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MUHM - Museu de História da Medicina

Um acervo vivo que faz ponte entre o ontem e o hoje.

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A PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA MÉDICA<br />

ções beneficentes, como as Santas Casas e os hospitais beneficentes,<br />

muitos <strong>de</strong> origem étnica. As Santas Casas, principais<br />

instituições do período, existiam em todo o Brasil e apresentavam<br />

um perfil bastante típico, instituições que abrigavam<br />

diversas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> “enfermos” – militares, idosos, “alienados”,<br />

menores abandonados e doentes em geral, que iam<br />

para essas instituições para receber algum tipo <strong>de</strong> acolhimento.<br />

Esses antigos hospitais apresentavam-se como imponentes<br />

e importantes edificações, com belas facha<strong>da</strong>s e amplos pavilhões,<br />

porém possuíam poucos serviços especializados. Esse<br />

perfil <strong>de</strong> instituições marcou o século XIX. A partir dos anos<br />

1880 surgiram instituições volta<strong>da</strong>s para o atendimento <strong>de</strong><br />

moléstias específicas, e os médicos começam a construir hegemonia<br />

nestes espaços (WEBER; SERRES, 2008). Mas a reali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

foi mais complexa, havia no país uma gran<strong>de</strong> diversi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> práticas e praticantes <strong>da</strong> medicina.<br />

Para nossa reflexão importa dizer que a profissão se consolidou<br />

no país em oposição a práticas informais <strong>de</strong> cura, em<br />

meio a precárias condições <strong>de</strong> acesso a saú<strong>de</strong>, mas, ao mesmo<br />

tempo, se <strong>de</strong>senvolveu como uma medicina <strong>de</strong> excelência, que<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XIX dialogava com as instituições estrangeiras<br />

<strong>de</strong> maior reconhecimento e prestígio.<br />

Essas práticas médicas em consultórios particulares, em<br />

hospitais e em facul<strong>da</strong><strong>de</strong>s legou ao presente um consi<strong>de</strong>rável<br />

acervo patrimonial, que apenas recentemente vem <strong>de</strong>spertando<br />

interesse <strong>de</strong> preservação 1 , e uma gran<strong>de</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> objetos relacionados a essas práticas, ain<strong>da</strong> encontrados<br />

nas facul<strong>da</strong><strong>de</strong>, nos hospitais e guar<strong>da</strong>dos por particulares.<br />

OS MUSEUS E A PRESERVAÇÃO DA<br />

MEMÓRIA DA MEDICINA NO BRASIL<br />

Os museus são por excelência lugares <strong>de</strong> preservação e<br />

difusão <strong>da</strong> memória e são instituições que vêm crescendo ex-<br />

1 Em 2007, a Casa <strong>de</strong> Oswaldo Cruz/Fiocruz <strong>de</strong>u início à constituição <strong>da</strong> Re<strong>de</strong> Brasil<br />

<strong>de</strong> Patrimônio Cultural <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong>. Um dos objetivos <strong>da</strong> Re<strong>de</strong> foi a realização <strong>de</strong> um<br />

Inventário Nacional do Patrimônio Cultural <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong>: bens edificados e acervos,<br />

contemplando o mesmo período do projeto <strong>de</strong>senvolvido no Rio <strong>de</strong> Janeiro e tendo<br />

como áreas <strong>de</strong> abrangência algumas capitais brasileiras (Porto Alegre, Florianópolis,<br />

São Paulo, Belo Horizonte, Salvador e Goiânia). COSTA, Renato <strong>da</strong> Gama-Rosa; SAN-<br />

GLARD, Gisele. Patrimônio Cultural <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong>: uma história possível? Anpuh, Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, 2008. Disponível em: <br />

ponencialmente no Brasil. Este fenômeno, associado ao <strong>de</strong>sejo<br />

<strong>de</strong> memória, fez com que tivéssemos um crescimento <strong>de</strong> 200<br />

instituições e mais três mil estabelecimentos em pouco mais<br />

<strong>de</strong> 50 anos. 2<br />

Alguns trabalhos têm se proposto a analisar esta questão,<br />

enten<strong>de</strong>r por que a proliferação <strong>de</strong> museus ao redor do<br />

globo e as explicações gravitam em torno <strong>de</strong> análises que vão<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> mercantilização do patrimônio, passando por novas responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

sociais, re<strong>de</strong>scoberta do território e seus atrativos<br />

patrimoniais, extensão <strong>da</strong> educação, explosão consumista<br />

também em termos culturais e a cultura do ócio (BALLART;<br />

TRESSERRAS, 2007). Outro elemento por trás <strong>de</strong>sta proliferação<br />

<strong>de</strong> museus está associado à necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> referenciais<br />

culturais próprios por parte dos diferentes grupos sociais. Categorias<br />

como a nação, outrora utiliza<strong>da</strong>s para i<strong>de</strong>ntificar uma<br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong> inteira, se mostraram ao longo do tempo pouco<br />

eficazes.<br />

A diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> cultural foi coloca<strong>da</strong> à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> por influência<br />

<strong>da</strong> antropologia. Os grupos sociais, inicialmente marginais<br />

no sentido <strong>de</strong> não reconhecidos na plenitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu<br />

protagonismo, inclusive pela historiografia, como negros, mulheres,<br />

trabalhadores rurais etc., aos poucos passaram a reivindicar<br />

sua história e também a reivindicar a preservação <strong>de</strong><br />

seus patrimônios (ABREU, 2009). Esta on<strong>da</strong> <strong>de</strong> reivindicações<br />

atingiu distintos grupos sociais, entre os quais se <strong>de</strong>stacam<br />

grupos profissionais, como os médicos.<br />

Os museus são instrumentos importantes, bem o sabemos,<br />

na construção <strong>de</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s, como <strong>de</strong>monstram os<br />

gran<strong>de</strong>s museus nacionais do século XIX (ALONSO, 2004). Em<br />

relação aos museus <strong>de</strong> medicina, esse propósito <strong>de</strong> construção/reafirmação<br />

<strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> profissional também se<br />

faz presente. Preservar e divulgar o passado <strong>de</strong> uma profissão,<br />

construir lugares <strong>de</strong> memória (NORA, 1984), como um museu,<br />

implicam na formação <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

No universo museal brasileiro, os museus <strong>de</strong> medicina<br />

têm ocupado um lugar ain<strong>da</strong> pequeno, porém, consi<strong>de</strong>rando<br />

2 Dados com base no site do Ca<strong>da</strong>stro Nacional <strong>de</strong> <strong>Museu</strong>s. A progressão representa<strong>da</strong><br />

no quadro <strong>de</strong>ve levar em consi<strong>de</strong>ração uma melhora consi<strong>de</strong>rável nos meios <strong>de</strong><br />

promover pesquisas com o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ferramentas tecnológicas que permitem<br />

mapear um maior número <strong>de</strong> instituições. INSTITUTO BRASILEIRO DE MUSEUS.<br />

<strong>Museu</strong>s em Números, v. 2. Brasília: Instituto Brasileiro <strong>de</strong> <strong>Museu</strong>s, 2011.<br />

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