MUHM - Museu de História da Medicina

A medicina missioneira entre a ciência europeia e os saberes nativos
pelos missionários dos pueblos no momento das viagens à Europa.
Poucos são os pedidos claros para a compra de instrumentos,
livros e receitas médicas. Os principais gêneros arrolados
são erva mate, gado, vinho, entre outras coisas produzidas
nas missões. Ainda assim, foram encontrados alguns exemplos
que evidenciam o intercâmbio, ainda que tímido desses produtos:
Carta Del Padre Manuel De Campos Al Padre Juan
Joseph Rico Sobre Despacho De Letras De Cambio
Y Acerca De Compra De Relojes Y Telescopios.
(Legajo 412 6-9-7- 589-1744); Carta Del Padre Manuel
De Campos Al Padre Juan Joseph Rico Sobre
Despacho De Dinero Y Compra De Relojes Y Telescopios.
(Legajo 412 6-9-7- 609-1744); Carta Del
Padre Manuel De Campos Al Padre Juan Joseph
Rico Sobre Despacho De Dinero Y Envío De Relojes
Y Telescopios. (Legajo 412 6-9-7- 632-1744).
Um fator que fica cada vez mais claro é o constante intercâmbio
de saberes entre os membros da Ordem e europeus
em geral com os povos nativos. Sem maior conhecimento da
região e expostos aos mais diversos riscos, esses homens, ainda
que pontuassem suas narrativas com restrições sobre os
indígenas procurando colocá-los em posição inferior, necessitavam
constantemente recorrer a eles. Ainda que as riquezas e a
exuberância da América fossem atribuídas a Deus, a conquista
e o domínio sobre suas potencialidades só foi possível no contato
e na troca de conhecimentos com os nativos.
Para que avancemos ainda mais, é necessário que aprofundemos
a discussão sobre como efetivamente fármacos, receitas
e manuais de medicina circulavam entre os continentes
e, mais importante, dentro do território americano. Desvendando
os “níveis de circulação” existentes no continente, poderemos
compreender quais os recursos disponíveis em cada
uma das áreas e observar como os novos conhecimentos foram
aos poucos tornando-se lugar comum através da experimentação.
Relógios, telescópios e livros foram mencionados. Porém,
pedidos de instrumentos utilizados para o tratamento médico
não foram localizados. Uma das hipóteses para isso seria a
simplicidade destes no período. Com a medicina ainda extremamente
ligada à teoria hipocrático-galênica, as lancetas para
sangria, tesouras e serras para cortes ainda eram os principais
instrumentos utilizados, ainda que ao longo do XVIII o campo
cirúrgico tenha iniciado um avanço que se mostraria irreversível.
CONCLUSÃO
Os documentos analisados permitem que criemos uma
imagem mais clara sobre a atuação jesuítica junto às artes de
curar. As diversas lacunas e ausência de dados podem ser explicadas
pelo fato de que essa não deveria ser a função principal
dos membros da Ordem. Talvez por isso, muitas vezes
esses sujeitos tenham evitado mencionar suas atividades ou
procurado ressaltar que, se o faziam, era em nome da caridade,
obrigatória aos membros da Companhia de Jesus.
REFERÊNCIAS
ANAGNOSTOU, Sabine. The international transfer of medicinal
drugs by Society of Jesus (sixteenth to eighteenth centuries) and
connections with the work of Carolus Clusius. Royal Netherlands
Academy of Arts and Sciences, 2007, p. 293-312.
AHUNC. Documentos de la Junta de las Temporalidades de Córdoba,
caja 10, legajo 2, n. 27. Inventario formado por Lorenzo Infante
Boticario en la ciudad de Córdoba de los bienes medicinales (folios
4533r -4628r, jul. 1772, cópia).
BORBON, Felipe. Medicina y Cirugia Domestica Necessaria a los
pobres, y familiar à los ricos. Trascripta del Medico Caritativo, con
algunos remedios de otros autores. Valencia: Jayme de Bordazar y
Artazù editores, 1705.
BOUZA, Fernando. Corre Manuscrito. Una historia cultural del Siglo
de Oro. Madri: Marcial Pons Ediciones de Historia, 2001.
CARTAS Ânuas de la Provincia del Paraguay. São Leopoldo: Instituto
Anchietano de Pesquisa (IAP/UNISINOS), Transcrição de Carlos
Leonhardt, S. J. [1928], 1994. (mimeo) (1714- 1720); (1720- 30);
(1730-1735).
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