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Conquistas e desafios de um processo de diálogo social

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PORTUGUÊSA VISÃO DOS ATORES SOCIAIS6. A VISÃO DOS ATORES SOCIAISmeio <strong>de</strong> medidas provisórias, portarias, resoluções,atos unilaterais do po<strong>de</strong>r executivo, promover em mudançastópicas na legislação, havendo, no máximo, <strong>um</strong><strong>diálogo</strong> do governo com <strong>de</strong>terminados segmentos domovimento sindical e com setores do empresariado.Durante a campanha eleitoral <strong>de</strong> 2002, o entãocandidato Lula ass<strong>um</strong>iu o compromisso público, expressoem seu programa <strong>de</strong> governo, no sentido <strong>de</strong>promover <strong>um</strong>a retomada, ou seja, <strong>um</strong> novo <strong>processo</strong><strong>de</strong> negociação tripartite em torno dos temas concernentesàs relações do trabalho e ao direito do trabalho.O Fór<strong>um</strong> Nacional do Trabalho (FNT) foi entãoinstalado pelo Ministério do Trabalho e Emprego(MTE). De certa forma, como eu disse, ele é tributário<strong>de</strong>ssa herança, mas também representa <strong>um</strong> avançoem relação ao que se tentou fazer lá atrás. Um avançono sentido <strong>de</strong> que, ao contrário daquele fór<strong>um</strong>, que foi,basicamente, <strong>um</strong> fór<strong>um</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates, o Fór<strong>um</strong> Nacionaldo Trabalho se configurou como <strong>um</strong> fór<strong>um</strong> <strong>de</strong> negociação,com caráter tripartite, paritário e com amplaparticipação das Centrais Sindicais. A expectativa quecercou a instalação do FNT e que marcou todos osseus trabalhos era a <strong>de</strong> conduzir <strong>um</strong>a ampla ReformaSindical e Trabalhista no país, por meio do <strong>diálogo</strong>, danegociação tripartite nessas condições que eu expus.Eu creio que a principal virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse <strong>processo</strong>resi<strong>de</strong> na própria valorização do <strong>diálogo</strong> <strong>social</strong> comoponto <strong>de</strong> partida do esforço <strong>de</strong> negociação e comopressuposto <strong>de</strong> <strong>um</strong> novo or<strong>de</strong>namento jurídico institucionaldas relações <strong>de</strong> trabalho no Brasil. Essa idéia<strong>de</strong> valorização do <strong>diálogo</strong>, <strong>de</strong> aposta no princípio daboa fé, <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> <strong>um</strong> arcabouço <strong>de</strong> caráter<strong>de</strong>mocrático, supõe, como ponto <strong>de</strong> partida, que trabalhadores,empregadores e governo tenham, <strong>de</strong> antemão,a disposição <strong>de</strong> rever, <strong>de</strong> com<strong>um</strong> acordo, asregras do jogo que pautam as relações <strong>de</strong> trabalhono país. De maneira que não nos parece viável falarn<strong>um</strong>a reforma <strong>de</strong>mocrática das relações <strong>de</strong> trabalho,sem que se valorize a idéia do <strong>diálogo</strong> <strong>social</strong>, a idéiado tripartismo, a idéia <strong>de</strong> <strong>um</strong>a construção <strong>de</strong> forma negociada<strong>de</strong>sse novo mo<strong>de</strong>lo.A valorização do <strong>diálogo</strong> pautou a própria construçãodo Fór<strong>um</strong> Nacional do Trabalho. Ou seja, antesmesmo que o governo <strong>de</strong>finisse <strong>um</strong>a proposta, <strong>um</strong>aestratégia <strong>de</strong> encaminhamento do <strong>de</strong>bate, ele realizou<strong>um</strong>a ampla consulta a trabalhadores e empregadorespor meio das suas representações nacionais sobre asregras que pautaram, posteriormente, o <strong>de</strong>bate no âmbitodo Fór<strong>um</strong> Nacional do Trabalho. Então, parece-meque esta é <strong>um</strong>a questão fundamental: o <strong>diálogo</strong> <strong>social</strong>foi <strong>um</strong> princípio, <strong>um</strong> método e também <strong>um</strong> instr<strong>um</strong>ental,por meio do qual se construiu o próprio Fór<strong>um</strong>.Outra virtu<strong>de</strong> que <strong>de</strong>corre <strong>de</strong>ssa experiência é ofato <strong>de</strong> que Fór<strong>um</strong> Nacional do Trabalho propiciou,por meio do <strong>diálogo</strong>, <strong>um</strong> conhecimento mais estreitopor parte dos atores a respeito da infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> temasque as Reformas Sindical e Trabalhista abarcam. Naverda<strong>de</strong>, quando falamos <strong>de</strong>ssas reformas, estamosfalando <strong>de</strong> <strong>um</strong>a reforma <strong>de</strong> amplo sistema e que, portanto,requer mudanças gradativas, mudanças do tempo,que supõem, inclusive, <strong>um</strong> <strong>processo</strong> relativamente<strong>de</strong>morado <strong>de</strong> transição para as novas regras.O <strong>de</strong>bate propiciou também <strong>um</strong> conhecimento maisestreito entre os próprios atores. É da natureza dasrelações do trabalho a existência, a gestão dos conflitos,mas essa configuração e o histórico das relaçõesdo trabalho no Brasil sempre geram <strong>um</strong> alto grau <strong>de</strong><strong>de</strong>sconfiança entre os atores. De certa forma, o Fór<strong>um</strong>reduziu essa <strong>de</strong>sconfiança, criou <strong>um</strong> ambiente maispropício ao respeito mútuo, à prevalência da boa-fé, àbusca do entendimento.Eu creio que o principal <strong>de</strong>feito que o Fór<strong>um</strong> Nacionaldo Trabalho apresentou foi o fato <strong>de</strong> excluir, <strong>de</strong>certa medida, da mesa <strong>de</strong> negociação, a participaçãodas Confe<strong>de</strong>rações. Essa exclusão não ocorreu porforça <strong>de</strong> <strong>um</strong>a <strong>de</strong>cisão do governo, mesmo porque elepautou a composição das bancadas com base noscritérios já consagrados pela OIT. Coube a empregadorese trabalhadores a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> suas bancadas,por meio das suas representações nacionais. O queo governo fez foi fixar critérios gerais que pautassemessa escolha, tais como: as entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>veriam estarvinculadas a entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> caráter nacional, a entida<strong>de</strong>scom notório reconhecimento público e, preferencialmente,entida<strong>de</strong>s que já tivessem assento em órgãosdo conselho <strong>de</strong> fóruns públicos. Mas houve daparte dos trabalhadores <strong>um</strong>a divisão e é histórica, eque <strong>de</strong>corre do próprio entendimento diverso a respeitoda matéria que era objeto da negociação. Esse é oprimeiro problema.De certa maneira, o governo tentou contornar essequestionamento quanto à participação das Confe<strong>de</strong>rações,sugerindo às Centrais Sindicais que incorporassem,em suas bancadas, representantes dasConfe<strong>de</strong>rações e Fe<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> trabalhadores. Mas,para boa parte <strong>de</strong>las, isso foi consi<strong>de</strong>rado insatisfa-42 <strong>Conquistas</strong> e <strong><strong>de</strong>safios</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> <strong>processo</strong> <strong>de</strong> <strong>diálogo</strong> <strong>social</strong>: Reflexões dos atores para o futuro

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