MUHM - Museu de História da Medicina

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A CONTRIBUIÇÃO DOS MÉDICOS ITALIANOS PARA A MEDICINA DO RIO GRANDE DO SUL realizados à frente do palacete. O Dr. Turi, ao agradecer, pronunciou um patriótico discurso, dizendo que o Brasil era a sua segunda pátria (A FEDERAÇÃO, 1917, p. 1). Nicola Turi nasceu em 1873, em Cabrito, na Província de Avelino, Itália. Formou-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Nápoles em 1889. Especializou-se em medicina geral e cirurgia. Empreendeu viagens de estudos a Roma, onde frequentou hospitais e policlínicas. Sua trajetória mostra uma grande mobilidade pela América do Sul. Chega a Montevidéu em 1900, onde foi interno do Hospital Italiano pelo período de três anos. Segue-se a mudança para Santa Maria e a abertura do seu consultório em 1903. Seu irmão Pedro, também médico, o seguiu ao Brasil, em 1909. A época da vinda de Nicola a Santa Maria coincide com a inauguração do Hospital de Caridade, sugerindo que a posição no novo hospital determinou sua partida do Uruguai. O Hospital de Caridade foi inaugurado em 1903. Formavam o corpo clínico Astrogildo de Azevedo, Nicola Turi, Pantaleão José Pinto, Nicolau Becker Pinto e José Mariano da Rocha, considerados os “pioneiros de 1903-1904” (MO- RALES, 2008). Nesta cidade, ainda não havia um local adequado para o tratamento dos doentes que respondesse às necessidades de uma cidade em progressivo crescimento. A importância da presença de hospitais nas cidades localizadas no interior do estado foi reconhecida pelo Dr. Protásio Alves, diretor do Departamento de Higiene do Estado, que considerou ser “acontecimento capital” a sua inauguração (ARQUIVO HISTÓRICO DO RIO GRANDE DO SUL, 1904, p. 200). O hospital se tornou local de observação clínica para os médicos estudiosos e de atração para profissionais de todo o estado e do exterior. Seu corpo clínico contou com a participação de uma série de estrangeiros nos seus primeiros 50 anos de existência. Além de Turi, citam-se os italianos Cesar Merlo, Arthur Filose e Bruno Cataldi. A instituição se tornou reconhecida por suas inovações: foi um dos primeiros hospitais do Rio Grande do Sul a possuir uma enfermaria especial para tuberculosos, inaugurada em 1913 (Figura 2). Figura 2. Corpo médico do Hospital de Caridade de Santa Maria, em 1921. Sentados, a partir da esquerda, Nicola Turi, Astrogildo de Azevedo, Arthur Filose e Francisco Mariano da Rocha. Fonte: Isaia (1983, p. 84) Turi acumulou a direção da Casa de Saúde da Cooperativa Viação Férrea do Rio Grande do Sul. Seguidamente, havia acidentes nas estradas de ferros que envolviam empregados, passageiros ou pessoas que inadvertidamente cruzavam as linhas férreas. O médico era chamado para atender os casos no consultório da farmácia da Caixa de Socorros, sendo que os de maior gravidade eram encaminhados ao Hospital de Caridade. Em 1913, iniciaram os trâmites para a construção do hospital para atender aos empregados da Viação Férrea e seus familiares ou às vítimas de desastres oriundos nas vias férreas. Turi participou da comissão que procedeu ao estudo do terreno para a edificação do hospital (A FEDERAÇÃO, 1913, p. 8). A casa de saúde daquela cooperativa foi inaugurada em 1932. Na vida associativa, foi membro da Sociedade de Medicina de Santa Maria. Publicou o trabalho intitulado Um caso de poliorquidia bilateral na Gazeta dos Hospitais de Milão, em 1928. Reconhecido conferencista em Santa Maria, os temas de suas palestras versavam entre casos cirúrgicos e clínicos, destacando-se: contribuição prática da diatermia como meio terapêutico; profilaxia das moléstias infectocontagiosas; uma complicação muito rara da febre tifoide; e um caso de tétano traumático em recém-nascido (FRANCO; RAMOS, 1943, p. 575). Os trabalhos são de etiologias diversas que abrangem um grande campo de conhecimento, não necessariamente MUSEU DE HISTÓRIA DA MEDICINA - MUHM: um acervo vivo que se faz ponte entre o ontem e o hoje 153
A CONTRIBUIÇÃO DOS MÉDICOS ITALIANOS PARA A MEDICINA DO RIO GRANDE DO SUL aprofundado, como era frequente acontecer entre aqueles que praticavam a medicina no período. Turi contraiu matrimônio com uma das filhas do tesoureiro da Compagnie Auxiliaire des Chemins de Fer au Brésil, sediada em Santa Maria. Sua filha se casou com o otorrinolaringologista Gino Cataldi, diplomado em 1924 e que já clinicava em Santa Maria com dois anos de formado. O exemplo do casamento de Nicola Turi permite inferir a sua assimilação. Devoto (2004) explica que a integração dos imigrantes é medida em torno de três indicadores clássicos: casamentos, local de residência e participação em associações voluntárias. Quando os imigrantes se casam com alguém, independentemente da sua origem étnica, vivem entre outros estrangeiros ou nacionais e participam de entidades que incluem membros de origens variadas, demonstrando que estão assimilados em uma sociedade acrisolada. As taxas de endogamia tendem a baixar quanto mais os casamentos se distanciam do momento da chegada ao país do respectivo grupo migratório (DEVOTO, 2004). A competência técnica e social do médico era reconhecida pela comunidade. Acumulou a função de agente consular da Itália, participou nas comissões de organização dos festejos comemorativos ao 1º Centenário de Santa Maria (1914) e ao Cinquentenário da Colonização Italiana no Rio Grande do Sul (1925), quando assumiu a presidência do comitê local. Colaborou no Hospital de Caridade até a sua morte, ocorrida em 1949. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os médicos italianos cooperaram no desenvolvimento da medicina e na criação dos serviços de saúde do Rio Grande do Sul. Colaboraram para disseminar o conhecimento médico adquirido em universidades italianas, em um tempo em que havia notável carência destes profissionais. Aportaram conhecimentos intelectuais e práticos que ocasionaram repercussões no país de acolhimento. Foram inovadores, contribuindo para a introdução de novas práticas na medicina que estavam sendo desenvolvidas nos países europeus. Por suas características profissionais e formação médica de excelência, vários foram incluídos na elite médica do Rio Grande do Sul. Na medida em que estes imigrantes reforçaram os cuidados de saúde no país de destino, as condições de saúde da população local também melhoraram. REFERÊNCIAS A MANIFESTAÇÃO em Santa Maria. A Federação, Porto Alegre, 19 abr. 1917, p. 1. ARQUIVO HISTÓRICO DO RIO GRANDE DO SUL. Documento nº 4454. Coleção Varela. ______. Relatório da Directoria de Hygiene (Protásio Alves). In: Relatório apresentado ao Sr. Dr. A. A. Borges de Medeiros, Presidente do Estado do Rio Grande do Sul pelo Dr. João Abbott, Secretário de Estado dos Negócios do Interior e Exterior. Porto Alegre: Officinas- Typographicas de Emilio Weidemann& Filhos, 1904, p. 200. BIBLIOTECA DA SANTA CASA DE RIO GRANDE. Relatório da Associação de Caridade da Santa Casa do Rio Grande, Biênio 1920- 1922. Rio Grande: Typographia e Papelaria do Echo do Sul, 1923. CASA DE saúde em São Luiz Gonzaga. A Federação, Porto Alegre, 26 fev. 1926, p. 6. CASA DE saúde. A Federação, Porto Alegre, 25 set. 1914, p. 5. CASA DE saúde. Echo do Sul, Rio Grande, 6 jan. 1915, p. 4. CINQUANTENARIO della colonizzazione italiana nel Rio Grande Del Sud (1875-1925). Porto Alegre: Livraria do Globo, 1925. CONSTANTINO, Núncia S. O italiano da esquina. Imigrantes na sociedade porto-alegrense. Porto Alegre: E.S.T., 1991, p. 39. CURE for yelow Jack. Oswego Daily Times, Tuesday evening, 9 out. 1900, p. 8. DE PATTA, Michele. Leoni di Calabria in terra Riograndense. La selvageria di Anta Gorda. [S.l.]: Veritas, 1923. DEVOTO, Fernando. Historia de la inmigración en la Argentina. Buenos Aires: Sudamericana, 2004. FRANCO, Álvaro; RAMOS, Sinhorinha M. Panteão médico rio-grandense: síntese histórica e cultural. São Paulo: Ramos, Franco Editores, 1943. FRANCO, Sérgio da Costa. Os primórdios da Medicina no Rio Grande do Sul. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do RGS, Porto Alegre, ano 84, n. 138, p. 160, out. 2003. 154 MUSEU DE HISTÓRIA DA MEDICINA - MUHM: um acervo vivo que se faz ponte entre o ontem e o hoje
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Balança pediátrica Acervo: Socied
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