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Bubble Gum – Lolita Pille Página 1 - CloudMe

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sujeito com a garrafa avançou na minha direção e me estendeu um copo. Ele era feio,<br />

insignificante, bem-vestido, mais bem-vestido que os outros, quanto a mim, eu tinha ainda a<br />

arma na mão. O sujeito me disse "Bon soir", e ele arranhava os "r" como um cafetão<br />

moscovita, acrescentando em seguida "Venha, eu quero mostrar uma coisa para você", e ele<br />

me segurou pela cintura, a multidão se abriu para nos dar passagem e entramos na suíte<br />

defronte.<br />

A entrada era igualzinha àquela que eu costumava atravessar toda noite naquela época<br />

distante em que vivia com Derek, com o grande espelho em cima da cômoda onde jogava com<br />

violência a minha bolsa, uma vez que, naquela época, eu tinha sempre uma razão ruim para<br />

ser violenta, e foi no espelho que vi o Derek.<br />

Achei que fosse morrer de susto, eu me virei e dei alguns passos na direção dele. Não era<br />

Derek, é claro. Derek esfriava tranquilamente a duas ou três paredes dali, e não voltaria mais,<br />

a não ser para me assombrar em meus pesadelos. Não, aquilo era a sua efígie de papelão,<br />

tamanho natural, num terno preto, com aquele ar babaca que ele assumia sempre que queria<br />

cortar secamente uma conversa que o incomodava. Derek de pé, um charuto de papelão na<br />

sua boca de papelão, e, atrás da ampliação, fechando as janelas, enchendo a sala, havia cerca<br />

de trinta, talvez cinquenta Dereks, cinquenta Dereks congelados. Derek de capa de chuna, mal<br />

barbeado num café vagabundo, o rosto alterado, segurando seu copo de conhaque com dois<br />

dedos, como se estivesse em não sei que clube. Derek, ao que parece, na Market, cercado de<br />

piranhas, acendendo um charuto com uma nota de quinhentos, Derek diante da tela de<br />

plasma assistindo a O matador com as legendas dos surdos-mudos em cantonês, cafungando<br />

um pouco de pó sem muita convicção. E eu também apareço com a imagem congelada.<br />

Morena e estática, com aquele maldito vestido vermelho que eu preciso jogar na fogueira um<br />

desses dias, na avant-première de Superstars, estou congelada beijando Derek, estou<br />

congelada transando com Derek, estou congelada tirando a maquiagem, estou congelada me<br />

bronzeando no barco com o meu maiô Pucci, estou congelada andando na Madison, com<br />

Mirko nos meus calcanhares carregando minhas compras, estou congelada declamando A<br />

gaivota com, no nano de fundo, aquele canalha de Karénine II gozando, ainda por cima, com a<br />

minha cara, estou congelada dormindo, estou chorando congelada.<br />

Tinha cinquenta porras de telas de televisão naquela sala, e uma tonelada de guimbas de<br />

cigarro apagadas em copinhos com café frio, sanduíches comidos pela metade largados nas<br />

poltronas, e um delirante painel de controle informatizado.<br />

E, sem saber de onde veio, escutei minha voz berrar: "E agora morra!" e as três detonações<br />

sucessivas. E na quinquagésima tela, a única que estava funcionando, assisti a Derek agonizar,<br />

com seus óculos escuros e o anúncio "FIM", e eu murmurei:. "Parem com isso".<br />

E o sujeito no painel de controle se virou dizendo: "Ah, não, ela não!" e eu reconheci Mirko.<br />

E a garota no painel de controle se virou dizendo: "Stanislas, você não vai me apresentar?"<br />

E eu reconheci a morena de óculos que me descolou uma garrafa inteira de champanhe à<br />

socapa no avião para Nova York.<br />

E eu vi, numa das telas, Derek no escuro, sentado no seu piano, débil e prostrado, com uma<br />

foto minha no lugar da partitura.<br />

20 Derek, o bilionário<br />

MANON - Era um projeto gigantesco. Stanislas Vojnikodjakovic, o produtor, teve a<br />

ideia há quase dez anos quando ainda estava na universidade, no mesmo departamento<br />

que Derek. Os dois se conheciam desde pequenos e tinham sido muito próximos. As<br />

razões pelas quais eles se afastaram? Stanislas preferiu não as revelar para mim.<br />

No final dos anos 90, com o surgimento do fenômeno da tevê-realidade, Stanislas, que<br />

trabalhava, na época, num banco de negócios nova-iorquino especializado na<br />

especulação na área das mídias e entretenimento, apresentou sem muita esperança seu<br />

<strong>Bubble</strong> <strong>Gum</strong> <strong>–</strong> <strong>Lolita</strong> <strong>Pille</strong> <strong>Página</strong> 105

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