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Bubble Gum – Lolita Pille Página 1 - CloudMe

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digito o segredo pensando que vou encontrar uma carta de Derek lá dentro, talvez um bilhete<br />

de adeus, de suicídio, ou simplesmente uma explicação: "Eu peguei você direitinho, venha se<br />

encontrar comigo no Península em Hong-Kong, tem um carro esperando você na frente do<br />

hotel, aqui tem dinheiro para as gorjetas, vista alguma coisa, as noites são frias nos aviões",<br />

mas não preciso esperar muito tempo, bastou uns vinte segundos, o tempo de digitar três<br />

vezes a seqüência da combinação do cofre, e me dou conta, no momento em que continua<br />

bloqueado, de que se não abre é simplesmente porque não tenho a combinação certa e, ao<br />

lançar um último olhar ao quarto deserto, à cara constrangida do empregado, a este cofre<br />

trancado, tenho uma vertigem, como se um precipício acabasse de se abrir debaixo dos meus<br />

pés nus, neste quarto do Ritz que, ao que tudo indica, não é a minha suíte, que talvez nunca<br />

tenha sido.<br />

— Mademoiselle, a senhora precisa sair agora, aqui... aqui está sua roupa.<br />

Minha vista se embaça como numa crise de hipoglicemia,<br />

e seguro sem ver o pedaço de seda vermelha que ele me estende,<br />

esfrego os olhos e levo o negócio até a luz. À primeira vista, é um vestido de qualidade e corte<br />

duvidosos, talvez um Umgaro, um antigo modelo Ungaro, tão fora de moda que Michelle<br />

Pfeiffer poderia muito bem ter vestido em Scarface, só que, é isso, Scarface é do início dos<br />

anos 80.<br />

— E tem uma botas junto...<br />

Eu não consigo sequer dar uma olhadela nas botas, não aguento mais.<br />

— Mademoiselle, não chore, nós vamos fazer de tudo para ajudar a senhora...<br />

Eu choro.<br />

— Ernest, você... o senhor não espera mesmo assim que... eu vista isto?<br />

— A senhora precisa descer, mademoiselle, e tudo o que pertence à senhora aqui é este<br />

vestido, estas botas e este chaveiro.<br />

— Eu prefiro, se você não se importa, descer de roupão. Hein? Eu prefiro sair na rua de<br />

roupão, eu prefiro sair à cata de Derek pelada na rua, do que vestir essa coisa velha. O que é<br />

que os meus fãs vão dizer, hein? Você não pode fazer isso comigo. Devolva as minhas roupas,<br />

minhas jóias, meu relógio, meus cremes La Prairie. Faça este cofre funcionar de novo. Me<br />

deixe ligar para o Derek. Eu não sei por que ele está fazendo isso comigo. Eu não fiz nada de<br />

mau. É verdade que andei um pouco estafada ultimamente, mas vou ficar melhor, vou voltar a<br />

ser boazinha, logo que esta pressão diminuir um pouco... nós vamos partir para a Côte, para<br />

descansar. Isso vai nos fazer bem, descansar um pouco. Nós temos uma casa muito linda lá, o<br />

senhor deveria vir conosco descansar, o senhor e a sua família. O senhor é gentil. O senhor não<br />

é o responsável por isso. Foi o Derek. Tudo é culpa do Derek. Vamos descancar na Côte, tem<br />

uma bela piscina e uma vista belíssima. Vamos andar do barco. O senhor já entrou num Riva?<br />

O senhor vai ver, é muito bonito, muito confortável. Tudo é muito bonito. Nós temos uma vida<br />

de sonho, o senhor vai ver. A gente pode ir para lá esta tarde, hein?<br />

Tem um vôo de hora em hora. Fica só a uma horinha daqui. Quem sabe vamos no jatinho dele,<br />

se avisarmos agora. Deixe eu só tomar uma chuveirada e me arrumar, fazer minhas malas...<br />

— Ponha isto, mademoiselle, já é uma hora.<br />

E se tudo isso...<br />

— Queira se virar, Ernest, por favor.<br />

Ele se vira e eu enfio o vestido e as botas. Depois eu o sigo — a sensação de caminhar para o<br />

patíbulo —, um gosto metálico na boca, e sinto algo dentro da minha bota direita e, no<br />

momento em que a porta da suíte se fecha, eu deslizo minha mão lá dentro e pesco uma nota<br />

de quinhentos euros — sou capaz de reconhecê-la pelo tato, com Derek, a gente brincava de<br />

"quanto tem na minha mão", os olhos vendados — eu tiro um maço da minha bota, tem vinte<br />

notas: dez mil euros. Derek, de novo. E então me lembro deste vestido, foi a Sissi que me<br />

emprestou, Pavillon des Champs, Superstars, a inveja de Sissi, aquela avant-première onde<br />

estava todo mundo, onde estava Derek, onde tudo começou. Eu usava este vestido e tinha<br />

aquele cara com Leonardo que me chamou de Lady in Red, e fez com que eu bebesse até<br />

<strong>Bubble</strong> <strong>Gum</strong> <strong>–</strong> <strong>Lolita</strong> <strong>Pille</strong> <strong>Página</strong> 73

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