MUHM - Museu de História da Medicina

More documents

Info

Luciano Raul Panatieri e Veridiano Farias No dia 16 de maio do ano de 2006, o GT Negros da Associação Nacional de História – Seção do Rio Grande do Sul (ANPUH-RS) realizou em parceria com Éder Farias, neto do médico Veridiano Farias (1906-1952), um encontro dedicado à memória de seu avô. Na época, exercia a função de assistente cultural no Memorial do Rio Grande do Sul, além de ser membro do GT. O evento aconteceu nas dependências do próprio Memorial, localizado no Centro Histórico da cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. A atividade era alusiva ao centenário de nascimento de Veridiano Farias (1906-2006), considerado por membros da comunidade negra o primeiro médico negro formado em uma faculdade pública do Estado. Na ocasião, recorda-se com satisfação a oportunidade de participar da comissão organizadora do encontro, visto que havia conhecido a história de Veridiano Farias, “o teimoso”, através de uma edição do jornal A Hora, publicado no ano de 1954 (A HORA, 1954, p. 7). Tal impresso foi consultado no acervo particular do Sr. José Domingos Alves da Silveira, colecionador de jornais residente na cidade de Viamão, região da Grande Porto Alegre. 1 1 A coleção do senhor José Domingos Alves da Silveira começou a partir de seu trabalho no serviço de Engenharia da V Zona Aérea da Aeronáutica (V COMAR) na década de 1940. Ali, passou a recolher os jornais que sobravam e eram devolvidos para reciclagem. Nesse trabalho de “garimpagem”, como ele mesmo denomina, foi selecionando recortes e reportagens dos mais diferentes assuntos: história, personalidades, meio ambiente, política etc. Alguns dos jornais que compõem o acervo são: Jornal do Brasil; Folha de São Paulo; Última Hora/RJ; Correio da Manhã/RJ; Correio do Povo/RS; A Hora/RS; Zero Hora/RS; Jornal do Comércio/RS; Diário do Sul/RS; El País, de Montevidéu; e as revistas Manchete; Seleções; Realidade, entre outras, além de livros raros amealhados em sebos de Porto Alegre e na cidade de Alvorada, RS (PEREIRA, 2008, p.51). MUSEU DE HISTÓRIA DA MEDICINA - MUHM: um acervo vivo que se faz ponte entre o ontem e o hoje 157
Luciano Raul Panatieri e Veridiano Farias Farias recebeu a alcunha de “o teimoso” nas escritas do médico Isaac Kelbert, autor da matéria publicada no referido impresso. Kelbert foi seu colega de curso e produziu uma extensa notícia sobre a inesquecível trajetória de Farias, recompensada na formatura de colação de grau da turma de Medicina da UFRGS, em 1951. Solenidade na qual esteve presente e pode testemunhar a realização de um sonho protagonizado pelo esforço intelectual de um indivíduo negro. Esse evento, bem como as palmas ouvidas e assistidas pelos espectadores daquela noite, o motivou a escrever o artigo no ano de 1954, dois anos após o falecimento de Farias, ocorrido em 1952. A trajetória deste médico também havia sido destacada, em 2005, pela pesquisadora Irene Santos, no livro Negro em Preto e Branco – História fotográfica da população negra de Porto Alegre. Na publicação a autora evidenciou a luta de Veridiano Farias para vencer a intolerância racial, já que precisou de três oportunidades para se diplomar como médico, necessitando de intervenção da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro para ingressar na Faculdade de Medicina da UFRGS (SANTOS, 2005, p. 78-79). 2 Portanto, assim que o neto de Veridiano, Éder Farias, que exercia a função de carteiro na Empresa Brasileira dos Correios e Telégrafos da região de Porto Alegre, procurou-nos, iniciouse uma “ação”, como diz Arendt (2011), com seus respectivos desdobramentos. Ciente da trajetória de seu avô e de sua referência para a comunidade negra, elaborou-se o projeto intitulado “Projeto Diversidade Memória Gaúcha – centenário do médico Veridiano Farias”. A principal justificativa encaminhada à direção do Memorial do Rio Grande do Sul para concretização do evento foi justamente o pioneirismo de Verdiano Farias, na ocasião considerado o primeiro médico negro a se formar pela Uni- 2 Na publicação de Irene Santos, as jornalistas e pesquisadoras Vera Deyse Barcellos e Silvia Abreu destacaram a um jornal de grande circulação do estado que haviam descoberto o seguinte: “o neto do primeiro médico negro que temos notícia é carteiro em Porto Alegre e conseguimos falar com ele para sabermos um pouco mais de Veridiano Farias, seu avô” (ZERO HORA, Caderno D, Porto Alegre, 18 set. 2005, p. 3-4). Porém, no dia 30 de setembro de 2005, após tomar conhecimento do lançamento do livro em matéria jornalística, Marta Maria de Souza Panatieri, filha de Panatieri, enviou uma carta à Zero Hora, informando sobre a existência de um Espaço Cultural localizado na cidade de Rio Pardo, interior do Rio Grande do Sul, destinado à memória do Dr. Luciano Panatieri, “Negro”. versidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O evento foi prontamente aceito pela direção da instituição. O encontro contou com ex-colegas do homenageado in memoriam, como o Dr. Isaac Kelbert e o Dr. Francisco Flores da Cunha Mattos, amigos do médico negro, além de membros da comunidade. Foi uma atividade inesquecível, principalmente por conta das falas a partir das “lembranças dos mais velhos” (BOSI, 1979) presentes ao evento que conviveram com “o teimoso”. Mas por que iniciar o trabalho com estas lembranças? No dia posterior à atividade, após receber as congratulações da direção do Memorial, principalmente pelo impacto do evento junto aos meios culturais e da imprensa 3 , um jornalista da Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS) e um funcionário do Museu da História da Medicina (MUHM) procuraram-nos. Ambos informaram-nos sobre a existência de outro médico negro anterior ao homenageado, seu nome: Luciano Raul Panatieri (1897-1972). Mas como assim, Panatieri? E isto é nome de negro? Ou como noticiou o próprio Jornal AMRIGS: “Mas isso não é sobrenome de gringo?” (AMRIGS, 2006, p.15). Interessante notar que o equívoco cometido a partir do evento motivou os familiares do médico Luciano Raul Panatieri a buscar a imprensa para confirmar sua identidade étnica, bem como reivindicar a sua condição de primeiro negro a se diplomar na universidade pública do Rio Grande do Sul, de fato, ocorrido no ano de 1922. 4 Na época de Panatieri a faculdade era denominada Faculdade Livre de Medicina e Farmácia de Porto Alegre (SCHIAVO- NI, 2005, p. 1). Veridiano somente concluiu o seu curso no dia 15 de dezembro de 1951, com a faculdade já federalizada, 29 anos depois de Panatieri. 3 No dia da atividade o jornal Zero Hora, em sua seção intitulada Almanaque Gaúcho, noticiou a atividade do centenário do Dr. Veridiano, destacando o jazz como “uma das paixões de Veridiano Farias, o primeiro negro a formar-se médico pela UFRGS” (ZERO HORA, Porto Alegre, 16 maio 2006, p. 62). 4 As irmãs Elvira e Marta Panatieri (1937-2013), filhas de Luciano Panatieri, juntamente com o neto do médico, Ramiro, e familiares, com mais intensidade, se mobilizaram para comprovar que seu avô Luciano Panatieri foi o primeiro médico negro a se formar na Faculdade de Medicina (ZERO HORA, Porto Alegre, 27 maio 2006, p. 46; Jornal AMRIGS, Porto Alegre, julho/agosto, p. 15). Antes desta matéria, no dia 24 de maio, José Ernesto Wunderlich, “afilhado de batismo” de Luciano Panatieri, enviou um e-mail à Zero Hora para informar que o primeiro médico negro a se formar pela Faculdade de Medicina de Porto Alegre havia sido Panatieri. 158 MUSEU DE HISTÓRIA DA MEDICINA - MUHM: um acervo vivo que se faz ponte entre o ontem e o hoje
Page 3 and 4:
© Copyright: dos autores 1ª ediç
Page 5 and 6:
Realização: Patrocínio:
Page 7 and 8:
Prefácio Dr. PAULO DE ARGOLLO MEND
Page 9 and 10:
Sumário
Page 11 and 12:
Introdução
Page 13 and 14:
Para além da medicina da alma PARA
Page 15 and 16:
Para além da medicina da alma não
Page 17 and 18:
Para além da medicina da alma ou n
Page 19 and 20:
Para além da medicina da alma cont
Page 21 and 22:
Para além da medicina da alma esta
Page 23 and 24:
Para além da medicina da alma de p
Page 25 and 26:
A medicina missioneira entre a ciê
Page 27 and 28:
Page 29 and 30:
Page 31 and 32:
Page 33 and 34:
Page 35 and 36:
Page 37 and 38:
Obra: Diccionario de medicina popul
Page 39 and 40:
Ventosas a fogo Acervo: Ryfka Djame
Page 41 and 42:
MEDICINA E CARIDADE: a construção
Page 43 and 44:
Medicina e caridade à conformaçã
Page 45 and 46:
Medicina e caridade social e escrav
Page 47 and 48:
Medicina e caridade que, “em verd
Page 49 and 50:
Medicina e caridade cia tem fortes
Page 51 and 52:
Medicina e caridade BOSCHI, Caio C
Page 53 and 54:
Balança pediátrica Acervo: Socied
Page 55 and 56:
Frasco de medicamento Peitoral Soel
Page 57 and 58:
MEDICINA MILITAR NO RIO GRANDE DO S
Page 59 and 60:
Medicina militar no rio grande do s
Page 61 and 62:
Page 63 and 64:
Page 65 and 66:
Page 67 and 68:
Page 69 and 70:
Page 71 and 72:
Page 73 and 74:
O ENSINO MÉDICO NO RIO GRANDE DO S
Page 75 and 76:
Page 77 and 78:
Diploma de Wilson Teixeira Netto, r
Page 79 and 80:
Fotografia doutorandos de 1921 da E
Page 81 and 82:
Page 83 and 84:
Tese Inaugural de Ottorino Frasca,
Page 85 and 86:
Diploma de Luciano Raul Panatieri,
Page 87 and 88:
Page 89 and 90:
Page 91 and 92:
Microscópio caseiro Acervo: Dr. Ha
Page 93 and 94:
Obra: Ginecologia prática: para m
Page 95 and 96:
O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) GE
Page 97 and 98:
O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) ti
Page 99 and 100:
Livro de Matrícula de Sócios Acer
Page 101 and 102:
O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) Os
Page 103 and 104:
O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) de
Page 105 and 106:
O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) -i
Page 107 and 108: O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)
Page 109 and 110: O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) RI
Page 111 and 112: O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) ob
Page 113 and 114: MÉDICOS ALEMÃES, HÚNGAROS E AUST
Page 123 and 124: Diploma de Medicina de Segismundo P
Page 125 and 126: Obra: Bilz, das neue naturheilverfa
Page 131 and 132: Phantom Acervo: Dr. Gabriel Schlatt
Page 133 and 134: Aparelho para Eletroconvulsoterapia
Page 143 and 144: Esqueleto humano Acervo: Dr. Gabrie
Page 145 and 146: A CONTRIBUIÇÃO DOS MÉDICOS ITALI
Page 151 and 152: Caderneta do estudante Pascoal Adri
Page 157: Luciano Raul Panatieri e Veridiano
Page 161 and 162: Retrato do Dr. Luciano Raul Panatie
Page 163 and 164: Luciano Raul Panatieri e Veridiano
Page 167 and 168: Luciano Raul PANATIERI e Veridiano
Page 169 and 170: Luciano Raul PANATIERI e Veridiano
Page 173 and 174: Médicos judeus no Rio Grande do Su
Page 185 and 186: A PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA MÉDICA
Page 189 and 190: Carteira Profissional de médico, 1
Page 191 and 192: Estojo com seringa Acervo: Dr. Luis
Page 193 and 194: Mata borrão Acervo: Dr. Mário Ber
Page 195 and 196: Coleção Testut Acervo: Dr. Albert
Page 197 and 198: Obra: Formulário e Guia Médico Au
Page 199 and 200: Acervo MUHM Cadernos de partos, 195
Page 203 and 204: Estetoscópio de Pinard Acervo: Dr.
Page 205 and 206: Foto do Curso de Cirurgia Abdominal
Page 207 and 208: Tese: Da intoxicação pelo amor -
Page 209 and 210:
Caixa de lentes Acervo: Dr. Lauro P
Page 211 and 212:
Ata de Fundação do Sindicato Méd
Page 213 and 214:
Obra: Lições de Eugenia Autor: Ke
Page 215 and 216:
Obra: Ginecologia prática: para m
Page 217 and 218:
A PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA MÉDICA
Page 219 and 220:
A PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA MÉDICA
Page 221 and 222:
Organização do Acervo do Sindicat
Page 223 and 224:
Armazenamento do Acervo Bibliográf
Page 225 and 226:
Acondicionamento e armazenamento de
Page 227 and 228:
Higienização do Pulmão de Aço -
Page 229 and 230:
Higienização de acervo - Seção
Page 231 and 232:
Higienização de acervo - Seção
Page 233 and 234:
Armazenamento e acondicionamento -
Page 235 and 236:
Atividade Educativa “Acerte no Go
Page 237 and 238:
Ações com a Comunidade Atividade
Page 239 and 240:
Atividade Educativa “As Aventuras
Page 241 and 242:
Atividade Educativa “Imagens que
Page 243 and 244:
Atividade Educativa “Minha Camisa
Page 245 and 246:
Atividade Educativa Projeto Museu v
Page 247 and 248:
Atividade Educativa “Olhar sobre
Page 249:
Realização: Patrocínio:
show all

MUHM - Museu de História da Medicina

Create successful ePaper yourself

Delete template?

Save as template?