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Bubble Gum – Lolita Pille Página 1 - CloudMe

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de qualquer forma o mesmo destino. E, depois de uma certa hora, Robert era pura amargura e<br />

revolta contra esta derrota cuja culpa não era dele, uma vez que tinha de aturar, ainda por<br />

cima, o ressentimento do próprio irmão,aspirante a cineasta, de quem se esperava uma obraprima,<br />

e que vegetava enquanto isso: o último cheque que recebeu fora assinado por uma<br />

cadeia de restaurantes de beira de estrada para qual havia realizado o filme institucional.<br />

Tinha também o Lucas, que acumulava as funções de cronista social de um jornal falido,<br />

redator de meio expediente de projetos para a televisão, que raramente passavam para a fase<br />

de realização, e amigo das estrelas. Tinha a Claire, uma sobrevivente de sitcoms, ex-musa dos<br />

adolescentes, que nunca se recuperou da sua capa na Ok Podium e de sua aparição em Jet-Set,<br />

Claire e seu status privilegiado, uma vez que era a única entre nós a ser reconhecida de vez em<br />

quando na rua. Sua melhor amiga era: "Bérénice, boa noite, cantora", ela cantava com a língua<br />

presa, atacava os castings de tevê-realidade, transou com a totalidade do time do France e<br />

dublava as Models, e enfim Nicolas, que lambuzava estômagos num fundo colorido e chamava<br />

a isso de arte, e ainda havia outros, cujos rostos, os prenomes e os fracassos eu confundia,<br />

garotas e rapazes de beleza ordinária, já cansados, com físicos banais, prenomes banais,<br />

destinos banais. Sua melhor amiga era: "Bérénice, boa noite, cantora", ela cantava com a<br />

língua presa, atacava os castings de tevê-realidade, transou com a totalidade do time do<br />

France e dublava as Models, e enfim Nicolas, que lambuzava estômagos num fundo colorido e<br />

chamava a isso de arte, e ainda havia outros, cujos rostos, os prenomes e os fracassos eu<br />

confundia, garotas e rapazes de beleza ordinária, já cansados, com físicos banais, prenomes<br />

banais, destinos banais.<br />

Éramos desabridos e alcoólatras, mesquinhos e patéticos. Nem sequer artistas malditos nós<br />

éramos, a gente não era artista. Tentamos corromper a arte em nosso benefício: a gente<br />

queria a glória e a grana. A gente não vira uma estrela com más intenções. A gente não tinha<br />

idéias para defender, nem ideais, nem paixão, nem talento, nem sequer uma alma. Na<br />

verdade, isso era justo, era bem-feito. Nós éramos arrivistas malditos. Não nos<br />

incomodaríamos nem um pouco de fazer uma merda, contanto que puxem o nosso saco e que<br />

uma multidão em delírio berre os nossos nomes famosos na frente das casas de show.<br />

Teríamos respondido as babaquices consensuais dos jornalistas, teríamos nos prostituído na<br />

televisão, e ainda por cima dizendo obrigado, teríamos mandado para a puta que os pariu os<br />

paparazzi, visto que não precisaríamos deles, teríamos contribuído para causas humanitárias<br />

perdidas para que falem bem a nosso respeito, tomado roupas emprestadas aos grandes<br />

costureiros, teríamos viajado, representado a França no estrangeiro, teríamos processado<br />

Voici disfarçando nossa cupidez ao fingir que era em defesa de nossa vida privada, teríamos<br />

esvaziado os open bars e limpado as noites de lançamento, emitiríamos opiniões políticamente<br />

corretas, iríamos, em princípio, nos esconder, no inverno, em Saint-Barth e, no verão, na<br />

Córsega, faríamos palestras nos colégios sublinhando bem que nem todos podem ser iguais à<br />

gente, ficaríamos name-dropping até morrer, iríamos fingir que não éramos cê-dê-efes e que<br />

éramos iguais aos outros, não iríamos pensar uma única palavra, acabaríamos morando no<br />

XVIème em Paris, já que Los Angeles não quer saber da gente, iríamos envelhecer mal, e<br />

iríamos negar nossas operações plásticas, teríamos nos casado com um colega, teríamos nos<br />

divorciado, teríamos uma crise no horário nobre pedindo que parem com toda essa<br />

publicidade, teríamos talvez atravessado o deserto e fingiríamos que faz bem se afastar assim<br />

deste mundo sujo e podre do show business teríamos nos prostituído no primeiro telefonema,<br />

casaríamos de novo com outros colegas, negaríamos as novas operações plásticas, teríamos<br />

filhos que claudicariam atrás dos nossos passos prestigiosos e nos fariam responsáveis por<br />

seus fracassos: "muita pressão", diriam, e ainda por cima para a imprensa, seríamos ricos até<br />

dizer chega, sorriríamos amarelo para os programas de televisão quando mostrarem nossos<br />

filmes da juventude, iríamos acabar falecendo de exaustão, e toda Paris iria se dar cotoveladas<br />

nos nossos funerais cobertos por Paris-Match, e Paris-Match nos dedicaria uma ou duas, ou<br />

talvez várias capas, que iriam esgotar, ou talvez apenas uma página dupla com fotos em pretoe-branco<br />

e os depoimentos chorosos dos íntimos em prantos, ou talvez, e era isso que corria o<br />

<strong>Bubble</strong> <strong>Gum</strong> <strong>–</strong> <strong>Lolita</strong> <strong>Pille</strong> <strong>Página</strong> 83

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