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MUHM - Museu de História da Medicina

Um acervo vivo que faz ponte entre o ontem e o hoje.

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<strong>Medicina</strong> militar no rio gran<strong>de</strong> do sul<br />

mar antes <strong>de</strong> Noventa-e-Três, e seu famoso irmão Aparício,<br />

<strong>de</strong>rrotado e ferido em revolução uruguaia, veio a falecer em<br />

território brasileiro, na estância <strong>da</strong> mãe do não menos famoso<br />

João Francisco Pereira <strong>de</strong> Souza, on<strong>de</strong> recebeu atendimento<br />

médico brasileiro. Aliás, as participações <strong>da</strong> família Saraiva, ou<br />

Saravia, no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul só se encerraram na Revolução<br />

<strong>de</strong> 1923, com a participação <strong>de</strong> Nepomuceno Saraiva, filho<br />

<strong>de</strong> Aparício e sobrinho <strong>de</strong> Gumercindo. Ele encerrou um ciclo<br />

familiar como participante <strong>da</strong>s forças governistas <strong>de</strong> Flores <strong>da</strong><br />

Cunha e morou por algum tempo na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Bagé.<br />

Mas voltando às ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s guerreiras do século XIX, não<br />

era fácil viver no Rio Gran<strong>de</strong> quando o Brasil e as Províncias<br />

Uni<strong>da</strong>s do Prata se guerreavam, e isso não se modificou muito<br />

com o surgimento do Uruguai como país livre e tampão entre<br />

Brasil e Argentina. Não eram sofisticados nem satisfatórios os<br />

atendimentos médicos na época. Sem antibióticos, anestesia<br />

geral, transfusões <strong>de</strong> sangue, a medicina oferecia parcos recursos<br />

nas chama<strong>da</strong>s enfermarias e nos hospitais <strong>de</strong> sangue.<br />

Mas sobrava i<strong>de</strong>alismo, boa vonta<strong>de</strong> e perícia aos médicos,<br />

sobretudo aos cirurgiões que amputavam membros, retiravam<br />

projetis <strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo e curavam ou aliviavam sofrimentos<br />

como podiam. E quando os feridos eram <strong>de</strong>slocados, o eram<br />

em carretas puxa<strong>da</strong>s a boi ou em carros tracionados por cavalos.<br />

Barcos <strong>de</strong> socorro <strong>de</strong>pendiam <strong>de</strong> portos e <strong>de</strong> rios navegáveis,<br />

como os trens <strong>de</strong>pendiam <strong>de</strong> vias férreas. Procuraremos<br />

ressaltar aspectos <strong>da</strong> assistência médica relacionados ao Rio<br />

Gran<strong>de</strong> do Sul, tanto nas guerras quanto nas revoluções. Na<br />

Guerra <strong>da</strong> Cisplatina houve a valorização <strong>da</strong>s chama<strong>da</strong>s enfermarias<br />

para assistir aos combatentes nas áreas <strong>de</strong> fronteira.<br />

Enfermarias e campos <strong>de</strong> batalha assistiram ao trabalho <strong>de</strong><br />

médicos, enfermeiros, padioleiros e <strong>de</strong> outros profissionais, e<br />

os hospitais embarcados <strong>da</strong> Marinha participaram, embora <strong>de</strong><br />

forma menos intensa que nas guerras posteriores.<br />

Pouco se sabe sobre as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s médicas durante a Revolução<br />

Farroupilha, mas há a certeza <strong>de</strong> que tanto os legalistas<br />

quanto os revolucionários buscavam o melhor que podiam<br />

do ponto <strong>de</strong> vista <strong>da</strong> assistência médica aos seus combatentes<br />

e <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma linha em que gestos <strong>de</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong> aconteciam<br />

com frequência. Era comum, ao final dos combates, que<br />

os feridos <strong>de</strong> ambas as forças fossem atendidos pelo serviço<br />

médico <strong>da</strong>s forças remanescentes nos locais dos confrontos.<br />

Entre os legalistas, havia em Porto Alegre e nas vilas principais<br />

as enfermarias dos hospitais militares e que muito funcionaram,<br />

até quando caíam em mãos dos revolucionários como<br />

aconteceu em Rio Pardo. A leal e valorosa Porto Alegre já contava<br />

com a Santa Casa <strong>de</strong> Misericórdia, construí<strong>da</strong> fora dos<br />

muros <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas que fora incluí<strong>da</strong> no sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa<br />

pelo estabelecimento <strong>de</strong> uma linha com trincheiras, muralhas<br />

e nichos <strong>de</strong> artilharia. Em pleno estado <strong>de</strong> sítio, foi aceita a manutenção<br />

do portão nos fundos do hospital, bem na linha divisória.<br />

Por ele eram escoados materiais e também servia para<br />

acesso ao cemitério. Ao final <strong>da</strong> revolução era reclamado o<br />

concerto <strong>da</strong> ponte levadiça do tal portão. Isso significava uma<br />

área <strong>de</strong> comunicação, funcional e respeita<strong>da</strong>, entre sitiados e<br />

sitiantes, e ganha maior valor quando se sabe que os cercos<br />

<strong>de</strong> Porto Alegre pelas forças farroupilhas foram três e duraram<br />

mais <strong>de</strong> quatro anos (FRANCO, 2003). Entre os farrapos, com<br />

recursos que se a<strong>da</strong>ptavam à luta <strong>de</strong> guerrilhas, nunca <strong>de</strong>ixou<br />

<strong>de</strong> haver alguma assistência, e entre eles atuavam cirurgiões,<br />

reconhecidos como tal no levantamento realizado em 1834<br />

em Porto Alegre. Tal é o caso dos lí<strong>de</strong>res farrapos Manoel Vaz<br />

Ferreira e Manoel Antônio <strong>de</strong> Magalhães Calvet, sem falar <strong>de</strong><br />

Pedro José <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, mais conhecido como Pedro Boticário,<br />

ou do próprio Gomes Jardim, que era conhecido por aplicar<br />

homeopatia. Vários episódios <strong>da</strong> Guerra dos Farrapos propiciaram<br />

informações sobre o atendimento médico tanto entre os<br />

legalistas quanto entre os farroupilhas.<br />

O final <strong>da</strong> Revolução Farroupilha está relacionado ao preparo<br />

<strong>da</strong> guerra contra Oribe e contra Rosas, que envolveram<br />

os habitantes do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul e mostraram a importância<br />

<strong>de</strong> assegurar serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> nos campos <strong>de</strong> batalha, sem<br />

<strong>de</strong>scui<strong>da</strong>r <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> retaguar<strong>da</strong> qualificados. Crescia a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> contar com as enfermarias nas zonas <strong>de</strong> fronteira,<br />

bem como <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nar a utilização <strong>de</strong> recursos brasileiros<br />

e dos insurgentes do Uruguai e <strong>da</strong> Argentina.<br />

A Guerra do Paraguai, pelo <strong>de</strong>spreparo do Brasil no seu<br />

início e até pela sua longa duração, muito exigiu dos serviços<br />

médicos. Hospitais <strong>de</strong> Sangue como os <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Paysandu<br />

ou o <strong>da</strong> Rua Esmeral<strong>da</strong> em Buenos Aires ganharam tanta<br />

importância para a Tríplice Aliança quanto o Hospital <strong>da</strong><br />

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