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Conquistas e desafios de um processo de diálogo social

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PORTUGUÊSA VISÃO DOS ATORES EXTERNOStrabalhadores. E a causa principal disso foi exatamentea arrecadação obrigatória, cativa. Isso levou a <strong>um</strong>acomodamento dos sindicatos.Por outro lado, muitos sindicatos tiveram sua existênciabaseada simplesmente na arrecadação -e algunscom a arrecadação até muito alta, que acabou,em alguns casos, até a <strong>um</strong>a <strong>de</strong>turpação e fez que, oque é compreensível, porque é h<strong>um</strong>ano, muitos sindicatosficassem no domínio <strong>de</strong> <strong>um</strong>a minoria que nãoabria mão do po<strong>de</strong>r. Ficaram ali anos e, para se manteremno po<strong>de</strong>r, acabaram com <strong>um</strong> comportamentoque não era do interesse dos trabalhadores, mas sim<strong>de</strong> quem queria se manter no po<strong>de</strong>r.E a realida<strong>de</strong> nos mostra que, em inúmeras categorias,o grupo que domina já vem <strong>de</strong> décadas, semque haja renovação, sem que haja rotativida<strong>de</strong> no po<strong>de</strong>r.Achávamos que até <strong>um</strong>a das regras <strong>de</strong>sse novomo<strong>de</strong>lo que se propõe –embora isso fosse chocarmuito, temos certeza disso- seria limitar o número <strong>de</strong>reeleições. Hoje, o dirigente sindical é reeleito cinco,<strong>de</strong>z vezes. Fica no po<strong>de</strong>r, durante muitos anos, a mesmapessoa. Isso não é <strong>de</strong>mocracia. A característica da<strong>de</strong>mocracia é a rotativida<strong>de</strong> no po<strong>de</strong>r, que tem todasas suas vantagens <strong>de</strong> arejamento, <strong>de</strong> <strong>um</strong>a nova orientaçãoe <strong>de</strong> disputa. O novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>veria pensar em<strong>um</strong>a sistemática em que houvesse <strong>um</strong>a forma paraque existissem novas li<strong>de</strong>ranças, para que <strong>um</strong>a forçanova pu<strong>de</strong>sse estar no comando.Como visto, historicamente, houve essa arrecadaçãocativa e compreen<strong>de</strong>mos que não possa havermesmo <strong>um</strong>a ruptura absolutamente brusca quanto aesse sistema, porque inúmeros sindicatos não teriamcondição <strong>de</strong> sobrevivência.Então, é preciso mesmo que haja <strong>um</strong> período <strong>de</strong>transição, mas sabendo todos que, após alg<strong>um</strong> tempo,teriam <strong>de</strong> viver por conta própria, andar com as própriaspernas. E só sobreviveria aquele que realmenterepresentasse os trabalhadores e com a força daunião dos trabalhadores em <strong>de</strong>corrência dos serviçosque prestassem.Sentimos que houve <strong>um</strong>a reação enorme a todasas propostas que significavam <strong>um</strong>a evolução nessesentido. Isso é <strong>um</strong>a evidência, é <strong>um</strong>a comprovação <strong>de</strong>que há <strong>um</strong> percentual muito gran<strong>de</strong>, significativo, que,afinal <strong>de</strong> contas, não quer nenh<strong>um</strong> tipo <strong>de</strong> mudançaque vá dar em qualquer tipo <strong>de</strong> alteração nessa sistemática.A questão da representativida<strong>de</strong> é <strong>um</strong> tema central.Todas as virtu<strong>de</strong>s do projeto, do FNT, foram trazerà discussão essa questão. É preciso consi<strong>de</strong>rar a nossarealida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> País continental, <strong>de</strong> <strong>um</strong>a massaimensa <strong>de</strong> trabalhadores <strong>de</strong> nível cultural muito baixoe a nossa tradição <strong>de</strong> <strong>um</strong> baixíssimo espírito associativo.Tudo isso leva a <strong>um</strong>a dificulda<strong>de</strong>.Temos <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar que somos <strong>um</strong> País em que,há pouco mais <strong>de</strong> <strong>um</strong> século, houve a abolição da escravatura.Um país que, na primeira meta<strong>de</strong> do séculopassado, era basicamente agrícola e em que os trabalhadores,mesmo que nunca tivessem sido escravos,tinham <strong>um</strong>a condição <strong>de</strong> trabalho muito assemelhadaà do trabalho escravo. E aqueles, aliás, que foram libertadoscomo escravos, continuaram na condição <strong>de</strong>escravos até porque nem sequer tinham como sobreviver.Foi a partir da segunda meta<strong>de</strong> do século passadoque houve <strong>um</strong>a certa evolução no nosso Direito doTrabalho. Então, é natural, é compreensível que nãotenhamos ainda <strong>um</strong> sistema organizacional das nossasentida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> classe.Consi<strong>de</strong>ro ser fundamental, para qualquer sistemaque se adote, que a entida<strong>de</strong> sindical represente avonta<strong>de</strong> maciça dos trabalhadores, que seja capaz <strong>de</strong>negociar com aquilo que, efetivamente, seja a vonta<strong>de</strong>espontânea dos trabalhadores. Vonta<strong>de</strong> sem pressãodos empregadores e sem pressão da economia.Na realida<strong>de</strong>, o Po<strong>de</strong>r Judiciário, muitas vezes, nãoratifica certo tipo <strong>de</strong> negociação mais pela <strong>de</strong>sconfiança<strong>de</strong> que aquela cláusula represente <strong>um</strong> interessereal da classe trabalhadora. Isso causa <strong>um</strong>a dificulda<strong>de</strong>muito gran<strong>de</strong> para firmar os acordos coletivos e asconvenções coletivas.Então, cremos que essa questão da representativida<strong>de</strong>é fundamental no nosso sistema sindical, nosistema das soluções dos conflitos do trabalho, e paraa valida<strong>de</strong>, a respeitabilida<strong>de</strong> das negociações entreas partes, seja por meio <strong>de</strong> acordo, seja por meio <strong>de</strong>convenção e, talvez, até do sonhado acordo coletivoem nível nacional.A iniciativa <strong>de</strong> fazer <strong>um</strong>a PEC, <strong>um</strong> projeto <strong>de</strong> 238artigos, dificultou. É interessante. Quanto mais abrangenteé o projeto, mais temos a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tersetores cujas disposições vão atingir interesse <strong>de</strong>les.Então, se temos <strong>um</strong> projeto que trata <strong>de</strong> <strong>de</strong>z, doze,quinze temas, este tema aqui po<strong>de</strong> chocar mais <strong>de</strong>-50 <strong>Conquistas</strong> e <strong><strong>de</strong>safios</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> <strong>processo</strong> <strong>de</strong> <strong>diálogo</strong> <strong>social</strong>: Reflexões dos atores para o futuro

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