MUHM - Museu de História da Medicina

MÉDICOS ALEMÃES, HÚNGAROS E AUSTRÍACOS NO RIO GRANDE DO SUL
1936. Um ano após, já era livre-docente, o mais jovem em sua
Faculdade. Emigrou em 1938 e instalou-se em Bagé por dois
anos, quando se transferiu para a capital. Dedicou-se à clínica,
cirurgia, radiologia e radioterapia, tendo atuado no Serviço
de Radioterapia e Combate ao Câncer do Prof. Antônio Saint
Pastous, na Santa Casa de Porto Alegre. Fez vários cursos de
especialização e pós-graduação nos Estados Unidos e na Áustria,
onde adquiriu a formação psicanalítica, chegando a ser
um dos fundadores do Círculo Vienense de Psicologia Profunda,
ligado ao Grupo Psicanalítico de Viena. Chefiou o Hospital
Psiquiátrico Biswanger, em Kreuzlingen, Suíça. Por fim,
retornou a Porto Alegre, onde se dedicou à psiquiatria em seu
consultório à Rua Senhor dos Passos. Também era poliglota ao
dominar pelo menos seis idiomas, e seus passatempos eram
pintura, marcenaria, botânica, astronomia, astrologia e remo.
WALTER JACOB (1896-1988) era originário de Emmerich,
Alemanha. Após dar baixa do exército prussiano como
enfermeiro, entrou para a Universidade. Cursou semestres em
Berlim, Hamburgo, Bonn e Düsseldorf – variação comum na
época entre os estudantes. Fez especialização em ginecologia/
obstetrícia e em medicina tropical. Assim como vários de seus
colegas, trouxe consigo o instrumental de cirurgia e um aparelho
de raios-X. Em Giruá desde 1935, além de construir o Hospital
de Caridade local, ficou famoso por seu diagnóstico de
uma endemia de febre amarela. Mudou-se para Porto Alegre
em 1948 e operava no Hospital Moinhos de Vento.
WALTER BOUSCHER (1902-1980) nasceu em Gevelsberg,
na Alemanha, e formou-se na Universidade de Köln (Colônia).
Quando lhe cancelaram o trabalho na Krankenkasse, a
Caixa de Assistência aos Doentes, emigrou para a Palestina,
trabalhando alguns meses em Tel-Aviv, mas logo viajou para o
Brasil, em 1936. Instalou-se em Estância Velha, tendo fundado
o Hospital Dom Pedro, que deu origem ao Hospital Municipal
Getúlio Vargas (Figura 26). Há uma placa comemorativa em
sua homenagem, afixada à entrada do hospital. Em Porto Alegre,
dedicou-se especialmente à ginecologia e obstetrícia no
Edif. Cruzeiro do Sul, à Rua dos Andradas.
WALTER SILBER (1905-1965) nasceu em Essen-Ruhr, na
Alemanha, e Heidelberg foi a sede de sua formação médica.
Cedo, dedicou-se à pediatria, porém, antes de emigrar em
1933, também teve formação em cirurgia geral. Fixou-se em
Paraí, município de Nova Prata, onde ainda não havia hospital.
Como era comum à época, as cirurgias eram realizadas nas
residências dos pacientes, até o Dr. Silber construir o primeiro
hospital da localidade. Em 1944, mudou-se em definitivo para
Porto Alegre. Tocava piano e órgão nas igrejas do interior e era
aficionado do xadrez. Tinha seu consultório no mesmo edifício
e mesmo andar que o Dr. Walter Bouscher, seu colega e amigo
que se dedicava às mães enquanto ele, aos filhos.
Entretanto, as condições de liberdade profissional e do
uso de idioma estrangeiro passaram a complicar-se gradativamente
com a promulgação da Constituição do Estado Novo,
de cunho nacionalista, em novembro de 1937, que em seu art.
150 determinava que só os brasileiros natos poderiam exercer
as profissões liberais ou revalidar os diplomas profissionais expedidos
no estrangeiro.
A partir de 1938, foram promulgados os decretos que
reprimiam as atividades estrangeiras, como também proibiam
o ensino em língua estrangeira, a circulação de jornais publicados
no Brasil em língua estrangeira e a importação de livros
didáticos em outros idiomas que não fosse o português (Quadro
5).
Também de 1938 é o Regulamento do Departamento
Estadual de Saúde, que passou a restringir o exercício da medicina
somente a quem se mostrasse habilitado por título conferido
por escola oficial, federal ou equiparada.
Complicou-se a situação dos médicos estrangeiros no estado
gaúcho. Alguns médicos foram ameaçados de suspensão
de suas licenças, a maioria das quais com a anotação de ressalva
de “a título precário”, conforme consta registrado no verso
de grande número de diplomas (Figura 29).
Esses profissionais passaram por um período de preocupações
e de sobressaltos, pois também não lhes era permitida
a revalidação dos diplomas através de exames de suficiência.
Tem-se conhecimento de, pelo menos, dois deles terem sido
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