PORTUGUÊSA VISÃO DOS ATORES SOCIAIS6. A VISÃO DOS ATORES SOCIAISconseguimos, com força no <strong>diálogo</strong> ac<strong>um</strong>ulado ao longo<strong>de</strong>sse <strong>processo</strong>, fazer que o Congresso consagreessa idéia <strong>de</strong> <strong>um</strong> Conselho Tripartite <strong>de</strong> Relações doTrabalho, vamos não só institucionalizar a prática do<strong>diálogo</strong> mas também erigir <strong>um</strong> novo espaço, que talvezconsiga contornar <strong>de</strong> maneira mais efetiva a série<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> obstáculos que o Fór<strong>um</strong> Nacionaldo Trabalho enfrentou. Portanto, no meu modo <strong>de</strong>ver, a proposta que tem origem no Fór<strong>um</strong> representaa possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> institucionalização da própria experiênciado Fór<strong>um</strong>, sobre novas bases. Ela po<strong>de</strong> tornarperene o <strong>diálogo</strong> <strong>social</strong> sobre os temas das relaçõesdo trabalho e, ainda, se aprovada a idéia do conselho,esse conselho será, sem dúvida nenh<strong>um</strong>a, <strong>um</strong> fór<strong>um</strong>privilegiado para o encaminhamento da Reforma, naeventualida<strong>de</strong>, sob <strong>um</strong> novo governo, iniciado <strong>um</strong>novo mandato.Eu consi<strong>de</strong>ro que a experiência do Fór<strong>um</strong> merece<strong>um</strong>a avaliação mais aprofundada. Ela representa,sem dúvida, <strong>um</strong> inegável avanço na tentativa <strong>de</strong> sevalorizar o <strong>diálogo</strong> <strong>social</strong>, o recurso da prática da negociaçãotripartite como forma <strong>de</strong> solução <strong>de</strong> conflitos,em particular como caminho para a construção <strong>de</strong> <strong>um</strong>or<strong>de</strong>namento jurisdicional das relações do trabalho noBrasil em bases <strong>de</strong>mocráticas. Qualquer nova tentativa<strong>de</strong> tratar esse tema terá que consi<strong>de</strong>rar a experiênciado Fór<strong>um</strong> Nacional do Trabalho.A experiência do Fór<strong>um</strong> representa a oportunida<strong>de</strong><strong>de</strong> se consagrar <strong>um</strong> novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> relação entre opo<strong>de</strong>r público e os atores das relações do trabalho.Des<strong>de</strong> o primeiro momento, na idéia subjacente doFór<strong>um</strong>, estava presente a expectativa <strong>de</strong> que nós po<strong>de</strong>ríamosinstaurar, também nas esferas <strong>de</strong> relaçõesdo trabalho, <strong>um</strong> espaço <strong>de</strong> <strong>diálogo</strong> tripartite, que tivesse<strong>um</strong> caráter institucional perene. Ou seja, que nãoservisse apenas ao objetivo <strong>de</strong> conduzir <strong>um</strong>a reforma<strong>de</strong>ssa natureza, mas que pu<strong>de</strong>sse abarcar <strong>um</strong> conjunto<strong>de</strong> temas que dizem respeito às relações do trabalho.De certa forma, essa idéia já estava consubstanciadano próprio Projeto da Reforma Sindical, como a proposiçãoda criação do Conselho Nacional <strong>de</strong> Relaçõesdo Trabalho (CNRT).Outro aspecto que eu consi<strong>de</strong>ro bastante positivoé a própria proposta que se formulou. Tanto a PEC 369quanto o Anteprojeto <strong>de</strong> Lei po<strong>de</strong>m ser criticados sobvários aspectos. Mas é inegável que houve <strong>um</strong> esforçoamplo <strong>de</strong> todos os lados no sentido <strong>de</strong> vencer resistências,<strong>de</strong> superar visões corporativas e <strong>de</strong> construirnovas bases <strong>de</strong> <strong>um</strong> relacionamento. Assim, a propostado Fór<strong>um</strong> Nacional do Trabalho é a única que trata dasquestões relativas ao direito sindical em toda a suaextensão. Ela é bastante ampla e po<strong>de</strong> ser criticadaaqui e ali, mas traz, no meu modo <strong>de</strong> ver, inegáveisavanços. Qualquer <strong>de</strong>bate que se queira fazer no CongressoNacional a respeito <strong>de</strong>sses temas irá, em largamedida, consi<strong>de</strong>rar essas questões. É interessantenotar que, no <strong>de</strong>bate havido na Comissão Permanentedo Trabalho da Câmara dos Deputados, muitas daspropostas que foram apresentadas como substitutivasincorporaram inúmeras idéias surgidas no Fór<strong>um</strong> Nacionaldo Trabalho, mesmo quando essas idéias eramapresentadas como crítica.A Proposta final do Fór<strong>um</strong> não esgotou ainda apossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> influenciar o <strong>de</strong>bate futuro.O que me parece complicado em relação à experiênciado Fór<strong>um</strong>? O primeiro aspecto que <strong>de</strong>ve serconsi<strong>de</strong>rado e que, <strong>de</strong> alg<strong>um</strong>a forma, já tinha pautadoa experiência anterior à época do ministro Walter Barelli,é que <strong>um</strong> Fór<strong>um</strong> <strong>de</strong>ssa dimensão, <strong>de</strong>ssa envergadura,representa já, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, <strong>um</strong>a dificulda<strong>de</strong>para <strong>um</strong>a solução negociada, pelo fato <strong>de</strong> ter <strong>um</strong>agama muito gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> atores envolvidos na negociação.Segundo, porque da maneira como o sistema <strong>de</strong>relações do trabalho está montado, ainda que as entida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> cúpula tenham o <strong>de</strong>si<strong>de</strong>rato <strong>de</strong> negociar,esse <strong>de</strong>sejo enfrenta a resistência dos sindicatos <strong>de</strong>base, que <strong>de</strong>têm o monopólio da representação e daarrecadação e relutam em perdê-los. Isso vale tantopara os trabalhadores quanto para os empregadores.Terceiro, porque esse gran<strong>de</strong> conjunto <strong>de</strong> sindicatosexerce, direta e indiretamente, influência sobre o CongressoNacional. Muitas vezes o posicionamento dosparlamentares em relação a essa matéria não se pautapor questões doutrinárias. Os próprios parlamentares,na verda<strong>de</strong>, têm como base <strong>de</strong> apoio os sindicatos.Portanto, não é só do interesse do sindicato perpetuaressa condição atual, mas muitas vezes é <strong>de</strong> interessedo parlamentar, que tem no sindicato ou na figura dosindicalista seu cabo eleitoral. Isso é outra força queconspira contra mudanças e projetos que queiram <strong>de</strong>alg<strong>um</strong>a forma consagrar novos preceitos <strong>de</strong> organizaçãosindical e do direito do trabalho no Brasil.Outro aspecto ainda que não po<strong>de</strong> ser menosprezadoé o peso que outros atores têm nesse <strong>de</strong>bate,como as associações dos chamados operadores doDireito. Essas associações, como a ANPT (Associa-44 <strong>Conquistas</strong> e <strong><strong>de</strong>safios</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> <strong>processo</strong> <strong>de</strong> <strong>diálogo</strong> <strong>social</strong>: Reflexões dos atores para o futuro
A VISÃO DOS ATORES SOCIAISPORTUGUÊSção Nacional dos Procuradores do Trabalho), Abrat(Associação Brasileira <strong>de</strong> Advogados Trabalhistas),Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados daJustiça do Trabalho), se consi<strong>de</strong>raram excluídas do<strong>de</strong>bate, ainda que o governo tenha montado a ComissãoNacional <strong>de</strong> Direito e Relação do Trabalho 32 .Foram muito refratárias às propostas postas na mesa<strong>de</strong> mudança do sistema atual, mesmo que ao final do<strong>processo</strong> a proposta tenha se aproximado muito dasteses <strong>de</strong>fendidas por esses setores. Então, o <strong>diálogo</strong>com os chamados operadores do Direito é <strong>um</strong> aspectoque, n<strong>um</strong>a nova rodada, n<strong>um</strong> novo momento, n<strong>um</strong>novo contexto, <strong>de</strong>ve ser repensado.Outro ponto também fundamental na avaliação dizrespeito à própria priorida<strong>de</strong> conferida a esse tema.Como nós temos <strong>um</strong>a agenda bastante extensa <strong>de</strong> reformase <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s no âmbito do po<strong>de</strong>r legislativo,muitas vezes, o fato <strong>de</strong> não haver <strong>um</strong> consenso realmenteamplo a respeito <strong>de</strong>ssa matéria faz que essetema seja colocado em segundo ou terceiro plano.Assim, a idéia da reforma vai sendo in<strong>de</strong>finidamentepostergada e nunca realizada.6.3.2. Osvaldo Martinez Bargas (MTE)O FNT foi constituído para promover o <strong>diálogo</strong> entreos atores sociais e o governo com o objetivo <strong>de</strong>promover as Reformas Sindical e Trabalhista. A criaçãodo FNT foi <strong>um</strong> compromisso <strong>de</strong> campanha, assu-32 Criada pela Portaria nº 1.150, <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2003, para prestarassessoramento direto ao Ministro do Trabalho e Emprego, por meio <strong>de</strong>formulações <strong>de</strong> diretrizes fundamentadas no estímulo e <strong>de</strong>senvolvimentodo tripartismo e na <strong>de</strong>mocratização das relações <strong>de</strong> trabalho, sempreconsi<strong>de</strong>rando o necessário equilíbrio <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r entre trabalhadores e empregadorese suas respectivas representações. Composta por 34 (trintae quatro) membros, indicados em caráter institucional e sem suplentes,sendo que 20 (vinte) membros serão indicados <strong>de</strong>ntre juristas, operadoresjurídicos e especialistas em relação <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> notório saber ereconhecimento no cenário nacional e 14 (quatorze) membros serão <strong>de</strong>signadospor instituições culturais e <strong>de</strong> estudo e pesquisa <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacadaatuação, previamente arroladas pelo Ministro do Trabalho e Emprego.Os peritos representantes são: Alice Monteiro <strong>de</strong> Barros; Antonio Álvaresda Silva; Antonio Rodrigues <strong>de</strong> Freitas Jr.; Arnaldo Lopes Süssekind;Benedito Calheiros Bomfim; Cássio Mesquita Barros Jr.; Edésio FrancoPassos; Fahit Tahan Sab; José Augusto Rodrigues Pinto; José FranciscoSiqueira Neto; Luiz Carlos Amorim Robortella; Márcio Túlio Viana; MaurícioGodinho Delgado; Mauro <strong>de</strong> Azevedo Menezes; Otávio Brito Lopes;Pedro Paulo Teixeira Manus; Raimundo Simão <strong>de</strong> Mello; Roberto Araújo<strong>de</strong> Oliveira Santos; Roberto <strong>de</strong> Figueiredo Caldas, Severino AlmeidaFilho. Os representantes institucionais são: Aca<strong>de</strong>mia Nacional <strong>de</strong> Direitodo Trabalho (ANDT); Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Direito Social CesarianoJúnior (IBDS); Associação Brasileira <strong>de</strong> Recursos H<strong>um</strong>anos (ABRH);Associação Nacional <strong>de</strong> Magistrados Trabalhistas (ANAMATRA); AssociaçãoNacional dos Procuradores Do Trabalho (ANPT); Instituto dosAdvogados Brasileiros (IAB); Or<strong>de</strong>m dos Advogados do Brasil (OAB);Departamento Intersindical <strong>de</strong> Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos(DIEESE); Associação dos Magistrados do Brasil (AMB); DepartamentoIntersindical <strong>de</strong> Assessoria Parlamentar (DIAP); Associação Brasileira<strong>de</strong> Estudos do Trabalho (ABET); Consultoria Jurídica do Ministério doTrabalho (CONJUR); Associação Brasileira dos Advogados Trabalhistas(ABRAT); Instituto Nacional <strong>de</strong> Mediação e Arbitragem (INAMA).mido pelo presi<strong>de</strong>nte Lula, <strong>de</strong> criar <strong>um</strong> Fór<strong>um</strong> tripartitecom a missão <strong>de</strong> promover entendimentos entre trabalhadorese empregadores, visando à elaboração <strong>de</strong>Anteprojetos <strong>de</strong> Lei.O ponto <strong>de</strong> partida político do FNT foi a composiçãotripartite e paritária, mediante a participação <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>snacionalmente reconhecidas, não só do ponto <strong>de</strong>vista legal ou formal mas, sobretudo, do ponto <strong>de</strong> vistapolítico e <strong>social</strong>, como é o caso das Centrais Sindicais.Assim sendo, a bancada dos trabalhadores foicomposta por representantes indicados pelas centraissindicais e a bancada dos empregadores, por representantesindicados pelas confe<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> empregadores.Na composição das referidas representações, ogoverno não teve qualquer interferência.A opção pelas Reformas Sindical e Trabalhista pormeio <strong>de</strong> negociação entre governo, trabalhadores eempregadores <strong>de</strong>correu <strong>de</strong> amplo apoio dos respectivosatores sociais, manifestado à Secretaria Nacional<strong>de</strong> Relações e Trabalho do MTE em reuniões específicasque antece<strong>de</strong>ram a organização estrutural doFNT. A partir <strong>de</strong>ssas consultas é que a Coor<strong>de</strong>naçãodo FNT estabeleceu a metodologia dos trabalhos, oorganograma e o regimento interno do FNT, que foramsubmetidos à apreciação das entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalhadorese dos empregadores para oferecimento <strong>de</strong> sugestões.O FNT não funcionou como <strong>um</strong> mero espaço <strong>de</strong><strong>de</strong>bate e <strong>de</strong> troca <strong>de</strong> idéias. O Fór<strong>um</strong> se constituiucomo <strong>um</strong> espaço <strong>de</strong> negociação baseado nas pautaspreparadas pela Coor<strong>de</strong>nação Técnica. Foram criadosos Grupos Temáticos (organização sindical, negociaçãocoletiva, composição <strong>de</strong> conflito) previstos noorganograma. Cada grupo contou com a participação<strong>de</strong> cinco representantes <strong>de</strong> cada bancada e funcionoucom <strong>um</strong> mediador, <strong>um</strong> relator e <strong>um</strong>a secretária. Essesgrupos trabalharam <strong>de</strong> acordo com o cronograma <strong>de</strong>ativida<strong>de</strong>s previamente aprovado e tiveram a inc<strong>um</strong>bência<strong>de</strong> produzir consensos sobre os respectivostemas.As questões não acordadas nos grupos foram remetidaspara a Comissão <strong>de</strong> Sistematização, que <strong>de</strong>tinhaa responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ampliar os entendimentosentre as partes e consolidar sistematicamente cada<strong>um</strong> dos temas na perspectiva <strong>de</strong> <strong>um</strong> novo sistema <strong>de</strong>relações <strong>de</strong> trabalho.O ponto <strong>de</strong> partida das discussões foi <strong>um</strong> tema6. A VISÃO DOS ATORES SOCIAIS<strong>Conquistas</strong> e <strong><strong>de</strong>safios</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> <strong>processo</strong> <strong>de</strong> <strong>diálogo</strong> <strong>social</strong>: Reflexões dos atores para o futuro45