Bubble Gum – Lolita Pille Página 1 - CloudMe
Bubble Gum – Lolita Pille Página 1 - CloudMe
Bubble Gum – Lolita Pille Página 1 - CloudMe
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
sem suspeitar por um segundo que eu acabara de decidir seu fim. E neste exato momento<br />
deixei de me enfadar.<br />
5 Avant-première<br />
MANON - Sissi transava com todo mundo. Isso não era nenhum problema para mim; o<br />
problema era dela. Eu não a julgava. Eu não a desprezava. Na verdade, era quase o inverso.<br />
Viver sozinha — e, quando digo viver sozinha, não quero apenas dizer que moro sozinha, eu<br />
quero dizer de manhã à noite, de segunda a domingo, e seja qual for o número de pessoas que<br />
se encontram no mesmo cômodo que eu, mesmo que me olhem, que falem comigo, o que<br />
quer que me digam, estava só desde que vim ao mundo.<br />
Por isso, eu também gostaria de transar.<br />
Não invejava nem um pouco a Sissi, simplesmente me ressentia por ela, essa espécie de<br />
respeito que pode nos inspirar a fazer coisas além dos nossos meios. Entregar-se assim, logo<br />
em seguida, a qualquer um, não importa quando, e sem razão alguma. Que consideração tinha<br />
ela por si mesma ao se imolar desse jeito? Ficava me perguntando o que é que dava na cabeça<br />
dela. Eu esperava que fosse apenas ingenuidade, que ela achasse a cada vez que este era o<br />
último, o único: "o homem da vida dela", será que, a cada mão que passavam no traseiro dela,<br />
ela se via casada? Ou ela havia chegado àquele ponto sem volta da desilusão sentimental, em<br />
que não se acredita em mais nada, quando não se quer mais nada: o questionável prazer de<br />
aguentar golpes egoístas dando no couro num quarto desconhecido no qual a gente nunca<br />
mais vai pôr os pés.<br />
Infelizmente, acho que não acontecia grande coisa na cabeça dela. Sissi era uma imbecil. A<br />
gente perguntava que horas são? Ela dizia as horas. Um café? Ela trazia um café. Quinhentos<br />
paus? Ela emprestava na hora o dinheiro. Uma foda? Bastava pedir.<br />
Às vezes, no Trying, durante o meu turno, mesas inteiras se contorciam às gargalhadas<br />
mostrando o dedo para ela. Ela não se dava conta. Ela servia as bebidas, trocava os cinzeiros,<br />
limpava a mesa, ria com eles, obrigado, até logo. Eu perguntava se ela conhecia essa gente:<br />
"amigos". E era tudo. Quem quer que transasse com ela virava "um amigo".<br />
E ela tinha um montão de amigos.<br />
Ia desde o cozinheiro do Trying até alguns dos figurões venerados pelo Nojento, que<br />
aterrissavam sempre com bandos de quinze, monopolizavam o restaurante e pagavam<br />
sozinhos, sem pestanejar, os mil e quinhentos euros da conta, sem que seus convidados<br />
também dessem a mínima, como se fosse normal. Sissi era a encarregada deles, ela aguentava<br />
as gozações escabrosas, ela aguentava os sarros no traseiro e os olhares condescendentes das<br />
mulheres, e em seguida metia a gorjeta no bolso. Uma puta gorjeta.<br />
O Nojento também tirou a sua casquinha, é claro. 0 sommelier. O manobrista. E todos os<br />
habitués. E, cada vez que uma figura conhecida tinha o azar de passar no pedaço, vocês podem<br />
estar seguros de que ela não descansaria até descolar um encontro. E esses "encontros" eram<br />
como os "amigos" dela. Ela tinha encontros às duas horas, às três, às quatro da matina, depois<br />
de noitadas para as quais não era convidada, depois de deixar a namoradinha oficial em casa.<br />
Na casa deles, na casa dela, nos bares de hotel, nos quartos do hotel, nas esquinas, nas boates,<br />
nas casas do striptease, nas casas de suruba. E ela ia. E chegava atrasada no dia seguinte no<br />
trabalho e, é claro, o Nojento não fazia nada. Ela chegava dolorida, com olheiras, cheia de si, e<br />
me dizia que foi ótimo, e isso era só o que dizia. Quanto ao "amigo", a gente nunca mais o via.<br />
Na mesma noite, ela passava para o próximo.<br />
Ela sabia tirar partido de sua pequena virtude. Dos "bacanas" com quem transava, só<br />
conseguia um sentimento muito ilusório de superioridade, quando estávamos presas num<br />
engarrafamento, por exemplo, ela buzinava com violência, completamente transtornada de<br />
que não abrissem caminho para alguém que se impregnara de um filhinho de papai na<br />
véspera. Ela nunca ficava tão feliz como nas segundas de manhã, quando um dos boys nos<br />
trazia os jornais de fofoca com escândalos. Conseguia de imediato uma folga, me arrastava<br />
<strong>Bubble</strong> <strong>Gum</strong> <strong>–</strong> <strong>Lolita</strong> <strong>Pille</strong> <strong>Página</strong> 23