [...]”. Graças à tradução <strong>de</strong> Hil<strong>da</strong> Hübner Flores,<br />

tornou-se conhecido o trabalho do imigrante alemão João<br />

Eickhoff, <strong>de</strong> formação médica irregular e associa<strong>da</strong> a período<br />

em que trabalhou como auxiliar <strong>de</strong> farmácia, mas que <strong>de</strong>ixou<br />

páginas <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação e amor aos seus pacientes que <strong>de</strong>safiaram<br />

até as balas e os rancores dos adversários. Em várias<br />

oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, como algumas referi<strong>da</strong>s por Ângelo Dourado,<br />

feridos e doentes <strong>da</strong>s forças revolucionárias eram acolhidos<br />

nos hospitais militares <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s do Exército Nacional, que<br />

procurava manter difícil neutrali<strong>da</strong><strong>de</strong> ante o governo autoritário<br />

<strong>de</strong> Júlio <strong>de</strong> Castilhos, que representava a legali<strong>da</strong><strong>de</strong> no<br />

estado, e os maragatos, que clamavam contra os governos<br />

estadual e fe<strong>de</strong>ral, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> terem tentado uma intervenção<br />

fe<strong>de</strong>ral no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul.<br />

Quase ao final <strong>da</strong> Primeira Guerra Mundial (1914-<br />

1818), o Brasil teve qualifica<strong>da</strong> participação, pois mandou<br />

mais <strong>de</strong> uma centena <strong>de</strong> médicos e outros profissionais <strong>da</strong><br />

saú<strong>de</strong> para trabalhar em hospital criado pelo Brasil em Paris,<br />

além <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r em postos <strong>de</strong> atendimento <strong>de</strong> diversas ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

francesas. Vários gaúchos participaram <strong>de</strong>sta missão que<br />

era coman<strong>da</strong><strong>da</strong> pelo Dr. Nabuco <strong>de</strong> Gouvêa, professor <strong>de</strong><br />

cirurgia no Rio <strong>de</strong> Janeiro e que trabalhou em Bagé, on<strong>de</strong> organizou<br />

o bloco cirúrgico <strong>da</strong> Santa Casa. A viagem <strong>da</strong> missão<br />

foi aci<strong>de</strong>nta<strong>da</strong>, com para<strong>da</strong>s força<strong>da</strong>s em portos do norte <strong>da</strong><br />

África, duramente atingi<strong>da</strong> por um mal até então <strong>de</strong>sconhecido<br />

e <strong>de</strong>pois chamado <strong>de</strong> gripe espanhola, que atingiu a<br />

muitos e matou alguns. Apesar dos percalços, o <strong>de</strong>sempenho<br />

dos gaúchos, como <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a missão brasileira, foi brilhante<br />

e propiciou aperfeiçoamento a médicos que se notabilizaram<br />

em suas especiali<strong>da</strong><strong>de</strong>s ao voltar para o Brasil. Lá ganharam<br />

experiência inestimável os gaúchos Mário Kroeff, José Bonifácio<br />

Paranhos <strong>da</strong> Costa, Mário Araújo (sextoanista <strong>de</strong> <strong>Medicina</strong>)<br />

e Viriato Dutra. Sem ligação direta com a missão, estiveram<br />

na França os doutores Alfeu Bicca <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros e Paulo<br />

Rio Branco, filho do Barão do Rio Branco e que trabalhou<br />

em Pelotas. Ain<strong>da</strong> durante a segun<strong>da</strong> guerra mundial, houve<br />

casos como o do gaúcho Amarílio Macedo, que estu<strong>da</strong>va<br />

<strong>Medicina</strong> em Berlim e teve <strong>de</strong> trabalhar em hospital alemão<br />

durante a guerra.<br />

Voltemos ao Estado. A morte prematura <strong>de</strong> Júlio <strong>de</strong><br />

Castilhos propiciou que Borges <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros ocupasse o governo<br />

do Estado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1898 até 1928, com interrupção no<br />

quinquênio do médico Carlos Barbosa (1908-1912). Como<br />

chefe do Partido Republicano Rio-Gran<strong>de</strong>nse, Borges <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros<br />

foi absoluto até 1932. Em que pese o governo <strong>de</strong> um<br />

só partido, houve progresso, organização racional do Estado,<br />

zelo pelo dinheiro público e uma Briga<strong>da</strong> Militar po<strong>de</strong>rosa e<br />

que até era solicita<strong>da</strong> a agir em conflagrações não diretamente<br />

liga<strong>da</strong>s ao Rio Gran<strong>de</strong>, tais como a <strong>de</strong> Canudos ou a do<br />

Contestado. Em 1911 foi inaugurado mo<strong>de</strong>rno Hospital <strong>da</strong><br />

Briga<strong>da</strong> e que tinha algumas particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s: chegou a ser<br />

hospital <strong>de</strong> ensino para a Escola Médico-Cirúrgica, instituição<br />

que formava médicos, farmacêuticos e <strong>de</strong>ntistas em cursos<br />

com a duração <strong>de</strong> três anos; e em 1914 tinha uma enfermaria<br />

homeopática. A eleição <strong>de</strong> Borges para o quinto man<strong>da</strong>to<br />

e as <strong>de</strong>núncias <strong>de</strong> frau<strong>de</strong> eleitoral <strong>de</strong>flagraram a Revolução<br />

<strong>de</strong> 1923, bem menos violenta que a <strong>de</strong> 1893. Tanto as forças<br />

regulares quanto as dos corpos provisórios <strong>da</strong> Briga<strong>da</strong><br />

Militar contavam com serviços médicos e o mesmo acontecia<br />

entre os revolucionários. As comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s assistiam as forças<br />

tanto borgistas quanto assisistas, através <strong>de</strong> voluntários i<strong>de</strong>ntificados<br />

com a Cruz Vermelha e que prestavam socorro aos<br />

doentes e feridos. Senhoras e moças <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> gaúcha<br />

participavam <strong>de</strong>sses esforços. Um fato <strong>de</strong> Vinte-e-Três, ocorrido<br />

no Alegrete, logo após o Combate <strong>da</strong> Ponte do Ibirapuitã,<br />

serve como exemplo <strong>da</strong> atmosfera <strong>da</strong> época através <strong>de</strong> relatos<br />

dos próprios protagonistas. Vejamos: no Alegrete, após<br />

o Combate <strong>da</strong> Ponte do Ibirapuitã, o doutor Saint Pastous <strong>de</strong><br />

Freitas atendia a combatentes <strong>de</strong> ambas as facções. No seu<br />

gabinete <strong>de</strong> radiologia, i<strong>de</strong>ntificou estilhaços nos ossos <strong>da</strong><br />

bacia <strong>de</strong> Flores <strong>da</strong> Cunha, que só foi salvo por ter o projetil<br />

se <strong>de</strong>sfeito em pe<strong>da</strong>ços ao atingir seu revolver no coldre. No<br />

mesmo relato, Saint Pastous confirma ter encontrado alguns<br />

corpos <strong>de</strong>golados em 1923 (FREITAS, 1972). Passados alguns<br />

anos <strong>da</strong> perturbação pela morte do irmão mais moço no<br />

combate, Flores <strong>da</strong> Cunha escreveu sobre o atendimento e o<br />

raio X a que se submetera, constrangido por ser examinado<br />

após muitos dias sem tomar banho (CUNHA, 1979).<br />

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