historia da riqueza do homem
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“A SEMENTE QUE SEMEAIS, OUTRO COLHE...” 197<br />
ziam parte <strong>da</strong>quela dádiva <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de, o sistema fabril. Pelo<br />
menos assim pensava Andrew Ure, que em 1835 escreveu: “Em<br />
minha recente viagem vi dezenas de milhares de velhos, jovens<br />
e adultos, de ambos os sexos, ganhan<strong>do</strong> alimento abun<strong>da</strong>nte,<br />
roupas e acomo<strong>da</strong>ções <strong>do</strong>mésticas, sem suar por um único poro,<br />
protegi<strong>do</strong>s <strong>do</strong> sol <strong>do</strong> verão e <strong>da</strong> gea<strong>da</strong> <strong>do</strong> inverno em apartamentos<br />
mais areja<strong>do</strong>s e saudáveis que os <strong>da</strong> metrópole nos<br />
quais se reúne nossa aristocracia de bom tom... ...Edifícios magníficos,<br />
superan<strong>do</strong> em número, valor, utili<strong>da</strong>de e engenhosi<strong>da</strong>de<br />
de construção os gaba<strong>do</strong>s monumentos <strong>do</strong> despotismo asiático,<br />
egípcio e romano... ...Tal é o sistema fabril.” 219<br />
Talvez seja conveniente observar que o Dr. Ure estava passean<strong>do</strong><br />
pelas fábricas — e não trabalhan<strong>do</strong> nelas.<br />
Muito antes que o Dr. Ure começasse a entoar loas ao sistema<br />
fabril, um <strong>homem</strong> <strong>da</strong> Igreja <strong>da</strong>va consolo e aju<strong>da</strong> aos pobres<br />
miseráveis. Não era um sacer<strong>do</strong>te qualquer — mas sim o<br />
próprio Arquidiácono Paley. Para os membros descontentes <strong>da</strong><br />
classe trabalha<strong>do</strong>ra que se consideravam em má situação, ao<br />
passo que os ricos viviam bem, esse ilustre clérigo teve palavras<br />
de otimismo. “Algumas <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des que a pobreza<br />
impõe não constituem durezas, mas prazeres. A frugali<strong>da</strong>de em<br />
si é um prazer. É um exercício de atenção e controle que produz<br />
contentamento. Este se perde em meio à abundância. Não<br />
há prazer em sacar de recursos imensos. Uma vantagem ain<strong>da</strong><br />
maior que possuem as pessoas em situação inferior é a facili<strong>da</strong>de<br />
com que sustentam seus filhos. Tu<strong>do</strong> de que o filho de um<br />
pobre necessita está encerra<strong>do</strong> em duas palavras, ‘indústria e<br />
inocência’.” 220<br />
E se algum <strong>do</strong>s estúpi<strong>do</strong>s pobres fosse cabeçu<strong>do</strong> demais<br />
para acreditar que a pobreza fosse realmente um prazer, o arquidiácono<br />
tinha outro argumento no bolso. Os pobres invejavam<br />
aos ricos sua ociosi<strong>da</strong>de. Que erro! Os ricos é que realmente estavam<br />
invejosos — porque a ociosi<strong>da</strong>de só constitui um prazer<br />
depois <strong>do</strong> trabalho árduo. Eis sua argumentação: “Outra coisa<br />
que o pobre inveja no rico é sua ociosi<strong>da</strong>de. Trata-se de um engano<br />
total. A ociosi<strong>da</strong>de é a cessação <strong>do</strong> trabalho. Não pode, por-<br />
219 A. Ure, The Philosophy of Manufactures (1835). Londres, 1861, p. 17.<br />
220 W. Paley, Reasons for Contentment: Addressed to the Labouring<br />
Part of the British Public, Londres, 1793, pp. 11-12.