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MUHM - Museu de História da Medicina

Um acervo vivo que faz ponte entre o ontem e o hoje.

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<strong>Medicina</strong> militar no rio gran<strong>de</strong> do sul<br />

o imperador solicitou, não or<strong>de</strong>nou. Des<strong>de</strong> então, foram cria<strong>da</strong>s<br />

Santas Casas em várias ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s do Rio Gran<strong>de</strong> e nelas<br />

passaram a trabalhar cirurgiões e doutores em hospitais administrados<br />

pelas Irman<strong>da</strong><strong>de</strong>s, sem vínculo militar. A proibição<br />

dos hospitais militares aten<strong>de</strong>rem civis foi um gran<strong>de</strong> impulso<br />

para a fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s Santas Casas e <strong>de</strong> outras enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s hospitalares<br />

pelo Rio Gran<strong>de</strong>. Mas, como seria <strong>de</strong> esperar, foram<br />

os cirurgiões militares os primeiros médicos a trabalhar nestas<br />

enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Assim, em Bagé, por exemplo, coube ao Dr. Albano<br />

<strong>de</strong> Souza, militar, e ao Dr. Francisco <strong>de</strong> Azevedo Penna, civil,<br />

iniciarem as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> Santa Casa local. Ambos exerceram<br />

a medicina <strong>de</strong> tal modo, que mereceram estátua-túmulo<br />

em praça histórica ou virar nome <strong>de</strong> logradouro público. Em<br />

to<strong>da</strong>s as Santas Casas pelo Rio Gran<strong>de</strong>, misturaram-se médicos<br />

militares e civis, todos irmanados em prestar serviços às<br />

populações crescentes. O certo é que, em diferentes épocas,<br />

hospitais nascidos dos esforços <strong>de</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s portuguesa,<br />

alemã e italiana, com ou sem vinculação religiosa, continuaram<br />

a misturar médicos civis e militares no atendimento <strong>de</strong><br />

seus doentes.<br />

Em fevereiro <strong>de</strong> 1833, num Brasil in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e às vésperas<br />

<strong>da</strong> Revolução Farroupilha, a Câmara Municipal <strong>de</strong> Porto<br />

Alegre exigiu que os profissionais <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> que nela atuavam<br />

exibissem seus diplomas. Comprovou-se que apenas Marciano<br />

Pereira Ribeiro e Américo Cabral <strong>de</strong> Melo eram doutores<br />

em <strong>Medicina</strong>, pois o Dr. Júlio Muzzi falecera recentemente. Os<br />

cirurgiões foram classificados em quatro categorias: um com<br />

formação regular, Baltazar Pereira Gue<strong>de</strong>s; o cirurgião-mor<br />

Inácio Joaquim <strong>de</strong> Paiva, remanescente dos antigos cirurgiões<br />

militares; Antônio José Ramos, José Carlos Pinto, Manoel José<br />

Henrique Cruz, Veríssimo <strong>da</strong> Silva Rosa e Ambrósio Machado<br />

<strong>de</strong> Assumpção, apresentados como cirurgiões sem outros<br />

qualificativos; e como cirurgiões-aju<strong>da</strong>ntes constavam Manoel<br />

Vaz Ferreira e Manoel Antônio <strong>de</strong> Magalhães Calvet. A Câmara<br />

criou óbices às qualificações do Dr. Charles André Lonique,<br />

que teria feito formação em Marselha, do inglês Roberto<br />

Lan<strong>de</strong>ll e <strong>de</strong> Dionísio <strong>de</strong> Oliveira Silveiro, que cursara Coimbra<br />

até o quarto ano <strong>de</strong> formação. Após admitir como válido documento<br />

apresentado por Roberto Lan<strong>de</strong>ll, em setembro do<br />

mesmo ano, a Câmara admitiu mais cirurgiões, cirurgiões-aju<strong>da</strong>ntes<br />

e boticários, além do doutor em medicina, cirurgia e<br />

obstetrícia João Daniel Hillebrand, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para<br />

a colonização alemã em São Leopoldo. Sérgio <strong>da</strong> Costa Franco<br />

(2003) afirma:<br />

Começava a profissão médica a ganhar uma estrutura<br />

civil, fora dos quartéis e dos hospitais militares,<br />

on<strong>de</strong> inicialmente havia florescido. Continuariam,<br />

entretanto, curan<strong>de</strong>iros e charlatães a atuar, com<br />

plena <strong>de</strong>senvoltura, em todos os recantos do Rio<br />

Gran<strong>de</strong> do Sul, em razão <strong>da</strong> invencível escassez <strong>de</strong><br />

profissionais habilitados.<br />

Não foram poucas as guerras que envolveram Portugal<br />

e Espanha e que se esten<strong>de</strong>ram a suas colônias na América<br />

do Sul. Elas prosseguiram quando as colônias passaram a Reino<br />

Unido e Vice-Reinados e não acabaram quando as antigas<br />

possessões viraram países in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. No Império Brasileiro<br />

não faltaram guerras externas e to<strong>da</strong>s elas envolviam diretamente<br />

o território que hoje correspon<strong>de</strong> ao Rio Gran<strong>de</strong><br />

do Sul. Não bastasse isso, houve revoluções, e também aí a<br />

mais duradoura foi a Farroupilha, que envolveu diretamente<br />

o sul do Brasil. Nenhum relato sobre a medicina militar no<br />

Rio Gran<strong>de</strong> do Sul será completo se não se <strong>de</strong>tiver no que<br />

era feito durante as revoluções, nas guerras entre irmãos, que<br />

<strong>de</strong>vastaram o estado em diferentes épocas e <strong>de</strong>rramaram o<br />

sangue <strong>de</strong> continentinos e gaúchos, sem contar a participação<br />

em revoluções e escaramuças que convulsionaram as pátrias<br />

uruguaia e argentina. As áreas <strong>de</strong> fronteira sempre funcionaram<br />

como fornecedoras <strong>de</strong> homens, <strong>de</strong> cavalos, <strong>de</strong> munição<br />

militar e <strong>de</strong> boca, bem como serviram <strong>de</strong> abrigo, <strong>de</strong> asilo e<br />

como hospital ou local para atendimento médico dos feridos<br />

e dos doentes <strong>da</strong>s forças revolucionárias. Tais serviços sempre<br />

foram prestados em ambos os lados <strong>de</strong> uma fronteira e pouco<br />

<strong>de</strong>pendiam <strong>da</strong>s instruções dos governos <strong>de</strong> qualquer uma<br />

<strong>da</strong>s pátrias envolvi<strong>da</strong>s. Ações <strong>de</strong> grupos guerreiros na fronteira<br />

anteciparam e continuaram a chama<strong>da</strong> Guerra <strong>da</strong> Cisplatina.<br />

Basta dizer que Bento Gonçalves foi militar e autori<strong>da</strong><strong>de</strong> civil<br />

no Uruguai brasileiro. Do mesmo modo, o uruguaio Gumercindo<br />

Saraiva foi <strong>de</strong>legado <strong>de</strong> polícia em Santa Vitória do Pal-<br />

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