22.12.2016 Views

MUHM - Museu de História da Medicina

Um acervo vivo que faz ponte entre o ontem e o hoje.

Um acervo vivo que faz ponte entre o ontem e o hoje.

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

MÉDICOS ALEMÃES, HÚNGAROS E AUSTRÍACOS NO RIO GRANDE DO SUL<br />

muito até o dia <strong>da</strong> toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> Paris pelo exército alemão, em<br />

junho <strong>de</strong> 1940, quando chegou a fumar três maços <strong>de</strong> cigarros,<br />

sofrendo forte intoxicação. “Tudo está perdido!”, foi sua<br />

exclamação. Des<strong>de</strong> então, nunca mais botou sequer um único<br />

cigarro na boca. Se foi “promessa”, não se sabe. A ver<strong>da</strong><strong>de</strong> é<br />

que funcionou: tanto para o <strong>de</strong>sfecho <strong>da</strong> guerra quanto para<br />

a saú<strong>de</strong> dos seus pulmões.<br />

Possuía um pequeno aparelho <strong>de</strong> raio-X numa sala anexa<br />

ao consultório, com as pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente protegi<strong>da</strong>s contra<br />

radiação. O aparelho era suficiente para radiografias ósseas<br />

e <strong>de</strong> tórax.<br />

Era apreciador <strong>da</strong> música clássica e não perdia apresentações<br />

musicais nem concertos. Tinha vasta discoteca e discutia<br />

suas últimas aquisições, adquiri<strong>da</strong>s na loja especializa<strong>da</strong><br />

“Studio Os Dois”, <strong>da</strong> Rua <strong>da</strong> Praia, com seu amicíssimo<br />

Herbert Caro – posteriormente, tradutor premiado <strong>da</strong> obra A<br />

montanha mágica, <strong>de</strong> Thomas Mann –, enquanto tomavam<br />

cafezinho, juntos com outros amigos, em todos os inícios <strong>de</strong><br />

tar<strong>de</strong>, na Rua Andra<strong>de</strong> Neves, esquina com a Travessa Acilino<br />

Carvalho.<br />

Revalidou seu diploma em 1948, adquirindo o direito <strong>de</strong><br />

exercer a <strong>Medicina</strong> em todo o território nacional. Fazia parte<br />

do grupo dos “médicos estrangeiros”, contemporâneos entre<br />

si, todos imigrantes com histórias <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> semelhantes à<br />

sua e que clinicavam no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul nas déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />

30 a 80 do século passado: os médicos <strong>de</strong> origem húngara<br />

Alexandre Kovács, médico-cirurgião e ginecologista; Ladislau<br />

Ruttkay, médico-cirurgião e ginecologista; Lothar Fertig, i<strong>de</strong>m;<br />

José Salanky, médico urologista; Jacob Kovács, médico-cirurgião;<br />

Luiz Kelen, médico clínico; Júlio Hegedüs, i<strong>de</strong>m; Hugo<br />

Rottmann, otorrino e cirurgião plástico; os irmãos cirurgiões<br />

Nicolau e Estevão Batori; e o clínico André Bator. Entre os médicos<br />

alemães, Otto Goldberg, médico generalista; Walter Silber,<br />

médico pediatra; Walter Bouscher, cirurgião e ginecologista;<br />

Rodolfo Behrendt, médico oftalmologista; Rodolfo Meyer,<br />

cirurgião e também músico violinista; Walter Jacob, médico-cirurgião<br />

e ginecologista; e Erich Albersheim, clínico e pediatra;<br />

a médica clínica, endocrinologista e geriatra Helena Seifer; e o<br />

médico austríaco generalista Siegfried Kronfeld; e muitos outros<br />

igualmente importantes para a medicina do Rio Gran<strong>de</strong><br />

do Sul e que já se encontravam aqui havia mais tempo: Karl<br />

Schinke, Carlos Nelz, Roberto Fleischhut, José Aloísio Brugger,<br />

Erich Annerl, todos clínicos e cirurgiões gerais. Tinha profundo<br />

respeito pelos médicos práticos Gabriel Schlatter e Fre<strong>de</strong>rico<br />

Eggler. Conhecia e nos relatava a história épica <strong>de</strong> Heinz Von<br />

Ortenberg e <strong>de</strong> Hermann Von Ihering no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul.<br />

Quando minha mãe faleceu, em 8 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1981,<br />

o pai nunca mais recuperou a alegria, embora atendido carinhosa<br />

e permanentemente pelos filhos, genro, nora e netos.<br />

Clinicou em seu consultório até a i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> 85 anos. Faleceu<br />

em 27 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1992, alguns meses após uma que<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> qual resultaram sequelas cerebrais graves.<br />

ALEXANDRE KOVÁCS (1889-1962) nasceu na Hungria e<br />

formou-se em Bu<strong>da</strong>peste. Emigrou em 1931. Exerceu a clínica<br />

e cirurgia geral em Lajeado, Arroio do Meio e Roca Sales, município<br />

<strong>de</strong> Estrela. Foi um dos fun<strong>da</strong>dores do Hospital São Roque<br />

<strong>de</strong> Lajeado junto com Dr. Fleischhut e Bruno Born. Trouxe <strong>da</strong><br />

Hungria todo seu material cirúrgico, inclusive material odontológico<br />

e broca movi<strong>da</strong> a pe<strong>da</strong>l. Operou frequentemente em dupla<br />

com seu xará, Dr. Alexandre Preger. Em Porto Alegre a partir <strong>de</strong><br />

1944, clinicou na Galeria Chaves, na antiga Rua <strong>da</strong> Praia, hoje<br />

Rua dos Andra<strong>da</strong>s, nos altos <strong>da</strong> Livraria do Globo.<br />

ERICH ALBERSHEIM (1897-1982), originário <strong>de</strong> Emmerich,<br />

Alemanha, formou-se médico na Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Köln<br />

(Colônia). Estagiou na Clínica Pediátrica do Prof. Schlossmann,<br />

em Düsseldorf, Alemanha (Figura 25). Emigrou em 1937 a<br />

convite do amigo <strong>de</strong> infância na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> natal, Dr. Walter Jacob,<br />

que já clinicava no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Atuou inicialmente em<br />

Santa Maria do Herval, auxiliado por sua esposa, D. Erna, enfermeira<br />

forma<strong>da</strong> na Alemanha e que mais tar<strong>de</strong> especializouse<br />

como operadora <strong>de</strong> radioterapia. Em Porto Alegre, exerceu<br />

a clínica geral e pediatria. Tinha excelente e bela caligrafia, em<br />

oposição a outros colegas, como o pai do autor, Dr. Alexandre<br />

Preger, <strong>de</strong> caligrafia in<strong>de</strong>cifrável aos olhos do homem comum.<br />

Deixou manuscrita, em alemão, sua autobiografia na qual relata<br />

sua <strong>de</strong>dicação ao bem-estar e à saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus pacientes<br />

MUSEU DE HISTÓRIA DA MEDICINA - <strong>MUHM</strong>: um acervo vivo que se faz ponte entre o ontem e o hoje 135

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!